“O Facebook é uma plataforma de tecnologia e não uma editora
ou empresa de mídia”, foi o mantra oficial da empresa durante muitos anos.
Repetida por Mark Zuckerberg e pelo departamento de comunicação da empresa à
exaustão, a frase era o pilar da empresa para se eximir da responsabilidade
sobre o que era publicado na rede social. Ora, se ela é apenas uma ferramenta e
não uma empresa de mídia, não é possível responsabilizá-la por alguns usuários
publicarem notícias falsas e discursos perigosos em seus murais, certo?
Mas o argumento foi perdendo força com o passar dos anos e
se tornou (junto à questão da privacidade digital) um dos temas principais do
depoimento de Mark ao Congresso americano durante a já histórica polêmica do
uso da plataforma pela companhia britânica Cambridge Analytica — mesma empresa
que trabalhou para a campanha de Donald Trump em 2016 e conseguiu manipular a
opinião pública implantando fake news na rede. Não importam os termos técnicos,
o mundo está de olho no Facebook e a empresa, discretamente, passou a puxar a
responsabilidade para si. Assim a guerra contra as notícias falsas ganharam
força.
Em abril deste ano, foi anunciado uma parceria entre a
empresa e o verificador de notícias Boom, para melhorar o feed de notícias da
Índia (onde o problema já resultou na mortes de 22 pessoas), um mês antes das
eleições do país. As páginas que foram pegas repercutindo a má prática tiveram
o alcance dos seus posts diminuído drasticamente, tornando-as menos relevantes.
A investida do Facebook deu tão certo que foi repercutida em outros países,
inclusive no Brasil, em parceria com as agências Aos Fatos e Lupa.
Mas, nunca houve no Brasil uma operação tão complexa quanto
a desta quarta-feira (25) que desmontou uma rede coordenada com 196 páginas e
87 contas. Juntas, as páginas tinham mais de meio milhão de seguidores e eram
usadas para causar a impressão de que uma notícia falsa viesse de diferentes
veículos de comunicação independentes.
Um funcionário do Facebook que não se identificou disse à
agência de notícia Reuters que as páginas estavam sob controle de pessoas
importantes do Movimento Brasil Livre. Mais tarde, em comunicado compartilhado
no Twitter, o próprio MBL declarou que diversos de seus coordenadores foram
afetados pela iniciativa.
O problema das fake news ainda está longe de acabar por uma
razão muito específica: nós amamos. Um estudo do MIT concluiu que notícias
falsas são 70% mais compartilhadas do que as verdadeiras. Elas apelam para as
nossas emoções e senso de justiça. Logo, a vontade de apertar o botão de
“compartilhar” surge antes de racionalizar e procurar as fontes do texto.
Além disso, é mais difícil batalhar contra essa praga em
outras redes, como no WhatsApp, onde todas as mensagens são criptografadas e os
programadores não possuem acesso ao que está sendo espalhado por lá. Uma nova
função limita o número de vezes que você consegue encaminhar uma mensagem no
aplicativo. É o melhor que conseguiram fazer até agora.
No futuro, é possível que a proliferação em massa de
notícias falsas seja coisa do passado. Até lá, não custa nada pensar duas vezes
antes de compartilhar uma informação.
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