Do G1
O corpo do jornalista Jorge Bastos Moreno, que morreu no
início da madrugada desta quarta-feira (14), foi velado nesta tarde no
Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Amigos do
jornalismo, do meio artístico e personalidades de Brasília foram se despedir de
Moreno.
Moreno, colunista do jornal "O Globo", 63 anos,
morreu de edema agudo de pulmão decorrente de complicações cardiovasculares,
conforme informou "O Globo". A família decidiu que o corpo dele será
sepultado nesta quinta-feira (15) em Cuiabá, sua cidade natal.
Personalidades como Mariana Ximenes, Zeca Pagodinho e o
governador Luiz Fernando Pezão enviaram para o local coroas de flores. O
apresentador Pedro Bial falou sobre a falta que o jornalista fará no cenário
nacional.
“Moreno incorporava a capacidade de transitar por vários
meios, principalmente políticos, sem fazer guerra disso. Elevou o colunismo
político à categoria de arte mesmo, com seu bom humor que não poupava ninguém,
nem a si mesmo. No Brasil de hoje vai fazer uma falta enorme. À mesa do Moreno
se sentavam pessoas de todos os matizes políticos, para conversar, trocar
ideias, não para brigar”.
O diretor de redação do jornal "O Globo", Ascanio
Seleme, foi um dos primeiros a chegar ao cemitério São João Batista.
"Depois que Moreno deixou Brasília, nunca mais houve aquelas reuniões com
gente de todo o espectro político. Ele estava muito empolgado com a cobertura
atual, o furo que o Lauro Jardim deu o entusiasmou demais. Ele tinha essa
generosidade, de vibrar com o trabalho de colegas", afirmou.
"A perda é imensa, porque o Moreno era o melhor
jornalista de sua geração. Ele sabia fazer o melhor jornalismo, antecipar
informações relevantes, cativar a fonte e fazer amigos no trabalho. Inspirou as
gerações que vieram depois dele e motivou os colegas de seu tempo. Fora que
como pessoa era uma figura querida, inigualável", disse Ali Kamel, diretor
geral de jornalismo da TV Globo, que também compareceu ao velório.
"É uma perda inestimável para o jornalismo e para o
Grupo Globo. Moreno tinha grande sensibilidade e muita intuição no exercício do
jornalismo. Fora que, pessoalmente, era uma figura querida, que conseguia unir
as mais variadas tribos. Fará muita falta", acrescentou João Roberto
Marinho, presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo.
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes,
conterrâneo de Moreno foi se despedir do amigo.
"Éramos amigos desde 1973, sempre nos encontrando em
Brasília. Ainda ontem falei com ele. Sabia lidar com todo mundo. Para o
jornalismo é uma perda irreparável, por essa capacidade de reunir todo tipo de
pessoa, sem brigas. A morte dele abre uma chance para a reflexão no país."
O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia lembrou do
primeiro contato com o jornalista.
"Em meu primeiro mandato de deputado federal fui
aconselhado por meu pai, Cesar, a procurar um jornalista que sabia tudo da
política. E era o Moreno, a quem procurei e com quem muito aprendi. Tive o
privilégio de me tornar seu amigo e só guardarei ótimas lembranças dele".
O governador Luiz Fernando Pezão lembrou da amizade que
Moreno tinha com ele e com a primeira-dama do estado Maria Lúcia Horta Jardim:
"O Brasil perde o maior jornalista do país, e eu e
Maria Lúcia perdemos um grande amigo. Nós nos falávamos duas, três vezes por
dia. Sempre ouvi as críticas, mas também palavras amigas. Vou me lembrar sempre
dos encontros regados a boa comida e boa conversa".
Padre Jorjão foi outro que esteve no São João Batista para
se despedir de Moreno. Ele e o jornalista eram amigos há mais de vinte anos:
"Ele era um homem acima do jornalismo, porque era um agregador. Tinha a
capacidade de reunir os mais diferentes tipos de pessoas".
"Fora o jornalista que ele era, ele vinha fazendo um
grande trabalho pelo Rio de Janeiro. Na casa dele as pessoas se encontravam e
conversavam, uma vocação da cidade que andava meio perdida e que ele vinha
recuperando, aquela coisa de você saber das coisas de maneira informal",
observou a atriz Fernanda Torres.
Um dos mais respeitados repórteres de política do Brasil,
Moreno nasceu em Cuiabá (MT) e foi morar em Brasília na década de 1970. Há 10
anos vivia no Rio.
Moreno tinha mais de 40 anos de carreira. Trabalhou no
jornal "O Globo" por cerca de 35 anos, onde chegou a dirigir a
sucursal de Brasília. Nas redes sociais, amigos e políticos lamentaram a morte
do jornalista.
Furos de reportagens
O primeiro grande furo de reportagem de Moreno foi no
“Jornal de Brasília”: a nomeação do general João Figueiredo como sucessor do
general Ernesto Geisel (veja abaixo).
Durante o impeachment do presidente Fernando Collor, em
1992, quando a própria CPI do PC Farias procurava uma prova cabal que ligasse o
presidente aos cheques de “fantasmas” que vinham do esquema PC, foi Moreno que
revelou que um Fiat Elba de propriedade do presidente tinha sido comprado pelo
“fantasma” José Carlos Bonfim. Uma informação que ainda não era do conhecimento
nem do relator da CPI, deputado Benito Gama, nem de seu presidente Amir Lando.
A manchete de "O Globo" selava o destino do presidente (veja abaixo).
Prêmio Esso
Moreno venceu o Prêmio Esso de Informação Econômica de 1999
com a notícia da queda do então presidente do Banco Central Gustavo Franco e a
consequente desvalorização do real (veja capas abaixo). O prêmio é um dos mais
importantes no jornalismo brasileiro.
No fim da década de 1990, estreou sua coluna de sábado no
jornal. Publicada até o último sábado (10), o espaço passou há alguns anos a
ter o nome do próprio Moreno. Leia aqui a última coluna do Moreno.
Desde 10 de março, comandava o talk show "Moreno no
Rádio", na CBN, às sextas-feiras à tarde. Era também o âncora do programa "Preto
no Branco", do Canal Brasil, e fazia participações frequentes na
GloboNews.
Também em março, lançou o livro “Ascensão e queda de Dilma
Rousseff”. É autor de "A história de Mora – a saga de Ulysses
Guimarães", lançado em 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário