terça-feira, 16 de janeiro de 2018

FALSIDADE IDEOLÓGICA

A Polícia Federal em São Paulo indiciou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad pelo crime de falsidade ideológica eleitoral, conhecido como caixa dois. Além do petista, outros seis foram indiciados. São eles: o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o coordenador de campanha de Haddad para a Prefeitura, Chico Macena, o ex-deputado pelo PT Francisco Carlos de Souza e mais três pessoas ligadas à gráfica que prestou serviços para a campanha eleitoral do ex-prefeito em 2012.
O inquérito que indiciou os sete é um desdobramento da Operação Lava Jato. A investigação teve início após o Supremo Tribunal Federal homologar a delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, sócio da UTC e um dos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras.
O delator disse que após as eleições de 2012, foi procurado por Vaccari, que na época ainda era tesoureiro do PT, e que este teria pedido que o empresário pagasse uma despesa de R$ 3 milhões com uma gráfica de um homem chamado de “Chicão”.
Em depoimento, o ex-diretor financeiro da UTC Walmir Pinheiro afirmou que tentou negociar com Chicão o parcelamento do valor, mas que não foi aceito. A solução na época então foi um pagamento à vista, mas com desconto. O valor final ficou em R$ 2,6 milhões.
Nem Walmir Pinheiro e nem Ricardo Pessoa sabiam dizer quem era Chicão. Mas um número de telefone, fornecido por Alberto Youssef, e um reconhecimento por foto bastaram para que a PF chegasse à sua identidade. Com isso, a Polícia descobriu que se tratava de Francisco Carlos de Souza, ex-deputado estadual pelo PT.
Os delatores da empreiteira entregaram imagens do ex-deputado chegando na UTC para pegar o dinheiro. Segundo a investigação, a ex-mulher de Chicão, Zuleica Lopes maranhão de Souza, e um irmão dele, Gilberto Queiroz de Souza, tinham ligações ou eram donos das gráficas que receberam o valor de R$ 2,6 milhões.
Vale lembrar que em junho de 2017, a campanha do ex-prefeito Fernando Haddad foi alvo da Operação Cifra Oculta, um desdobramento da Lava Jato. Na época, os investigadores solicitaram a condução coercitiva do petista, que foi negada pela Justiça.
O que diz Haddad
Em nota, a assessoria do petista afirma que “não há o mínimo indício de qualquer participação de Fernando Haddad nos atos descritos por um colaborador sem credibilidade, cujas declarações já foram colocadas sob suspeita em outros casos. O uso descuidado do indiciamento sem elementos concretos de prova banaliza o instituto que deveria ser reservado para situações em que ao menos haja indicio de envolvimento de alguém em atos ilícitos”.
Ainda segundo a nota, o delegado “desconsiderou o depoimento do dono da gráfica, o empresário Francisco Carlos de Souza, que negou ter recebido recursos da UTC para quitar dívida de campanha do ex-prefeito Fernando Haddad”.
“O delegado também desconsiderou as provas apresentadas que atestam a suspensão da única obra da UTC na cidade, o túnel da avenida Roberto Marinho, em fevereiro de 2013, data anterior portanto ao suposto pagamento. Da mesma forma que outras ações do delegado João Luiz de Moraes Rosa foram bloqueadas pela Justiça, temos a confiança que está terá o mesmo destino”, finaliza a nota da assessoria do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
Operação Cifra Oculta
A Polícia Federal deflagrou na manhã do dia 1º de junho do ano passado a Operação Cifra Oculta para apurar crimes eleitorais e lavagem de dinheiro relacionados à campanha para a Prefeitura de São Paulo em 2012, do então candidato do PT, Fernando Haddad.
Trinta agentes da PF cumpriram nove mandados de busca e apreensão expedidos pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, nas cidades de São Paulo, São Caetano e Praia Grande.
O inquérito foi um desmembramento da Operação Lava Jato e teve início em novembro de 2015 após a determinação do Supremo Tribunal Federal para desmembrar o acordo de colaboração premiada de executivos da UTC em anexos para que cada Estado realizasse sua investigação.
Este inquérito apurou o pagamento, por parte da empreiteira, de dívidas de uma das chapas da campanha de 2012 à Prefeitura paulistana, referentes a serviços gráficos na quantia de R$ 2,6 milhões. Segundo as investigações, a gráfica pertencia a familiares de um ex-deputado estadual.
O valor teria sido pago por meio de um doleiro, em transferências bancárias e dinheiro vivo, para empresas. “Uma empresa mencionada na delação aparece como fornecedora de serviços, com valores informados de R$ 354.450,00. Somente consta na prestação de contas ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral] outra prestação de serviços gráficos de R$ 252.900,00, valores bem inferiores à soma de R$ 2.600.000,00, que teria sido paga pela empreiteira UTC a gráficas”, dizia a nota da PF à época.
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