O deputado Jair Bolsonaro quer ser presidente do Brasil. O
deputado Jair Bolsonaro tem chances reais de vir a ser presidente do Brasil. Há
alguns anos, essas duas frases juntas fariam a maior parte dos brasileiros rir
às escâncaras. Hoje, provocam reações diversas, que vão da celebração ao pavor,
mas não incluem mais as antigas gargalhadas. A mais recente pesquisa do
instituto Datafolha mostra que o deputado se consolidou em segundo lugar na
corrida eleitoral para a Presidência da República, com 17% das intenções de
voto no primeiro turno, atrás apenas do líder de sempre, o ex-presidente Lula,
com 35%. Os números significam que, se o petista desistir ou for impedido de
concorrer por motivos penais, hipótese cada vez mais provável, Bolsonaro é hoje
o candidato com maior chance de assumir a liderança. É uma novidade e tanto — e
talvez a maior ameaça que o Brasil já enfrentou no atual ciclo democrático.
Debulhando-se a pesquisa, constata-se que Bolsonaro tem um
desempenho especialmente favorável entre os jovens, na faixa de 24 a 32 anos,
do sexo masculino, com renda acima de cinco salários mínimos, que residem em
cidades com mais de 50 000 habitantes das regiões Sudeste e Nordeste. Isso
mostra que o grosso do seu público não viveu sob a ditadura militar e pertence
a um segmento da classe média. Não é o pedaço mais expressivo do eleitorado
brasileiro, mas já reúne entre 20 milhões e 30 milhões de pessoas, dependendo
dos nomes que aparecem na cédula.
Com esse apoio, Bolsonaro colocou definitivamente a direita
radical no jogo eleitoral, num país que, há poucos anos, tinha vergonha de
expor ideais dessa tendência. “Eu sempre fui de direita, mesmo quando isso era
crime”, orgulha-se. Sua ascensão ganhou um impulso monumental justamente de seu
maior inimigo — o PT, que, com a desmoralização provocada pela revelação de
seus intestinos criminosos, conseguiu imprimir um estrago histórico à esquerda
brasileira. Antes de Bolsonaro, o maior sucesso da direita extremista foi
protagonizado por Enéas Carneiro, um cardiologista folclórico e estridente que
se celebrizou pelo bordão “Meu nome é Enéas” e teve 7% dos votos na eleição de
1994 — e que, não por acaso, é um dos ídolos de Bolsonaro.
Bolsonaro já é maior que dois Enéas. É recebido com fanfarra
nos aeroportos por fãs entusiasmados, é solicitado para selfies até nos
corredores do Congresso. Numa noite recente, depois de ser abordado por uma
dezena de deputados em sessão da Câmara, comentou com a reportagem de VEJA, que
o acompanhava: “Ouviu o que me disseram lá dentro? ‘Vou estar contigo no ano
que vem.’ Não tem opção, cara”. Apesar dos rapapés e uivos, Bolsonaro vive em
isolamento político. Não tem ligação sólida com nenhum partido. Em quase três
décadas como deputado, conseguiu aprovar apenas dois projetos e virou um
saltimbanco de siglas. Pertenceu ao PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e, agora,
está prestes a aderir ao PEN, cujo nome está mudando para Patriotas. No PSC,
sua legenda anterior, quem lhe abriu as portas foi o pastor Everaldo Dias
Pereira, aquele que a Odebrecht acusou de cobrar 6 milhões de reais para dar
apoio ao candidato presidencial Aécio Neves, do PSDB. O pastor, aliás,
tornou-se tão íntimo de Bolsonaro que o convenceu a cruzar o Oceano Atlântico
pela primeira vez, no ano passado, para visitar Israel e ser batizado no Rio
Jordão, junto com seus quatro filhos mais velhos.
Bolsonaro não oferece a seus eleitores um conjunto
concatenado de ideias, não articula uma visão de Estado nem se alinha com
nenhuma escola econômica. “Sou ignorante em economia”, confessa. Mas, entre
suas ideias, observa-se uma tendência conspiratória, comum entre os militares,
segundo a qual os estrangeiros estão sempre tramando para afanar as riquezas
nacionais (veja o quadro na pág. 47). Outro sinal do isolamento está em seu
entorno. Seus conselheiros mais próximos são os três filhos mais velhos, do
primeiro casamento: o deputado estadual Flávio Bolsonaro, a quem o pai chama de
Zero Um; o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois; e o deputado federal Eduardo
Bolsonaro, o Zero Três, todos do PSC. Em tempos de Lava-Jato, Bolsonaro vende
seu isolamento político como um ativo. “Nenhum partido vai querer se coligar
comigo porque sabem que não sou ‘piranha’ para receber certas propostas
indecorosas”, diz. Apresentar-se como um solitário lírio no lodo pode parecer
positivo, mas esconde um perigo. “Não ter uma base ampla e organizada não é
novidade em uma eleição. Outros candidatos menos asquerosos disputarão as
eleições de 2018 também sem amplas bases. Isso tudo coloca um problema: como
conseguirão maioria parlamentar que dê sustentação às decisões? Todos os
isolados teriam de responder a isso”, diz o sociólogo Demétrio Magnoli, da
Universidade de São Paulo, que, em seguida, toca no ponto fulcral: “Agora, no campo
da especulação, um presidente isolado com o perfil de Bolsonaro pode tentar
apelar diretamente ao povo, por cima das instituições de mediação democráticas,
como já vimos acontecer em outros países. Isso é uma ameaça à democracia porque
põe em risco não a relação direta entre o presidente e o povo, mas sim as
mediações entre o poder e o povo, que são fundamentais em um Estado
democrático”.
O mesmo isolamento se verifica no ambiente em que Bolsonaro
passou a juventude e parte da idade adulta, as Forças Armadas. Ali, o capitão
da reserva faz sucesso entre as baixas patentes, mas é visto com desconfiança
pelo comando, que não apoia sua candidatura presidencial, tampouco enxerga com
bons olhos o empenho do capitão da reserva em personificar a imagem da
corporação. Há dois meses, na cerimônia de entrega do espadim de Duque de
Caxias, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Bolsonaro ganhou
tratamento de celebridade por parte dos 450 cadetes e seus familiares, mas teve
recepção fria entre quem tinha mais estrelas no peito. Generais fingiam ignorar
sua presença. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, sentou-se o mais distante
possível dele. Com esse clima de indiferença, na mesa que Bolsonaro dividiu com
a terceira mulher, Michelle, alguém comentou: “As Forças Armadas estão cheias
de comunistas. Só por isso os militares permitiram que o PT ficasse tanto tempo
no poder”.
Na corporação — na qual Bolsonaro é chamado de “bunda-suja”,
termo usado pelos militares de alta patente para designar os que não galgaram
posições na carreira —, o presidenciável deixou um passado de insubordinação
que a alta hierarquia não esquece. Em 1986, Bolsonaro escreveu um artigo em
VEJA reclamando dos salários e benefícios dos militares. No ano seguinte, uma
reportagem, também de VEJA, revelou que ele urdira um plano para explodir
bombas em locais públicos e chamar a atenção do Exército para seu pleito de aumento
do soldo militar (fato que ele nega até hoje). Um processo foi aberto para
investigar o caso e Bolsonaro foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar,
numa decisão que ainda é contestada. Mas as marcas do episódio ficaram nos
arquivos do Exército, onde Bolsonaro é tido como um militar dado a
“proselitismos políticos”.
A ilha política em que se transformou, no mundo civil ou
militar, convive bem com suas posições extremadas. Em nome delas, Bolsonaro já
foi classificado de quase tudo: homofóbico, racista, xenófobo, misógino,
fascista. Ele atribuiu tudo a acusações distorcidas ou a pura armação promovida
por inimigos da esquerda — ou, para usar sua definição predileta, “os imbecis”.
Sua artilharia verbal insultuosa, que mira quase sempre as minorias, tem lhe
rendido dissabores na medida em que sua popularidade cresce. Na semana passada,
ele foi condenado por mais uma ofensa — nesse caso, contra os quilombolas. Em
abril, em palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, rememorou uma visita a
um quilombo e disse que “afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas”. E
acrescentou: “Não fazem nada. Eu acho que nem para procriadores eles servem
mais”. A juíza Frana Elizabeth Mendes, da 26ª Vara Federal do Rio, que o
condenou a pagar indenização de 50 000 reais, deu-lhe um pito público:
“Política não é piada, não é brincadeira”. E acrescentou que um parlamentar tem
“o dever de assumir uma postura mais respeitosa com relação aos cidadãos”.
As intervenções provocadoras, destinadas mais a ofender
opositores do que a clarear ideias, são uma marca de Bolsonaro. Na votação do
impeachment de Dilma Rousseff, ele fez questão de dedicar seu voto a Carlos
Alberto Brilhante Ustra, o famoso “doutor Tibiriçá” dos porões da tortura do
regime militar. Embora Ustra esteja entre seus mentores intelectuais,
Bolsonaro, ao mencioná-lo, queria apenas ofender os adversários políticos,
sobretudo a própria presidente Dilma, que sofreu o suplício da tortura durante
a ditadura. Dilma construiu todos os motivos para ser apeada do Palácio do
Planalto, mas ter sido torturada não é um deles.
O discurso agressivo de Bolsonaro encaixa-se no clima
politicamente polarizado do Brasil atual e faz sucesso entre uma camada de
eleitores, mas talvez só ajude a radicalizar ainda mais o ambiente político.
Diz Maurício Santoro, cientista político da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro: “Assim como ocorre com Trump e Marine Le Pen, muitas das declarações
de Bolsonaro extrapolam a legalidade e são explicitamente racistas,
discriminatórias ou de incitação ao crime. Só em 2017 ele já foi condenado duas
vezes por incentivar o estupro e por agressões verbais contra negros. Agora, o
que aconteceria se ele estivesse numa posição forte no Poder Executivo, como a
Presidência da República? Ele provavelmente não hesitaria em promover discursos
de ódio contra adversários ideológicos, o que pode ter consequências nefastas
num país que já é muito violento”. A hostilidade ao diálogo não é novidade para
Bolsonaro. Ele tem por hábito fugir de situações que não domina para evitar ser
confrontado. Só viaja a locais onde é convidado por grupos de seguidores que
defendem suas ideias. Os convites costumam partir de deputados estaduais e
federais e de empresários locais.
OS MENTORES INTELECTUAIS
Entre os ídolos declarados do Bolsonaro estão expoentes da
ditadura e ativistas de extrema direita que acreditam que o Brasil está prestes
a ser tomado por comunistas.
O general – Ex-chefe do Serviço Nacional de Informações
(SNI) e ex-comandante militar do Planalto, o general Newton Cruz foi réu na
ação penal do atentado do Riocentro. Para Bolsonaro, o militar é uma
“inspiração”.
O torturador – O coronel Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do
DOI-Codi, foi responsabilizado por torturas cometidas durante a ditadura.
Bolsonaro o considera “herói”.
O patriota – Morto em 2007, Enéas Carneiro especializou-se
em discursos de teor nacionalista. Bolsonaro quer o ex-deputado no Livro dos
Heróis da Pátria.
O professor – Radicado nos Estados Unidos, o filósofo Olavo
de Carvalho é o guru dos ultraconservadores e diz que não houve ditadura no
Brasil. É consultor informal de Bolsonaro para assuntos externos.
Entretanto, há um ambiente — o digital — em que Bolsonaro
reina soberano. Tem 5,5 milhões de seguidores nas redes sociais, muito mais do
que o ex-presidente Lula, por exemplo, que tem 3,2 milhões. Na companhia
permanente de um celular, ele mesmo fica praticamente todo o tempo on-line.
Quem comanda seu núcleo virtual é o filho Flávio, o Zero Um. Ele criou um
repertório de vídeos, memes e gritos de guerra de fácil assimilação e viés
radical (com pequenas variações, são as seguintes as frases preferidas dos
seguidores do deputado: “Bandido bom é bandido morto”, “Comunista tem que
morrer, gay e feminazis também”, “Não gostou? Vai pra Cuba”). Recentemente, fez
sucesso nas redes o tuíte em que o “Mito”, como o deputado é chamado por
apoiadores, elogia o vídeo do general Hamilton Mourão, que defendeu uma
intervenção militar no Brasil. “Ele (refere-se a Mourão) falou como um
brasileiro qualquer que está indignado com esse estado de putrefação da
política brasileira”, disse. Urros e vivas espoucaram no Facebook.
Atento à importância das redes sociais, Bolsonaro é zeloso
com sua imagem digital. Na Câmara, ele percorre a passos largos e rápidos a
distância de 400 metros que separa o Salão Verde de seu gabinete, no Anexo III
(a “favela da Câmara”, diz ele). O gabinete de seu filho Eduardo, onde costuma
receber visitas, é decorado com distintivos da Polícia Federal e da NRA, a
poderosa associação que faz o lobby pró-armas nos Estados Unidos. No percurso,
um entusiasta o parou para pedir que gravasse em vídeo palavras de apoio a uma
campanha de sua cidade pela renovação das armas da Polícia Civil. Outro quis
uma selfie para mostrar à mulher, “fã” do deputado, segundo disse. Minutos
depois, jovens da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila)
abordaram o parlamentar. Queriam seu apoio para “desmistificar a ideia de que a
universidade é bolivariana”. Esses, o deputado nem parou para ouvir. “Imagine
se assino alguma coisa desse lugar. Depois sou esculhambado.”
Nascido em Glicério, no interior de São Paulo, Bolsonaro
criou-se em Eldorado, no Vale do Ribeira, um lugarejo de 20 000 habitantes.
Ali, o grosso dos moradores atribui o atraso da cidade à demarcação de reservas
ambientais, que impediriam a exploração agrícola. De família modesta (seu pai
fabricava próteses dentárias, a mãe é dona de casa), ele frequentava a escola
pública, era goleiro do time de futebol local e aturava a gozação dos colegas
por causa do jeito desengonçado com que apanhava a bola. Seus passatempos eram
caçar passarinhos com espingarda de chumbo, pescar no Rio Ribeira, ouvir no
rádio o programa de Tonico e Tinoco, assistir aos filmes de Mazzaropi e — desde
cedo, garante quem conviveu com ele — falar mal de comunistas. Segundo o
professor Olavo Amado Ribeiro, hoje com 85 anos, de quem Bolsonaro foi aluno de
português e educação moral e cívica, ele já era na adolescência um dos mais
ácidos críticos de João Goulart, presidente derrubado no golpe de 1964. Mas o
jovem Bolsonaro não era uma voz dissonante na cidade. “Eldorado não tinha esquerdistas”,
diz o professor.
O episódio que mais moldou a forma de Bolsonaro, porém,
deu-se com a chegada à região da trupe de Carlos Lamarca, o líder da VPR,
organização guerrilheira de extrema esquerda. Em 8 de maio de 1970, um
enfrentamento com soldados locais terminou com troca de tiros na praça de
Eldorado. Bolsonaro, então com 15 anos, estava na escola no momento dos
ataques. Ele lembra que os professores, amedrontados pelos tiros, esvaziaram as
salas de aula e mandaram as crianças atravessar a praça rastejando para se
proteger das balas. Seis soldados e uma moradora foram feridos, mas ninguém
morreu. O episódio marcou para sempre a cidade e fez com que o Exército
direcionasse tropas para o Vale do Ribeira. Os soldados que se confrontaram com
Lamarca e a VPR, vistos como heróis, passaram a receber visitas constantes do
jovem Bolsonaro, a quem estimularam a entrar na carreira militar.
Viva o golpe – O general Mourão, que defendeu uma
intervenção militar, é apenas “um brasileiro indignado com esse estado de
putrefação da política brasileira”, escreveu o deputado.
Na década de 70, coube ao seu pai, Percy Bolsonaro, trazer a
política para dentro da família. Ele foi candidato a prefeito em Eldorado pelo
MDB, que fazia oposição ao regime militar, mas não se elegeu. Gostava de “uma
cervejinha” e não era “muito rígido” com os filhos. Algumas de suas
características contrastavam com as de Bolsonaro desde cedo. “O Jair sempre foi
mais radical e conservador que o pai”, diz o professor Ribeiro. Tanto que, em
algumas ocasiões, seu Percy julgava que o filho se excedia no “anticomunismo”.
Soltava um “o Jair é doido, é um exagerado”. A família, contudo, sempre se
entusiasmou com a entrada do filho nas Forças Armadas. A prova disso é que,
quando Bolsonaro decidiu abandonar o Exército para se dedicar à política, o pai
foi até o Rio de Janeiro para demovê-lo da ideia. Fracassou. Agora, o filho
está em segundo lugar nas pesquisas — e passou a levar a sério suas chances de
chegar lá.
Tanto que, neste 7 de outubro, Bolsonaro embarca para sua
primeira visita como político aos Estados Unidos. Seu cicerone será o filósofo
ultraconservador Olavo de Carvalho, que mora lá e convidou o candidato para um
road show no país. “Vamos conversar com investidores, membros do Partido
Republicano e do governo de Donald Trump”, revela o deputado. Será a segunda
viagem de Bolsonaro aos EUA. A primeira foi nos anos 2000, quando levou os
filhos a Orlando. O político afirma que não gosta muito de viajar. Prefere
passar o tempo livre no condomínio em que mora — com 100 casas de frente para o
mar, na Barra da Tijuca. Ultimamente, anda cismado com segurança. Conta que,
outro dia, viu um assalto em que o ladrão disparou um tiro para cima. Pensou
que o episódio poderia ser “um alerta” para ele. Bolsonaro suspeita da
existência de um “sistema” interessado em eliminá-lo “pelo fato de ser um
outsider”. “O patinho horroroso está ficando bonito. Por isso querem me tirar.
Mas vão ter de tirar na mão grande”, desafia, supondo que, mesmo que saia
vitorioso, não estará imune a investidas para apeá-lo do cargo. “O sistema não
me quer ali. Não quer que eu escolha ministros do Supremo”, diz.
Como todo populista, Bolsonaro tem uma solução simples para
cada problema complexo. Contra a violência, propõe “dar armas ao cidadão de
bem”. Ele também quer o fim do regime de progressão de pena e, para abrigar o
número crescente de condenados, sugere “construir presídios agrícolas, para o
preso produzir alguma coisa e trabalhar, e não ser um fardo para o Estado”. Em
suas entrevistas, ele aceita discorrer apenas sobre temas que “domina”, como a
exploração de metais por estrangeiros. Vencer o desemprego e fomentar o
crescimento econômico, para Bolsonaro, é uma equação que se resolve com
“segurança pública”. “Que empresário estrangeiro vai investir no Brasil se não
podemos nem andar na rua?”, questiona. Contudo, se o empresário for chinês, ele
não quer. “Os chineses estão se apropriando de nosso subsolo e, em breve, de
nosso solo”, reclama. “Vamos virar inquilinos da China”, profetiza. Para o
deputado, a exploração chinesa do nióbio (metal usado como liga na produção de
aços especiais), em Goiás, é “um crime de lesa-pátria”. Numa mistura de
nacionalismo e nostalgia, ele apregoa que as riquezas minerais deveriam ser
liberadas para extração pelos brasileiros. “O que seria do Brasil sem os
bandeirantes que exploraram os diamantes? Teríamos um terço do território atual
se não fossem eles. É preciso parar de tratar o garimpeiro como bandido no
Brasil.”
Entre os especialistas ouvidos por VEJA, nenhum se arrisca a
apostar que o deputado saia vitorioso de um pleito presidencial. Mas o fato de
um grande grupo de brasileiros se engajar na campanha precoce de um candidato
como ele causa preocupação. “Bolsonaro é contra todo o ideário que edifica uma
democracia sólida, o que inclui a defesa dos direitos humanos e o combate à
desigualdade”, diz Ricardo Sennes, da consultoria política Prospectiva. “Ele
opta sistematicamente por partidos cada vez menores e cria um cenário que
remete ao do ex-presidente Fernando Collor quando se filiou ao PRN. Essa falta
de coalizão resultaria numa dificuldade de governar tamanha que um impeachment
poderia se tornar inevitável.” Caminhando sozinho, um candidato pode até vencer
a eleição, mas governar sozinho ninguém governa.
“Sou ignorante em economia”
Mesmo assim, Bolsonaro se declara contrário à política de
aumento de juros para combater a inflação e votou contra o pacote fiscal de
resgate do Rio.
TAXA SELIC
Bolsonaro critica a política de aumentar juros para conter a
inflação — o baluarte do pensamento liberal. Para ele, o Banco Central só
cortou a Selic no último ano para “beneficiar banqueiros”, que temiam que os
juros altos tornassem a dívida pública impagável, pondo em risco a
rentabilidade de títulos públicos nos quais os bancos investem. “Banqueiro não
quer levar calote”, diz. Bolsonaro afirma que defende a queda da Selic “há
muito tempo”. Mas diz ser criticado por essa convicção porque o mercado
acredita que “é pecado” o governo intervir na política de juros.
PRIVATIZAÇÕES
Sobre as privatizações anunciadas por Temer, ele se esquiva
de dizer se manterá o plano caso seja eleito. “Tem coisa que dá para privatizar
para acabar com o loteamento político. Mas setor estratégico não se privatiza.
Nos Estados Unidos, é o Exército americano que cuida das hidrelétricas. Algumas
coisas não podem sair da tutela do Estado. Chamam os militares de estatizantes,
mas como fazer Itaipu com dinheiro privado?” Contudo, Bolsonaro votou a favor
de desobrigar a Petrobras de participar dos leilões do pré-sal e discordou
quando o governo Dilma determinou que a empresa tivesse participação
obrigatória de 30% nos consórcios.
AJUSTE FISCAL
Bolsonaro nunca esteve alinhado à agenda de corte de gastos
públicos nos seus sete mandatos como deputado. Sempre defendeu corporações do
funcionalismo, em especial os militares, sua base eleitoral, votando a favor de
reajustes salariais e de pensões. Neste ano, opôs-se ao pacote fiscal de
resgate do Rio de Janeiro, que previa a venda de estatais fluminenses e a
redução de benefícios de servidores. Mas, numa flagrante contradição, causou
revolta nos próprios eleitores ao votar a favor da proposta que estabelece um
teto de gastos para o governo em 2016, apesar de ter discursado contra a
medida.
EQUIPE ECONÔMICA
Bolsonaro diz receber conselhos de um economista do setor
financeiro cuja identidade não revela. Afirma ainda não ter pensado em um nome
para assumir a Fazenda, caso ganhe. Costuma dizer que os generais não eram
economistas e fizeram o Brasil crescer como nunca nos anos 1970. “Sou ignorante
em economia, mas foram os especialistas que levaram o país para o buraco”, declara,
deixando de lado o fato de que foram os especialistas que venceram o ciclo de
hiperinflação.
CHINA
Ele faz críticas à China, país ao qual o Brasil “está
entregando o seu solo e subsolo”, segundo diz. Tem obsessão pela ideia de que o
Brasil possui riquezas geológicas pouco exploradas, como o nióbio e o grafeno,
que, um dia, serão tomadas pelos chineses. “O chinês não tem coração. Não manda
seus homens para o Afeganistão nem para lutar no Iraque. Manda homens de
negócios para comprar tudo. A China está garantindo sua segurança alimentar com
as nossas terras, e vamos nos tornar inquilinos dela”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário