Artigo de Marta Suplicy, PODER 360
Ciente do privilégio e com um ponto de interrogação,
embarquei na comitiva do presidente Temer a Davos. Qual seria o ângulo
escolhido pelo presidente para o discurso de retorno do Brasil ao “centro” do
mundo capitalista?
Como mostrar aos investidores que nosso país, além de
caminhar a passos firmes para a recuperação econômica, com responsabilidade
fiscal, criou um ambiente seguro para investimentos, preza os princípios
democráticos e não vislumbra alternativas para mudanças na agenda de reformas?
Enfim, que o Brasil tem rumo e um caminho claro, contrário ao isolacionismo.
As camadas mais carentes percebem que tem alguma melhora: a
comida está mais barata, alguém na família arrumou um emprego, existe uma luz
no fim do túnel. Mas a percepção ainda fica embaçada pelo aumento da gasolina,
do gás, da conta da água e de luz.
O desastre que acometeu a Petrobras com o congelamento de
preços equivocado e determinista do antigo governo, além da corrupção, tornou
necessário o aumento de ambos que são fundamentais para todas as classes.
O governo, ciente desse impacto, já diminuiu o preço do gás
em 5% e congelou os aumentos para cada 3 meses.
A sociedade já percebeu que o populismo acena com o paraíso,
mas não o entrega.
Existe também uma percepção que a capacidade de diálogo e de
se relacionar com o Congresso é condição necessária para o exercício do poder e
que a falta de traquejo na vida pública pode comprometer um governo.
O presidente Temer deixou claro que este é um governo que
acredita na integração do Brasil com o mundo, que resgata acordos e se aproxima
do Mercosul, abre frentes comerciais com países da Aliança do Pacífico e está
perto de concluir, pela 1ª vez em 20 anos, o acordo entre Mercosul e a União
Europeia.
Quanto à OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), testemunhei o esforço determinado e a animação do
secretário-geral da entidade, Angel Gurría, para a tão aguardada entrada do
Brasil na instituição. Isto nos permitirá participar nas discussões com os 35
países mais desenvolvidos e fortalecer espaço na construção de regras globais
que afetam o país e suas empresas.
Acompanhando reuniões bilaterais, pude perceber o enorme
interesse de líderes de países no aprofundamento das relações e de presidentes
de gigantes internacionais explicitando apoio às reformas e desejo de
continuidade nas políticas que consideram garantias para seus investimentos.
Penso que se, por um lado, existe aplauso para as reformas
que nos colocam no século 21, a própria agenda de palestras em Davos assinala
os perigos a que a globalização expõe os mais pobres. Nesse nosso processo de
modernização e abertura, é imperativa a ação concreta para a inclusão social.
Hoje, a mesma preocupação do mercado com segurança e
oportunidades é exigida para a diminuição da exclusão social. Temos que apoiar
e aprimorar o que deu certo no combate à fome, inovar nas soluções até agora
conhecidas, mergulhar na tecnologia, sem esquecer que a ferramenta básica para
o progresso de nação é a educação do nosso povo. Aí, no caminho de longo prazo,
é que trilharemos nossa ascensão ao 1º mundo. Num país rico como o nosso, onde
bate-se o recorde de produção agrícola, sem se usar nem 10% das terras, tudo
está para acontecer!
O presidente Temer foi convincente, mostrando com dados e
atitude que o Brasil voltou. Agora, é encarar o desafio da reforma da Previdência,
a simplificação tributária e o necessário esforço para uma revolução
educacional.
Nossa hora é agora, quando o Brasil faz as reformas, inicia
a retomada econômica e atrai investimentos com as seguranças de um país
democrático.
A diminuição da pobreza e da desigualdade não virão só das
reformas. Essa meta exige foco e determinação, além de coração e alma. Quem não
entender isso estará fora do jogo político futuro.
O governo deve, agora, utilizar a competência que tem
demonstrado para fazer gols econômicos e, também, para atingir a rede nos
programas de inclusão social.
Marta Suplicy é senadora em São Paulo pelo MDB. É formada em
Psicologia pela PUC-SP, com mestrado em Psicologia Clínica pela Michigan State
University e Pós-Graduada na Stanford University.
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