Memória – Há exatamente um atrás, falecia o ex-presidente de Israel, Shimon Peres. O estadista de 93 anos morreu por volta das 03:00 (01:00 em
Lisboa), afirmou Rafi Walden, que é também genro de Shimon Peres.
Shimon Peres sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) a 13
de setembro e encontrava-se hospitalizado desde então. Internado na unidade de
cuidados intensivos, estava sedado e com respiração assistida. O último dos
'arquitetos' de uma paz que não prosperou, o último sobrevivente da geração dos
"pais fundadores" de Israel, Shimon Peres foi um dos principais
artesãos dos acordos de Oslo, defendendo o diálogo com os palestinianos como o
único meio para alcançar a paz.
Artífice da segurança de Israel - sem nunca ter sequer
passado pelo exército -, ocupou todos e cada um dos cargos possíveis, a partir
dos quais deixou um indelével contributo para o desenvolvimento tecnológico,
económico e militar do seu país.
Nascido na Polónia a 02 de agosto de 1923, Peres chegou
ainda criança, com a sua família, à Palestina sob mandato britânico e, com
menos de 20 anos, foi descoberto pelo fundador de Israel, David Ben Gurion, ao
lado do qual viveu a criação do Estado judeu em 1948, dirigiu o Serviço Naval e
liderou a missão do Ministério da Defesa israelita nos Estados Unidos enquanto
estudou em Harvard e em Nova Iorque.
O seu contributo mais reconhecido internacionalmente foi o
de impulsionar da aproximação entre palestinianos e israelitas que culminou, em
1993, com o reconhecimento israelita da Organização para a Libertação da
Palestina (OLP) e o início de um processo de negociações que aproximou como
nunca ambas as partes no sonho da paz e que deveria ter conduzido à criação de
um Estado palestiniano.
Apesar de a paz ter sido 'truncada' em 2000 pela Segunda
Intifada e de as partes não terem conseguido voltar a encarrilar um diálogo
frutífero, Shimon Peres continuou a erguer a bandeira da solução de dois
estados e tornou-se numa voz conciliadora em prol da paz numa região submersa
num conflito que dura há mais de um século. Shimon Peres foi o israelita que
mais tempo exerceu a função de deputado, após entrar para o Parlamento em 1959
e servir ininterruptamente até 2007, altura em que foi eleito Presidente.
Um dos primeiros cargos políticos de Shimon Peres foi o de subdiretor-geral
do Ministério da Defesa, nos anos 1950, tutela a que regressaria como ministro
duas décadas mais tarde. Nesta primeira etapa da sua carreira política, Peres é
reconhecido por ter estabelecido uma crucial aliança com a França, que concedeu
a Israel a sua histórica supremacia aérea regional e o seu programa nuclear.
Shimon Peres contribuiu com Ben Gurion para a reunificação
dos movimentos socialistas no Partido Trabalhista, por via do qual exerceu o
cargo de ministro em cinco pastas desde 1969 até à disputa pela liderança do
partido, em 1974, em que foi derrotado pelo mais carismático Isaac Rabin. Após
a demissão de Isaac Rabin, três anos mais tarde, devido a um escândalo
político, Peres foi por um breve período de tempo, primeiro-ministro em exercício,
cargo que deixaria ao sair perdedor das eleições de 1977 diante do conservador
Menahem Begin. Nas duas décadas seguintes, continuou na liderança do Partido
Trabalhista e as suas tentativas para chegar ao Governo (em 1981, 1984, 1988 e
1990) foram infrutíferas. Isto apesar de ter sido primeiro-ministro entre 1984
e 1986 no âmbito de um acordo de rotatividade com Isaac Shamir (Likud).
Contra a recusa de Isaac Shamir, Shimon Peres lançou durante
aqueles anos uma campanha de contactos com líderes árabes e abriu um canal de
comunicação informal com figuras palestinianas. Uma manobra política em falso
-- fez cair um governo confiando no apoio de partidos ultraortodoxos que depois
o negaram --, a par com a rivalidade que mantinha com Rabin e a crescente influência
de este levaram-no a voltar a perder a liderança trabalhista em 1992,
começando-se a criar a sua fama em Israel de "eterno perdedor".
Rabin, o seu rival más acérrimo, nomeou-o nesse mesmo ano
ministro dos Negócios Estrangeiros, o que daria lugar a um período de
cooperação fora do comum entre ambos e que abriu caminho aos acordos de Oslo,
assinados com os palestinianos em 1990, que os levaria a partilhar o Nobel da
Paz, a par com o ex-presidente palestiniano Yaser Arafat.
Peres investiu o dinheiro do prémio na criação do Centro
Peres para a Paz, para promover a coexistência entre árabes e judeus. Depois do
assassínio de Rabin, em 1995, voltou a assumir a chefia do Governo até ser
derrotado por Benjamin Netanyahu em maio de 1996, deixando depois o partido nas
mãos do general retirado Ehud Barak. Falhou a presidência em 2000, quando
perdeu para o então quase desconhecido Moshe Katsav, mas alcançou-a finalmente
em 2007.
Como chefe de Estado, cargo que abandonou em 2014, aos 91
anos, viveu a sua época dourada, em que rivais e aliados lhe reconhecem
méritos, ganhando o mais elevado reconhecimento da cidadania israelita. Em sete
décadas de carreira, foi primeiro-ministro por duas vezes, ministro em 16
governos, deputado durante 48 anos e chefe de Estado ao longo de sete.
Do Diário Digital com Lusa
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