terça-feira, 10 de outubro de 2017

GUERRILHEIRO IDOLATRADO

Do G1
Até mesmo as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) já se despediram dele. Desde que os guerrilheiros entregaram as armas, Ernesto "Che" Guevara não determina mais o cotidiano deles. Há pouco tempo, a ilustração do rosto da figura emblemática ainda estampava os uniformes dos rebeldes na selva colombiana. Agora, eles têm de seguir adiante sem o líder revolucionário.
Nesta segunda-feira (09), comemora-se o 50º aniversário da morte de Che Guevara. Nascido em 1928 na Argentina, o médico, revolucionário e guerrilheiro ganhou projeção internacional quando, entre 1956 e 1959, comandou a Revolução Cubana ao lado de seu companheiro e posteriormente chefe de Estado cubano, Fidel Castro.
Che Guevara foi uma das figuras mais emblemáticas e importantes da revolução. No entanto, abandonou seus cargos políticos na ilha para poder avançar com outras revoluções: no Congo e na Bolívia. Até que, em 1967, foi capturado, preso e morto pelo Exército boliviano.
Meio século depois, muitos se perguntam: o que permaneceu do legado de Che Guevara com o fim da Guerra Fria, com a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos e com a morte de Fidel Castro? Ele ainda serve de ícone e inspiração fora de Cuba para os políticos de esquerda de todo o mundo?
Era Trump
"Como figura política Che Guevara já foi enterrado há muito tempo, mas como líder revolucionário, ícone pop e inspiração do Movimento Estudantil de 1968 ele ainda vive", afirma Matthias Rüb, correspondente do jornal alemão "Frankfurter Allgemeinen Zeitung" na América Latina.
Autor de uma biografia sobre Che Guevara recém-publicada na Alemanha, Rüb aborda não apenas as anotações do próprio líder revolucionário, como também a recepção política de suas ideias.
"Ainda que Che hoje pareça anacrônico, ele nunca perdeu força como figura simbólica antiamericanismo", diz o biógrafo. Para Rüb, não se pode descartar que a era Trump esteja ressuscitando o patrono dos críticos da globalização e herói dos movimentos de libertação de esquerda.
"O atual presidente norte-americano, Donald Trump, está fazendo de tudo para que o antiamericanismo seja reavivado e possivelmente, dando vida a Che novamente", afirma Rüb.
Rejeição à luta armada
Na Alemanha, o contato com a figura de Che aconteceu principalmente na história recente do país. Para Heike Hänsel, política do partido alemão A Esquerda, Che Guevara continua sendo a figura emblemática de Cuba. Ela defende a mensagem do líder revolucionário. "Para o A Esquerda, é um ponto crucial que não nos sujeitemos a nenhum tipo de exploração e muito menos ao imperialismo."
No entanto, Hänsel rejeita veementemente a utilização da luta armada para a defesa da igualdade social e do socialismo, tal como defendia Che Guevara.
"Há tantas zonas de conflito e guerras civis que é totalmente irresponsável defender e propagar a luta armada", esclarece a política. Com o avanço das técnicas bélicas, hoje seria uma loucura querer defender e implementar ideais políticos por meio da utilização de armas, diz.
VÍDEO: 'Via-se um homem derrotado': general lembra captura de Che Guevara, há 50 anos
O antigo ministro do Exterior do México, Jorge Castañeda, começou há vinte anos a desconstruir o legado do líder revolucionário. "As ideias de Che Guevara, sua vida, seu legado e seu exemplo pertencem ao passado. Por isso, elas nunca mais poderão se tornar atuais", analisou Castañeda na biografia do argentino que publicou em 1997.
Na época da publicação, as afirmações de Castañeda causaram escândalo na América Latina. Isso porque, Che Guevara era – e continua sendo – uma inspiração para os críticos da política neoliberal apoiada por Washington e que levou a Argentina à falência no início dos anos 2000. A ascensão de políticos de esquerda nesse período permitiu um histórico comeback da figura de Che Guevara na América Latina.
Che e o papa Francisco
Para Rüb, os atuais movimentos sociais na América Latina de certa forma levam adiante a luta do líder da Revolução Cubana. "Não há mais a figura de um único grande revolucionário. A luta contra a desigualdade social continua viva na América Latina, mas ela é agora conduzida por coletivos e movimentos sociais que, por meios pacíficos, querem fazer valer seus direitos."
O papa Francisco, argentino assim como Che Guevara, também pertence a essa nova luta na região, como aponta Rüb. "Francisco é um papa que tenta dar continuidade à herança de Che de forma pacífica. Na América Latina, isso significa sobretudo a superação da terrível desigualdade social", diz. "Exagerando um pouco, pode-se dizer que o papa Francisco é o novo Che Guevara."
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