sábado, 29 de abril de 2017

GEDDEL ENCRENCADO

Da ISTOÉ
Era fim de tarde da sexta-feira 25, em Brasília, quando o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), tomou o elevador com destino ao térreo e se dirigiu para a saída de um edifício na L2 Sul, na capital. Acabava de prestar depoimento à Procuradoria da República no Distrito Federal. A vida não anda nada fácil para Geddel desde que deixou o governo, ao se envolver no escândalo do pedido de liberação de obra de um prédio em Salvador, o La Vue, onde possui um apartamento de luxo em construção. Agora, o ex-ministro virou alvo de um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) aberto pelo Ministério Público. Os procuradores suspeitam que ele praticou crime de advocacia administrativa e ato de improbidade. Se, ao fim da apuração, ele for denunciado e condenado, o peemedebista encontrará dificuldades para regressar à cena política. Ficará proibido de ocupar cargos públicos, de se candidatar a cargos eletivos, e de contratar ou obter benefícios fiscais com o Estado. Ao deixar a sede da Procuradoria, Geddel disse à ISTOÉ que ele mesmo se ofereceu para depor. “Não tenho nada, absolutamente nada, a declarar. Até porque, estive aí espontaneamente, conforme declaração do MPF em meu poder.  Simplesmente falei toda a verdade sobre o caso do apartamento”, disse Geddel, sem fornecer mais detalhes.
Investigadores ouvidos pela revista disseram, no entanto, que a situação do ex-ministro é grave. Para eles, Geddel se valeu do cargo de ministro para pressionar o então colega, o ministro da Cultura Marcelo Calero, a liberar a obra no La Vue, na orla de Salvador. Acontece que o próprio Geddel tinha um apartamento de luxo no 23º andar do prédio. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado à Cultura, não autorizava que a edificação tivesse mais que 13 andares. Ou seja, por essa lógica, Geddel e vários proprietários ficariam sem seu imóvel, a despeito do investimento. Calero denunciou a pressão à Polícia Federal, e dedicou-se a gravar as conversas com seus interlocutores, fato que causou umas das mais graves crises no governo peemedebista até agora. Geddel admite que pediu, “duas ou três vezes”, para o colega “acompanhar” o caso, mas nega quaisquer pressão. No depoimento ao Ministério Público, o ex-ministro disse que não agiu movido por interesses particulares, mas de todo um grupo de moradores de Salvador. A Procuradoria avalia se ouvirá de novo Calero para esclarecer quem seriam os interlocutores gravados por ele nas fitas em poder da Polícia Federal.
Ação legítima?
Para Geddel, nada disso era problema e nem gerava constrangimento ético. “Não me constrange porque eu não pedi nenhuma imoralidade”, afirmou ele em 19 de novembro, quando ainda não tinha deixado o cargo. Debaixo de pressão, em 25 de novembro, ele deixou o cargo. “Fiz minha mais profunda reflexão e, fruto dela, apresenta aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho exercendo”, afirmou Geddel em carta ao “fraterno amigo presidente Michel Temer”. “Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso.” O ex-ministro e ex-vice-presidente da Caixa ainda é alvo de investigações derivadas das delações da Odebrecht e da Operação Cui Bono, que apura suas relações com lobistas em busca de financiamentos para empresários e com o ex-deputado preso Eduardo Cunha. Nem quando foi às compras, Geddel esteve tão atribulado.
A cronologia do caso
A denúncia
18 de novembro de 2016. O então ministro da Cultura Marcelo Calero denunciou Geddel por pressioná-lo a aprovar a liberação da obra do prédio La Vue, em que ele tinha um imóvel de luxo na planta, avaliado em R$ 3,4 milhões
As explicações
19 de novembro de 2016. Geddel diz que não fez nada de errado ou antiético e que só pediu, “duas ou três vezes”, para Calero “acompanhar” o caso
A queda
25 de novembro de 2016. Aumentam as pressões contra o então ministro e Geddel deixa o cargo. Ele ainda perde o foro privilegiado no STF
A abertura de investigação
Fevereiro de 2017. A Procuradoria da República no Distrito Federal abre Procedimento Investigatório Criminal (PIC)
Irregularidades em apuração
• Ato de improbidade administrativa. Punição prevista: perda do cargo, suspensão de direitos políticos por até dez anos • Crime de advocacia administrativa. Punição prevista: prisão de um a três meses ou multa
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