Marina encarnou aquele que Alckmin gosta de evocar como seu
padrinho: Mário Covas
Sempre mencionada como alguém frágil física e politicamente,
alvo de uma campanha de desconstrução inédita por parte do PT em 2014 e
questionada constantemente por “sumir" em momentos cruciais da vida
nacional, Marina Silva precisou dar dois passos à frente no centro de um
tablado para se agigantar e vencer o debate da Rede TV! na última sexta-feira.
Ninguém mais esperava nada de um confronto até então marcado
por uma estética de programa de auditório e candidatos na retranca evitando os
grandes temas nacionais. Tinha tudo para acabar no zero a zero de performances
e no 7 a 1 da falta de ideias, como havia sido no debate da Band.
Foi quando, chamada ao ringue por Jair Bolsonaro, Marina
vislumbrou uma chance de fazer um embate direto, duro, sem volteios e nem meias
palavras, com o líder nas pesquisas. Confrontou o adversário naquele que é seu
principal calcanhar de aquiles: a desconfiança que as pesquisas mostram haver
em relação a ele por parte do eleitorado feminino.
Conseguiu de forma clara, altiva e dura encaixar um golpe no
capitão, que ficou visivelmente desconcertado e não soube como reagir pela
primeira vez em confrontos televisivos recentes.
Fez o que os manuais do clichê marquetológico mandam não
fazer. Agiu como os senhores ali presentes, Ciro Gomes (que tratou o adversário
a quem já chamou de psicopata com uma reverência e um risinho entre cínico e
reverente nos dois debates), Henrique Meirelles (que até ensaiou abordar o tema
das mulheres, mas se atrapalhou por completo) e Geraldo Alckmin (que se
acovardou completamente nos dois debates, fugindo de esgrimir com aquele de
quem precisa tirar votos se quiser ir ao segundo turno) não tiveram coragem de
agir.
Quem sabe se revirem o vídeo do debate os marqueteiros
tenham uma lição de que é bobagem essa história de que debate não muda
percepção de eleitor, de que não se deve confrontar os adversários nesse tipo
de evento, de que isso e aquilo. Como se houvesse fórmula clara numa eleição em
que a política foi virada do avesso pela Lava Jato e está com as tripas
expostas diante de um eleitorado que está de saco na Lua.
Falei sobre isso no rádio horas antes do debate: a história
está repleta de casos em que debates francos produziram, sim, ecos nas
pesquisas e nas urnas. Se não for para apresentarem confrontos entre os
candidatos que de fato têm chance de ocupar a Presidência da República no
momento mais grave da vida nacional, de que servem esses encontros?
De que vale Geraldo Alckmin juntar 44% do tempo de TV da
propaganda eleitoral, um arsenal de deputados e senadores, se quando colocado
diante do eleitor ao vivo se comporta como um candidato a prefeito de
Pindamonhangaba, enfileirando siglas, falando de matas ciliares, chamando
sparrings para fazer pergunta porque não tem coragem de ficar tête-à-tête com
aquele que lidera a eleição no Estado em que ele governou quatro vezes?
Por que ele acha que esse discurso mole, em tom monocórdio e
sem mostrar qual seu projeto de País, sem fixar uma miserável ideia-guia que
seja, vai fazê-lo crescer?
Marina foi a candidata a encarnar aquele que Alckmin gosta
de evocar como seu padrinho político: Mário Covas. Muitas vezes cobri campanhas
em que o tucano turrão, sem paciência alguma com marqueteiros, falava nos
debates o que lhe dava na telha, ia para cima de Paulo Maluf mesmo sob ameaças
de que o outro teria “pastas" em cima da bancada para constrangê-lo. Não
tinha. E Covas venceu Maluf duas vezes.
Ao rasgar os manuais e se lançar no debate de fato, Marina
ensinou que pode haver um caminho para se discutir ideias, desconstruir mitos e
mostrar propostas nesta eleição até aqui sem balizas. Fez de graça o trabalho
dos marqueteiros.
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