Conforme Jair Bolsonaro prometeu no último domingo, caso chegue à Presidência: “Vai haver uma limpeza como nunca houve antes nesse país. Vou varrer os vermelhos do Brasil. Ou vão embora ou vão para a cadeia.”
Sou um dos “vermelhos” diretamente ameaçados pelo candidato. Sou filiado ao Psol e acabei de disputar as eleições para o Senado no Distrito Federal. Sua fala é claramente direcionada a todos os militantes de partidos de esquerda, entre os quais o Psol é uma força em ascensão.
Por não concordar com a perseguição aos adversários, por discordar do racismo, do machismo, da LGBTfobia e todo o ódio que o candidato propaga, vou trabalhar até as eleições para convencer as pessoas do equívoco que é colocá-lo na Presidência.
Se tudo der errado, estarei nas ruas lutando contra as políticas de disseminação do ódio e da violência que ele tentará implementar. Não tenho dúvidas de que a minha liberdade e integridade física, assim como a dos demais companheiros que estarão ao meu lado, estará em risco neste momento. E isso é muito grave!
As ameaças diretas aos opositores inúmeras vezes feitas candidato não têm precedentes na história democrática de nosso país e em nenhuma outra democracia, regime que pressupõe o diálogo e o debate entre as várias forças que compõem a sociedade.
É imprescindível a adoção de providências pelas instituições, que, infelizmente, não estão funcionando e assistem passivamente à disseminação do ódio em nossa sociedade.
Não bastasse a gravidade das ameaças dirigidas à militância de esquerda, o candidato dirigiu seu ataques também a movimentos sociais, como o MTST e o MST, nominalmente citados no seu discurso de ódio, assim como as entidades que atuam na defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas, os quais fazem parte do “ativismos” que o candidato prometeu eliminar.
A cada dia, a lista dos “vermelhos” aumenta. Basta uma manifestação contrária ao candidato e a seus seguidores. Artistas nacionais ou estrangeiros, atletas, veículos de comunicação historicamente identificados com o liberalismo, como a Rede Globo e a The Economist, jornalistas historicamente identificados com a direita, como Rachel Sheherazade, Arnaldo Jabor, Marco Antonio Villa e Reinaldo Azevedo, todos do dia pra noite convertem-se em “vermelhos” aos olhos do candidato e, portanto, podem ser metralhados, exterminados, presos, torturados e banidos.
Se você está lendo esta coluna e ainda não faz parte da lista de “vermelhos” a serem eliminados, é melhor colocar as barbas de molho.
Em caso de vitória do candidato, certamente passarão a ser enquadrados em sua lista de opositores “vermelhos” todos aqueles que discordarem de que a saída para o problema da violência seja a facilitação do acesso ao porte de armas. Todos aqueles que entenderem que uma mulher não merece ser estuprada em hipótese alguma, ou aqueles que entenderem ser uma insanidade submeter o Ministério do Meio Ambiente ao controle dos ruralistas.
Farão parte, ainda, da lista aqueles que discordarem de ideias absurdas como a retirada do Brasil da ONU ou a adoção do ensino à distância para nossas crianças. Sem falar dos mais pobres que se levantarem contra o aumento de sua idade para aposentadoria, enquanto os grandes devedores da previdência continuam sem recolher o que devem e os beneficiários que mais percebem da previdência permanecem intocados.
Hoje o “vermelho” que Bolsonaro promete metralhar, prender, torturar, exterminar sou eu. Amanhã, o “vermelho” pode ser você. Nunca pensei que o discurso do pastor luterano alemão Martin Niemöller pudesse ser tão atual:
Quando os nazis vieram buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar.
Ainda podemos mudar isso, basta não nos omitirmos. Basta nos importarmos agora.
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