Com receio da aprovação de flexibilizações nas reformas
governistas, o presidente Michel Temer iniciou uma reaproximação com o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL) para evitar que sua insatisfação com a gestão federal
contamine a base aliada.
Renan, por sua vez, voltou a criticar o governo em uma longa
entrevista nesta terça-feira (4).
O presidente escalou senadores mais próximos ao líder do
PMDB, como Romero Jucá (PMDB-RR) e Aécio Neves (PSDB-MG), para retomar a
interlocução com o peemedebista e evitar o aumento da tensão na relação entre
ambos.
A intenção de Temer é passar o recado a Renan de que as
"portas estão sempre abertas" caso ele queira discutir as medidas
governistas, entre elas a reforma previdenciária, que tem sido criticada
publicamente pelo senador.
Em um primeiro momento, a ideia é aguardar uma reação do
peemedebista. Caso não ocorra, o intuito é monitorar os passos do senador até
maio, quando o governo acredita que as mudanças na aposentadoria serão enviadas
ao Senado. A partir de então, a intenção do Planalto é aumentar a ofensiva com
a realização de um encontro entre Temer e Renan.
A reaproximação tem como objetivo evitar um racha na bancada
peemedebista, que tem manifestado opiniões divergentes sobre as medidas
governistas, e impedir que o Renan influencie senadores governistas que
disputarão a eleição do próximo ano e, por isso, estão preocupados com o
impacto das medidas em suas bases eleitorais.
Ainda com essa intenção, o presidente pretende promover
reuniões neste mês com os demais senadores da bancada peemedebista para impedir
um movimento de distanciamento do Palácio do Planalto.
Em conversas reservadas, Temer tem lembrado que não é a
primeira vez que Renan se indispõe com ele e que o movimento tem relação com o
processo eleitoral de 2018, já que que o cenário eleitoral em Alagoas não é
favorável ao peemedebista.
Em nome de um acordo entre ambos, o presidente decidiu
protelar a recriação do Ministério dos Portos, que deverá ser recriado para
contemplar a bancada peemedebista no Senado.
CRÍTICAS
Apesar do reaproximação ensaiada pelo Planalto, Renan
manteve a posição de ataque ao governo.
"O PMDB vai cumprir seu papel, [com] encaminhamentos,
políticas públicas? Ou não vai? Vai ter que patrocinar as reformas vindas do
Planalto sem discutir? São essas perguntas que tem que responder. Se continuar
assim, vai cair governo para um lado e PMDB para o outro. Isso interessa a
quem? É uma questão política, não é uma questão de diferença pessoal",
afirmou Renan.
Renan negou que suas críticas sejam motivadas pelo espaço
perdido por Renan ao deixar a presidência do Senado ou pelas pesquisas
eleitorais que indicam dificuldade para que o peemedebista se reeleja senador
por Alagoas em 2018.
O líder do PMDB no Senado se esquivou de responder sobre sua
reaproximação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de admitir
"convergência de discurso".
Ele também disse ter "diferenças com a condução do
governo", que, para ele, "está errando ao aumentar imposto, ao
reonerar folha de pessoal".
"É a divergência em relação à economia. Não dá para
diminuir a inflação agravando a recessão. Isso aí é uma brutalidade contra os
mais pobres", afirmou Renan, ampliando suas críticas ao ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles.
"[Meirelles] criou a expectativa de que a economia ia
voltar à normalidade, íamos ter investimentos, o Estado ia fazer seu
papel", disse antes de emendar uma metáfora futebolística.
"O Brasil está cobrando que o governo funcione, reclama
que o governo está mal escalado, jogando para trás. O governo como está parece
a seleção do Dunga, queremos a seleção do Tite para dar orientação ao
país."
Questionado se a solução seria mudar o time ou o técnico,
emendou: "Acho que não precisa mudar nem o técnico nem o time. É
aproveitar melhor os que estão aí."
Renan vai receber senadores e ministros do PMDB em um jantar
na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) na noite desta terça-feira em uma
tentativa de angariar apoio e sair do isolamento no embate que trava com o
Palácio do Planalto.
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