O governador do Paraná, Beto Richa, do PSDB, andava
esquecido em meio a tantas denúncias de corrupção Brasil afora. Não mais. O
empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor, preso durante a
Operação Quadro Negro, que investiga o desvio de mais de 22 milhões de reais na
construção de escolas no estado, fechou acordo de delação premiada, à espera
apenas da homologação pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.
Souza acusa Richa de ser o principal favorecido no esquema
de propina que teria abastecido sua campanha à reeleição em 2014. O empreiteiro
citou ainda o atual chefe da Casa Civil do governo estadual, Valdir Rossoni, e
o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), ambos
correligionários do governador.
Segundo o delator, a negociação para fraudar o Erário era
conduzida por Mauricio Fanini, à epoca diretor da Superintendência de
Desenvolvimento Educacional, amigo pessoal e homem de confiança de Richa. Para
demonstrar intimidade com o governador, Fanini citava viagens em companhia do
tucano (fotos a respeito foram anexadas ao inquérito decorrente da Quadro
Negro).
O dinheiro, aponta o empreiteiro, era entregue a Fanini na
sede da superintendência. Os primeiros valores chegaram em mochilas. O
empresário conta que entrava por uma porta lateral do prédio e deixava a
quantia no banheiro da sala do diretor, “ao lado do vaso sanitário”.
A partir de outro momento, para aumentar a segurança, os
valores eram guardados e entregues em caixas de vinho. Os repasses foram
efetuados entre abril e setembro de 2014. Fanini era responsável pela
elaboração dos relatórios falsos sobre as obras contratadas pela Valor e não
realizadas. O plano era arrecadar 32 milhões de reais para a campanha de Richa.
Souza vencia as licitações com ofertas 20% abaixo dos preços
médios praticados pelo mercado. Mais tarde, os contratos eram reajustados. A
Construtora Valor conseguiu sete aditivos que somaram mais de 6 milhões de
reais. De acordo com um empresário do setor, era impossível competir com os
preços apresentados pela empreiteira. “Não havia lógica. Em alguns casos,
chegava a 25% menos”, afirmou.
O delator afirmou ainda que, em janeiro de 2015, Fanini o
chamou para repassar um recado de Richa: seria necessário repassar mais
dinheiro para o esquema. O tucano pretendia montar um fundo de campanha para sua
almejada candidatura ao Senado em 2018.
Os recursos também seriam usados nas campanhas a deputado
federal de seu irmão, Pepe Richa, e a deputado estadual do filho Marcelo. Ainda
segundo Souza, a Valor pagou um “mensalão” no valor de 100 mil reais até junho,
quando o escândalo veio à tona e Fanini foi demitido.
Além de Richa, Traiano, presidente da Assembleia Legislativa
do Paraná, teria recebido 300 mil reais por meio de caixa 2, em três parcelas
de 100 mil. Duas delas teriam sido levadas em malas até o gabinete do deputado.
A outra teria sido entregue em sua residência. Em uma das entregas, detalha
Souza, havia uma quantia a mais. Ao perceber a diferença, o deputado quis saber
se o empreiteiro não poderia aumentar o valor do repasse. Resposta: a diferença
“estava prometida para a campanha do governador”.
O repasse a Rossoni somaria 460 mil reais. “Quando ele me
via, me chamava no canto e falava ‘e aí, Eduardo, tem coisa boa pra mim hoje?’,
esfregando as mão”, contou o delator aos procuradores do Ministério Público
Federal. No depoimento, o empresário afirma ter sido Rossoni quem o apresentou
a Fanini. Confirmou ainda que as primeiras obras públicas executadas por sua
empresa foram realizadas em 2011 em Bituruna, no sul do Paraná.
Coincidentemente, Bituruna é o reduto eleitoral da família
Rossoni. Valdir e o filho Rodrigo foram prefeitos da cidade. O herdeiro
enfrenta, aliás, problemas com a Justiça por conta de atos de sua
administração. O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de União da Vitória, Luis
Mauro Lindemeyer Eche, determinou, em março último, o bloqueio de seus bens em
face das denúncias do Ministério Público, por ter, supostamente, atuado para
direcionar uma licitação na reforma de uma escola no município.
A obra foi realizada em 2011 e a construtora responsável era
justamente a Valor.
Os tentáculos da corrupção, ainda segundo o delator,
estenderam-se ao Tribunal de Contas do Estado. Fanini teria insinuado que seria
“bom ter alguém do tribunal com eles”.
Souza articulou contribuições à campanha a deputado estadual
de Tiago, filho do conselheiro do TCE Durval Amaral. Richa nega as acusações e
classifica as afirmações do delator de “mentirosas, próprias de um criminoso
que busca amenizar sua pena”. Segundo o governador, a própria Secretaria de
Educação constatou as irregularidades. O tucano afirma ainda nunca ter tido
contato com o empresário e que todas as doações à campanha de 2014 “seguiram a
legislação e foram aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
Rossoni fez uma transmissão ao vivo no Facebook, no domingo
4, para rebater o empreiteiro. Em nota, Traiano afirmou “repudiar veementemente
as acusações infundadas e sem provas”. Disse ainda não ter “conhecimento da
delação, que não foi homologada e corre em segredo de Justiça”.
A pouco mais de um ano das eleições, Richa desidrata. Os
sinais do abandono político e do isolamento se avolumam. Sua candidatura ao
Senado corre o risco de morrer antes de sair do papel. Há quem defenda sua
permanência no Palácio Iguaçu até o último dia de governo. Mas a decisão não
está mais totalmente nas mãos do tucano.
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