A Polícia Federal identificou a atuação de pastores
evangélicos para beneficiar uma organização criminosa investigada por golpes
milionários que atingiram pelo menos 25 mil pessoas em todo o País. A Operação
Ouro de Ofir foi deflagrada na terça-feira, 21, contra grupo que prometia
lucros estratosféricos às vítimas em negócios fictícios envolvendo ouro “do
tempo do Império” e antigas “letras do Tesouro Nacional”.
Sidiney dos Anjos Peró, alvo de prisão temporária, é
apontado com um dos líderes e responsável por arregimentar pastores com o fim
de ludibriar e tirar dinheiro dos fiéis.
“A característica principal da fraude está em atingir a fé
das pessoas e na sua crença em um enriquecimento rápido e legítimo, levando-as
a crer, inclusive, que tal mecanismo seria um ‘presente de Deus aos fiéis’, ou
seja, trazendo a fé religiosa para o centro da fraude. A maneira mais prática
de explicar isso talvez seja a crença de que contra a fé não há fatos nem
argumentos. Muitas vítimas não estão interessadas em entender, pensar ou se
informar – só estão interessadas em acreditar. E é exatamente neste ponto que a
fraude tomou proporções inimagináveis e ganhou território nos mais diversos
Estados da Federação”, afirma o delegado Guilherme Guimarães Farias, em
relatório.
Segundo o inquérito, diversas narrativas foram inventadas
pela suposta organização criminosa para ludibriar as vítimas. No entanto, apenas
os crimes cometidos por intermédio de duas histórias são alvo da ação
deflagrada nesta terça, 21.
Uma delas se refere a uma família de Campo Grande (MS)
detentora dos lucros sobre a venda de centenas de toneladas de ouro do tempo do
Brasil Imperial (1822-1889), mas, para repatriar os valores obtidos com os
lucros, alega ter um acordo com uma “Corte Internacional”, que coloca uma
condição: 40% do montante que receberiam os herdeiros no Brasil teriam de ser
doados a terceiros.
Em outro golpe, as vítimas davam valores em troca de uma
comissão sobre a “recuperação de antigas letras do Tesouro Nacional”. O esquema
era o mesmo: em troca de quantias de, no mínimo, R$ 1 mil, eram prometidos às
vítimas grandes lucros. Em ambos os casos, as pessoas nunca receberam o que foi
prometido. Há quem já tenha dado mais de R$ 20 mil ao grupo.
De acordo com a Polícia Federal, abaixo dos mentores dos
esquemas, estão “corretores”, que ficam a cargo de cooptar vítimas e inseri-las
em grupos nas redes sociais, e escriturários, que fraudavam documentos.
Em representação à Justiça Federal do Mato Grosso do Sul, a
Polícia Federal dá conta de que, “fazendo uso de grupos em redes sociais, como
Facebook e, principalmente, Whatsapp, onde vários grupos foram criados com o
objetivo de transmitir informações sobre as ‘operações’, os chamados
‘corretores’, ‘líderes’ ou apenas encarregados, postam informações e áudios,
bem como os próprios ‘investidores’, por vezes, se manifestam”
“Assim, todos ficam emaranhados em informações falsas, contraditórias
e, por vezes, motivacional. São comuns as mensagens do tipo: ‘vocês tem que
acreditar’; ‘vocês foram os escolhidos’; ‘aguardem que a bênção virá”, tudo
como forma de manipulação mental e técnicas aparentemente programada de PNL
(Programação Neurolinguística) e Controle da Mente, para despertar a cobiça e a
esperança, sempre renovada a cada semana, de se receber milhões de reais”,
dizem os investigadores.
Um dos golpes tem como mentor Sidiney dos Anjos Peró,
conhecido pelas vítimas como “‘Dr. Peró”. Ele se diz Juiz, mas apenas possui
uma carteira de identificação de Juiz Arbitral do Tribunal de Justiça Arbitral
Brasileiro.
“Juiz arbitral é um cargo que não existe. Um árbitro existe
em Câmaras de negociação, não é um cargo público. O que eles queriam era
status”, afirma o delegado Guilherme Guimarães Farias, que conduz as
investigações.
O delegado afirma, em representação à Justiça, que “além dos
símbolos usados por Peró, que remetem à fé cristã, como a Estrela de Davi e a
Arca da Aliança”, Sidiney “arregimenta pastores evangélicos, possivelmente como
corretores, para vender ‘aportes’ de sua operação a fiéis das respectivas
igrejas evangélicas onde referidos pastores agem também de forma criminosa,
seja vendendo ‘aportes’ ou mesmo divulgando e estimulando uma operação ilegal”.
“Vários pastores são citados nos grupos, dos mais diversos estados
brasileiros”, relata.
A PF ainda afirma que “Sidinei dos Anjos Peró está sendo
alvo de uma investigação na Policia Civil de Primavera do Leste/MT, juntamente
com Gleison França do Rosário, que tudo indica, teria sido seu ‘corretor’ na
região citada, fato este ocorrido dentro de uma igreja evangélica, inclusive
com a participação do pastor responsável pela instituição religiosa’.
O nome da operação faz referência a uma passagem Bíblica, na
qual o ouro da cidade de Ofir era finíssimo, puro e raro, sendo o mais precioso
metal da época. Ofir nunca foi localizada e nem o metal precioso dela oriundo.
Defesa
A defesa de Sidiney dos Anjos Peró não foi localizada pela
reportagem. O espaço está aberto para manifestação.
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