O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) foi vítima das chamadas
fake news neste fim de semana. Mas a “notícia falsa” a que o parlamentar se
refere, na verdade, foi a divulgação de um áudio na internet com uma imitação
de sua voz (confira abaixo), em quase 15 minutos de fala, em que o falsário
garante que a intervenção militar está em curso de maneira irreversível.
Dizendo-se apoiador do militarismo, o homem que se passa por Cristovam
assegura: “Nada, nada, nada vai tirar a intervenção militar do curso”.
Cristovam foi à tribuna do plenário denunciar a farsa, que
classificou como “estupro moral ou intelectual de alguém tentar imitar a voz de
uma pessoa”. “Ainda bem que não conseguiu imitar bem a minha”, afirmou,
dizendo-se indignado. Mas, segundo o senador, outra questão lhe causou ainda
mais desconforto.
“O que mais me surpreendeu e me assustou é que recebi
parabéns por conta desse discurso que eu não fiz e não faria. Pessoas que
acreditaram que eu estava falando aqueles absurdos vieram dizer: ‘É isso mesmo,
senador’. Essa foi a maior surpresa que eu tive e que me deixou mais preocupado
do que indignado com a situação em que fui colocado, até porque a situação em
que fui colocado se explica”, lamentou.
“Isso é um estupro moral, que se comete com essas notícias
falsas. E ninguém vai estar livre disso. Aí não é só surpresa, é uma
indignação!”
Ouça o áudio com a imitação:
O senador, que tem a educação como sua principal bandeira
parlamentar, disse ainda que o fenômeno das notícias e demais conteúdos falsos
disseminados nas redes terá desdobramentos nas eleições de 2018. “Isso me faz
pensar – e venho dizendo isso há algum tempo – que a próxima eleição vai ser
ganha não por quem trouxer melhores ideias, mas por quem conseguir responder
melhor às falsas notícias, aos boatos que se espalharão”, declarou.
U.S. Army
No áudio acima, o falsificador diz que, caso os militares
brasileiros não executem a intervenção, a tarefa caberá aos Estados Unidos. “Já
há um acordo: ou os nossos militares fazem, o que é o correto e o que tem que
ser feito, ou os Estados Unidos fazem ao modo deles, mais violento e truculento.
Em 15 minutos, uma esquadra DF-18/A, que já está nas bases americanas na
América do Sul, detona os principais prédios de Brasília, que virarão escombros
em 15 minutos. É mais traumático. Então, nós preferimos que nossas Forças
Armadas ajam”, delira o responsável pela mensagem.
O episódio vem a público na esteira nas recentes
manifestações de integrantes da cúpula do Exército sobre o assunto. Como este
site mostrou na semana passada, o comandante da força terrestre, general
Eduardo Villas Bôas, reagiu à exposição do tema na caserna e divulgou nota em
que desautoriza o general Antônio Hamilton Martins Mourão e qualquer outro
militar a falar pela instituição. Mourão havia defendido a possibilidade de
intervenção militar contra o caos político no país, diante de uma falta de
solução na Justiça e na política.
Cristovam disse ter subido à tribuna não só para desmentir o
áudio, mas também para alertar quanto à gravidade da situação. “É muito grave
que haja pessoas parabenizando alguém porque teria feito um discurso
justificando isso [intervenção]. Mais grave é se nós não refletirmos e
entendermos que nós somos os culpados. Nós, os civis, os políticos, os líderes
deste país. Nós, os civilistas, os democratas. Somos culpados porque estamos
dando margem a esse sentimento nacional que está crescendo, sim, de que os
civis não são capazes de resolver os problemas que eles – nós – criaram”,
observou o senador, reconhecendo a competência do imitador ao “falar
sintonizado com a opinião pública” e, consequentemente, ver o material
“viralizado de uma maneira brutal, imediata e generalizada em todo o país”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário