Ciro Gomes (PDT), candidato à Presidência, tem reforçado
proposta controversa de reverter a negativação de nomes no mercado. Ele promete
limpar nomes a partir do investimento público no refinanciamento das dívidas. O
POVO Online consultou economistas. Eles duvidam da viabilidade e dos efeitos da
medida.
O presidenciável explicou em vídeo, em sua página nas redes
sociais, como pretende cumprir a promessa de tirar o nome dos brasileiros do
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Acrescentou que os devedores terão ainda
três meses de carência para começar a pagar o empréstimo que fariam nos bancos
para quitar as dívidas.
Na peça publicitária, ele afirma ainda que, em média, os
brasileiros devem R$ 4.200. Com o desconto do programa prometido, essa dívida
pode cair para até R$ 1.200.
Ele afirmou que irá negociar os débitos dos endividados
diretamente com as instituições financeiras. "Aí vou tirar os juros de
486% e vou cobrar de 10 a 12%", acrescentou, mencionando que as transações
poderão ser feitas através de bancos públicos.
"Estou preparando um projeto só com Caixa Econômica,
Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Basa, Banrisul. Vai dar certo",
prometeu.
A proposta de Ciro foi alvo de ataques feitos sobretudo por
Persio Arida, assessor econômico do tucano Geraldo Alckmin (PSDB), que disparou
contra o que chamou de "promessas irresponsáveis". Ele estimou que a
proposta de Ciro teria um impacto superior a R$ 60 bilhões nas contas públicas.
"Motor"
Para o economista José Irineu de Carvalho, a medida só faz
sentido se não visar ao consumo. "Algumas pessoas realmente têm
dificuldade para pagar. Mas não tem sentido limpar o nome para gastar e sujar
novamente", opina.
+ Cid compartilha memes e até repente sobre proposta de Ciro
do SPC
José Irineu completa que o refinanciamento da dívida pode
gerar ainda mais prejuízo aos bancos e ao País. "É o princípio da
inflação", adverte.
Mas a proposta de Ciro justamente prevê reaquecimento da
economia. "Vou ajudar a limpar o nome das pessoas não é porque sou
bonzinho. É porque meu projeto prevê que um dos motores da economia é o consumo
das famílias", disse Ciro em transmissão ao vivo no Facebook.
Cálculos
Para o economista Érico Veras Marques, pesquisador da área
de finanças comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), a
viabilidade da proposta ainda é uma dúvida. "Tem que ver os aspectos
legais disso, a viabilidade econômica e política. Levar o endividamento para o
setor público teria custo alto. É preciso ir para a origem do problema",
ratifica, ponderando as causas da inadimplência, como a recessão e o
desemprego.
"Os bancos negociariam empréstimos a essas pessoas, tem
certo sentido. Mas no Refis (refinanciamento de dívidas dos contribuintes
jurídicos), há renúncia: o governo deixa de receber. É uma proposta de eleição,
acho que ele se arrependeu de dizer isso, virou motivo de piada", finaliza
Érico.
Viabilidade
Já o candidato afirma que ouve especialistas há mais de um
ano. Em comício na última quinta-feira, 16, ele explicou a jornalistas que a
proposta envolve leilão. "Financeiras, bancos e empresas de cartão de
crédito e de crediários que me derem o maior desconto serão as primeiras a
serem refinanciadas. E pega os mais pobres de baixo para cima e empresta pelo
Banco do Brasil e pela Caixa em até 36 meses de prazo". O pedetista
acredita que o desconto nas dívidas pode chegar até 90%.
Artigo de Ciro: "O Brasil pede mudança!"
De acordo com o presidenciável, a dívida média do brasileiro
está em 4.200. Com redução de juros, a dívida média seria reduzida a R$ 1.400.
"Se eu picar as prestações em 36 meses, ele vai pagar prestação ao redor
de R$ 40 por mês e vai fazer ele a sair da humilhação, e ajudar o país a voltar
a turbinar a economia" argumentou ainda no comício do dia 16.
Ouvido pela equipe de Ciro em peça publicitária, o
economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor emérito da Universidade Estadual de
Campinas, concorda. Ele menciona exemplos de reestruturação de dívidas como a
feita na Alemanha, após a II Guerra Mundial. "Em 1948, houve reforma
monetária que fez isso. É forma fundamental de criar condições monetárias para
que as pessoas possam gastar".
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