O ex-governador do Distrito Federal Joaquim
Roriz morreu às 7h50 desta quinta-feira (27), após um choque
séptico decorrente de complicações de infecção pulmonar. Ele tinha
82 anos. A informação foi confirmada pela família e pelos médicos.
A previsão é de que o velório de Roriz comece às 15h desta
quinta, no Memorial JK, no centro de Brasília. O local foi escolhido pela
viúva, Weslian Roriz. Às 9h de sexta (28), será rezada uma missa no monumento.
O enterro será às 11h, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.
Roriz
estava internado no Hospital Brasília desde 24 de agosto, após
sofrer um quadro de pneumonia e febre.
Nesta quarta (26), o
quadro clínico do ex-governador piorou. Segundo familiares, ele sofreu um
infarto à tarde e duas paradas cardíacas e respiratórias no fim da noite, além
de enfrentar um quadro infeccioso. Nas primeiras horas da noite, um padre foi
chamado para ministrar a extrema-unção, sacramento ligado à tradição católica.
Nos últimos anos, Roriz lidava com diversas doenças crônicas
como diabetes, mal de Alzheimer, demência, hipertensão e insuficiência renal (veja
detalhes abaixo). Ele deixa a mulher, Weslian, três filhas – Jaqueline,
Liliane e Wesliane –, quatro netos e um bisneto.
Roriz nasceu em 4 de agosto de 1936, em Luziânia (GO), e
iniciou a carreira política na cidade goiana, onde foi vereador. Antes de
iniciar a vida em Brasília, foi eleito deputado estadual (1978), deputado
federal (1982) e vice-governador do estado de Goiás (1986). De 1987 a 1988, foi
prefeito da capital, Goiânia, como interventor.
No mesmo dia em que deixou a prefeitura de Goiânia, em 17 de
outubro de 1988, Roriz se tornou governador do Distrito Federal, indicado pelo
então presidente do país, José Sarney.
Na época, o DF não tinha o direito de eleger seu governador pelo voto direto.
Ele permaneceu no cargo até março de 1990, quando assumiu o
Ministério da Agricultura nas duas primeiras semanas do governo de Fernando Collor.
Nos quase 18 meses em que foi governador biônico do DF, ele foi acusado pelos
adversários políticos de ter distribuído lotes a eleitores, já de olho na
disputa direta pelo cargo em outubro de 1990.
Roriz voltou ao Palácio do Buriti em março de 1991 – desta
vez, como o primeiro governador eleito da nova capital. A vice na chapa era
Márcia Kubitschek, filha de Juscelino.
O político também foi eleito governador do Distrito Federal
nas eleições de 1998 e 2002. Nesse período, inaugurou a primeira linha de metrô
da capital federal e a Ponte JK, um dos principais cartões postais da cidade.
Saúde
O quadro de saúde de Roriz era considerado grave há pelo
menos um ano. Em agosto de 2017, o ex-governador amputou dois dedos do pé e,
dias depois, a perna direita na altura do joelho. O procedimento foi motivado
por complicações do diabetes, descoberto há 30 anos.
Roriz também sofria de insuficiência renal, que o obrigava a
fazer hemodiálise todo dia, em casa. Nos últimos meses, o político era levado
mensalmente a hospitais particulares do Lago Sul, para exames e monitoramento
das funções vitais.
Em abril deste ano, Roriz voltou a ser internado em leito
semi-intensivo – desta vez, com quadro de pneumonia. A situação se repetiu em
agosto e, desde então, o governador não recebeu alta novamente.
Em fevereiro, laudo do Instituto Médico Legal confirmou que
Roriz tinha quadros de “mal de Alzheimer em estágio avançado” e “demência
vascular”. No documento, constava que o político não tinha esboçado reação nos
testes de estado mental.
Em depoimento ao IML, Weslian Roriz disse que os primeiros
sintomas começaram há oito anos, e se agravaram desde 2015. Na descrição feita
à época, disse que o marido “não sabe lidar com dinheiro, não realiza tarefas
domésticas, ‘não sabe o que acontece na política’ e chama pela mulher com
frequência, ao longo do dia”.
Importância política
Em 2015, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) – antigo
opositor político – prestou homenagem a Roriz, a quem chamou de “governador
que mais marcou a vida de Brasília”. Naquele momento, Roriz já estava
em uma cadeira rodas e, em razão da saúde frágil, fez apenas um breve discurso
ao receber o título de cidadão honorário de Brasília.
"Eu me sinto muito emocionado quando vejo essa casa,
construída em homenagem a JK, cheia de gente. A emoção de me tornar cidadão de
Brasília, essa cidade que me acolheu e que me permitiu viver os melhores
momentos da minha vida. Não tenho muito o que falar.”
“O que consegui realizar, os amigos que fiz ao longo dos
anos, falam por mim", disse Roriz, amparado por aliados históricos do clã.
Trajetória conturbada
Paralelo ao sucesso nas urnas, Roriz protagonizou uma
sucessão de escândalos na política do DF. Já no quarto mandato, após a eleição
de 2002, Roriz deixou o governo para se candidatar ao Senado.
Eleito com 113 mil votos, ele renunciou após cinco meses no
cargo, em julho de 2007, para evitar um processo de cassação por quebra de
decoro no Conselho de Ética do Senado.
De acordo com as investigações da Polícia Civil na operação
Aquarela, Roriz foi gravado ao telefone com o ex-diretor do Banco de Brasília
(BRB) Tarcísio Franklin de Moura, negociando a partilha de R$ 2,2 milhões
sacados em uma agência da instituição.
O episódio ficou conhecido como “Bezerra de Ouro” porque
Roriz afirmou que o valor se referia à compra do embrião de uma bezerra de
raça, em São Paulo.
Durante a operação, Moura e outros citados foram presos pela
Polícia Civil. O grupo foi acusado de lavagem de dinheiro e fraude em
licitações, entre outros crimes.
Em 2017, Roriz
deixou de ser réu por formação de quadrilha e peculato porque os crimes
prescreveram. Além da demora para a conclusão do caso, Roriz recebeu o
direito à atenuação de pena por ter mais de 80 anos.
Candidatura derrubada
No último movimento político como protagonista, em 2010,
Joaquim Roriz chegou a lançar candidatura ao governo do Distrito Federal,
buscando um quinto mandato no cargo. A tentativa foi vetada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) com base na lei da Ficha Limpa.
A coligação “Esperança Renovada” indicou como substituta a
mulher dele, Weslian Roriz. Ela disputou o segundo turno contra o candidato do
PT, Agnelo Queiroz, mas recebeu 33,9% dos votos e foi derrotada.
No último dia de campanha, o
clã Roriz empregou todos os minutos do programa eleitoral em
direitos de resposta.
Caixa de Pandora
Joaquim Roriz também foi investigado na Operação Caixa de
Pandora. A ação foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 2009, com base na
delação do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa. O
escândalo também ficou conhecido como "Mensalão do DEM”.
Em fevereiro de 2016, Joaquim Roriz e Arruda foram
condenados por improbidade administrativa pelo envolvimento no esquema de
corrupção. As defesas recorreram, e um pedido de perícia nos gravadores usados
por Barbosa travou o processo por dois anos. Em agosto, a
suspeita de fraude foi descartada.
Legado político
Já fora da vida pública, Roriz deixou como principais
herdeiras do legado político duas das três filhas: Liliane e Jaqueline.
Atualmente, os três estão inelegíveis com base na Lei da Ficha Limpa.
Jaqueline foi flagrada, em vídeo, recebendo dinheiro das mãos
de Durval Barbosa no mensalão do DEM. Eleita deputada federal em 2010, foi
denunciada por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara – o plenário
rejeitou o processo em votação secreta.
Em 2014, no entanto, Jaqueline foi condenada por improbidade
administrativa ligada ao caso, e virou “ficha suja” junto com o pai. Naquele
ano, oito membros do clã Roriz se inscreveram nas eleições, mas apenas
Liliane Roriz foi eleita.
Como distrital, Liliane denunciou
um suposto esquema de propina na Câmara Legislativa do DF para privilegiar
empresas de saúde que tinham faturas a receber do governo.
Atualmente, cinco distritais são réus
na operação Drácon, ligada à denúncia – Liliane não é acusada.
A deputada, no entanto, está
inelegível porque foi condenada por compra de votos e falsidade
ideológica na campanha de 2010. Liliane recorreu, mas não se candidatou para as
eleições deste ano.
Veja mais notícias sobre a região no G1 DF.
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