Bolsa Família do PT apenas sofisticou a receita do velho
populismo
Ruth Cardoso teria completado 87 anos neste 19 de setembro.
Seu legado é inesquecível. O Brasil deve a ela, durante o governo de FHC, a
mudança de paradigma nos programas sociais. Saiu o assistencialismo das cestas
básicas, entrou a cidadania das transferências diretas de renda. Uma estratégia
exitosa, porém, turvada pela ânsia de poder do PT.
Ruth Cardoso traçava o rumo, e o sociólogo Vilmar Farias
executava o plano. Ambos os formuladores organizaram uma competente equipe no
comando do programa Comunidade Solidária, vértice do empreendedorismo social
que aglutinava a participação de segmentos da sociedade, empresariais e do 3º
setor. Essa articulação gerou sinergia nas ações governamentais e mudou o
caráter das políticas sociais.
Resultado: ao final de 2002, cerca de 6,5 milhões de
famílias já estavam sendo atendidas nos novos programas de transferência de
renda. Outros 6,5 milhões de trabalhadores rurais se beneficiavam com
aposentadoria plena, obtida pela ampliação do Funrural (Lei 9.032 de 1995).
Mais ainda. Cerca de 1,5 milhão de idosos ou pessoas com deficiência recebiam
seu benefício continuado, de 1 salário mínimo, estabelecido pela Loas (Lei
Orgânica de Assistência Social).
Consequência: entre 1994 e 2001, a participação dos gastos
sociais no orçamento federal passou de 23% para 28,3%, elevação real de quase
70%. Erra quem categoriza os feitos do governo de FHC apenas na área da
economia.
Na cronologia dos fatos, ressalte-se as ações pioneiras de
Itamar Franco, que passou a exigir certas contrapartidas para o recebimento de
cestas básicas no Nordeste. Foi o começo da virada. Depois, empossado na
Presidência, a primeira medida de FHC foi extinguir a caquética LBA (Legião
Brasileira de Assistência), sinalizando claramente as mudanças que seguiriam na
política social.
Mais tarde, em 1997, nasceu no Ministério da Educação, sob a
batuta de Paulo Renato, a mãe dos programas sociais: o Bolsa Escola. Seu grande
mérito residia no estímulo às famílias pobres para matricularem seus filhos na
rede escolar. Em julho de 2002 chegou o “Cartão do Cidadão”, em forma
magnética, permitindo aos beneficiários receber seu auxílio financeiro
diretamente nas agências da Caixa Econômica Federal. Um golpe da morte na
política social clientelista do país.
Em 2002 Lula se elegeu, e avançou na agenda. Unificou os 4
programas anteriores (Bolsa Escola, Bolsa Família, Auxílio Gás e Peti), criou o
Bolsa Família, e implantou um Cadastro Único dos beneficiários. Tudo seguia nos
conformes.
Mas o PT, dominado por José Dirceu, então poderoso chefe da
Casa Civil, não resistiu. Enxergou aí a oportunidade para se perpetuar no
comando da República. Politizou o Bolsa Família: prefeitos e vereadores se
associaram aos sindicalistas e militantes vermelhos, incluindo os da Igreja
Católica, para insuflar a lista dos beneficiários. Critérios ao léu. Boca livre
ao novo clientelismo lulopetista.
Triste história. O PT ajustou o discurso, se fingiu de
moderno, mas o Bolsa Família apenas sofisticou a receita do velho populismo:
adular a mente incauta para garantir o voto do povo.
Promoveu-se, agora sob a égide não mais da oligarquia, mas
da “esquerda”, a maior tentativa de manipulação das massas da nossa história.
Uma afronta à memória de Ruth Cardoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário