SÃO PAULO Morreu nesta terça-feira aos 61 anos Otavio Frias
Filho, diretor de Redação da Folha. Mentor do Projeto Folha, que modernizou o
jornalismo brasileiro na década de 1980, ele foi vítima de um câncer originado
no pâncreas.
À frente do jornal por 34 anos, Otavio foi diagnosticado com
a doença em setembro de 2017. Morreu às 3h20 desta terça-feira no hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo. O velório ocorrerá a partir das 11h30, e a
cerimônia de cremação, às 13h30, ambos no cemitério Horto da Paz, em
Itapecerica da Serra.
Deixa Fernanda Diamant, editora da revista literária Quatro
Cinco Um, com quem teve as filhas Miranda e Emilia, e os irmãos Maria Helena,
médica, Luiz, presidente do Grupo Folha, e Maria Cristina, editora da coluna
Mercado Aberto.
Sob a direção de Otavio, a Folha se tornou o maior e mais
influente jornal do Brasil, líder em circulação e em audiência, posições que
veio mantendo desde então. O veículo consolidou-se como uma referência no
jornalismo apartidário, pluralista, crítico e independente.
Esses princípios foram recentemente atualizados na versão de
2018 do “Manual da Redação”, cuja confecção Otavio liderou. Em texto de 25 de
fevereiro último, intitulado “Jornalismo, um mal necessário”, na coluna mensal
que mantinha na Ilustríssima, escreveu:
“O jornalismo, apesar de suas severas limitações, é uma
forma legítima de conhecimento sobre o nível mais imediato da realidade. Para
afirmar sua autonomia, precisa cultivar valores, métodos e regras próprios”.
Antes mesmo de assumir o principal cargo do jornal, o que
aconteceria em maio de 1984, Otavio participou de momentos cruciais no processo
que desaguaria no Projeto Editorial da Folha.
Em sua última versão, de 2017, o texto preconiza o
jornalismo profissional como antídoto para a notícia falsa e a intolerância.
“Caberá ao conjunto dos veículos semelhantes à Folha enfatizar sua condição de
praça pública, em que se contrapõem os pontos de vista mais variados e onde o
diálogo em torno das diferenças é permanente.”
Em 1974, aos 17 anos, sob a gestão de seu pai, Octavio Frias
de Oliveira (1912-2007), depois publisher da Folha, participou da decisão de
abrir as páginas do jornal para diferentes correntes de opinião, incluindo os
opositores da ditadura militar.
Essa vocação para a abertura viria a se cristalizar na
campanha pelas Diretas Já, em 1983, da qual o jornal foi protagonista na
imprensa brasileira. Em artigo do último dia 17 de junho para a mesma coluna da
Ilustríssima, reafirmou seu otimismo em relação à democracia no Brasil.
“Foi na trabalhosa maturação dessa ‘abertura’ que se
consolidou, nas camadas politizadas, a profunda consciência democrática,
expressa num pacto não escrito de não violência, hoje posta sob desafio”,
escreveu então, a propósito de clamores, da parte de grupos radicais, por uma
nova intervenção militar.
“Há um momento em que a trama das relações econômicas e
sociais se torna complexa demais para caber na lógica simplória da caserna, há
um ponto em que a democracia passa a ser o único sistema capaz de regular uma
sociedade atravessada por incontáveis interesses contraditórios.”
Nascido em São Paulo em 7 de junho de 1957, primogênito do
casal Octavio e Dagmar Frias de Oliveira (1925-2008), Otavio Frias Filho
bacharelou-se em direito na USP, onde também cursou pós-graduação em ciências
sociais. Lançou os livros de ensaio “De Ponta Cabeça” (2000), “Queda Livre”
(2003) e “Seleção Natural” (2009), entre outros.
Como dramaturgo, teve peças encenadas em São Paulo, entre
elas “Típico Romântico”, “Rancor” e “Don Juan”. Uma versão teatral de “O
Terceiro Sinal”, texto em que narra sua experiência como ator, esteve em cartaz
no Teatro Oficina até maio, com a atriz Bete Coelho.
Nos últimos 11 meses, Otavio reduziu sua rotina de pautar e
aprovar os editoriais diariamente e de participar de reuniões semanais com o
comando da Redação, onde tomava as principais decisões.
Otavio deixa pronto um livro infantil, “A Vida é Sonho e
Outras Histórias para Pensar”, e uma coletânea de artigos publicados nos
últimos anos. Otavio deixa inacabado um livro em que pretendia traçar um
quadro, entre ensaístico e biográfico, dos tempos e da vida de seu pai,
entremeando-os com suas próprias experiências atuais.
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