O grande inchaço da máquina pública, desde a
redemocratização, ganhou forma entre os governos Fernando Collor e Itamar
Franco. Em 1992, sob a administração do autoproclamado caçador de marajás, o
Brasil possuía 14 ministérios. Pulou para 28 pastas — ou seja, dobrou — dois
anos depois, na coalizão montada para dar sustentação ao vice do presidente
deposto. Foi quando o Ministério da Economia acabou desmembrado no tripé
Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio. E ganhou vida o ministério do
Meio Ambiente. De lá para cá, a Esplanada dos Ministérios só aumentou, embora
não com o ímpeto daquele intervalo de apenas dois anos. Vinte e seis anos
depois, o presidente eleito Jair Bolsonaro trilha o caminho inverso. Para a
hercúlea tarefa de passar a tesoura na estrutura ministerial, sem se indispor
com os aliados, o capitão reformado montou uma equação matemática simples e de
lógica elementar. Ao reduzir para 15 o número de pastas, dividiu-as em três
grupos de cinco e criou sua própria regra de três: está concedendo cinco pastas
para militares, como o General Augusto Heleno para a Defesa, cinco pastas para
colaboradores da campanha, como Paulo Guedes, da Economia, e outras cinco para
integrantes dos partidos aliados, como Onyx Lorenzoni, do DEM, escolhido para a
Casa Civil. A vantagem dessa composição é que lhe sobra margem de manobra para
encaixar mais apoiadores de outras legendas, como o DEM, caso encontre
dificuldades mais adiante em seu governo. Nesse caso, ele pode sacrificar algum
integrante da ala militar ou do grupo dos colaboradores de campanha, que lhe
são fiéis, para agregar ao grupo dos 15 algum neoaliado com o propósito de
alcançar a governabilidade.
Homem forte
Essa nova equação do poder, Bolsonaro pretende resolver até
o início de dezembro, quando anunciará a lista completa dos novos auxiliares.
Antes disso, o presidente eleito começa a solucionar uma questão mais simples,
de somar dois mais dois: na largada escolheu os quatro principais ministros. Na
área econômica, o homem forte do governo será o economista Paulo Guedes, que
assumirá o superministério da Economia, englobando a Fazenda, Planejamento,
Indústria e Comércio Exterior. Ou seja, a pasta desmembrada por Itamar Franco,
no longínquo ano de 1994, volta a sua composição original. A Casa Civil, pasta criada
em dezembro de 1938 por Getúlio Vargas, será comandada deputado reeleito Onyx
Lorenzoni (DEM-RS) assumirá o papel de principal gestor político. Em sua
estréia, conduzirá a equipe de transição.
Outro nome proeminente será acomodado na Justiça, pasta nascida
em 1822, pelas mãos do então Príncipe Regente D. Pedro de Bragança, mas que
agora será robustecida a partir da incorporação de novas atribuições, como a
administração do COAF. Até então, o ministeriável era o advogado Gustavo
Bebianno, presidente do PSL que cuidou da estratégia jurídica da campanha. Mas
na quinta-feira 1 Bolsonaro realizou seu sonho dourado, acalentado desde os
primórdios da campanha: obteve o “sim” do juiz Sergio Moro para a pasta. O
martelo foi batido em encontro no Rio. A Justiça deve ser o carimbo no
passaporte para, em menos de dois anos, Moro ascender ao STF (leia mais às
págs. 42 e 43). Por fim, ao general Augusto Heleno será entregue a chave da
Defesa, outro órgão de destaque no governo.
Derrotado na disputa ao Senado, Magno Malta (PR-ES) está
cavando espaço no grupo dos colaboradores diretos. Ele foi um dos mais
ardorosos articuladores com as lideranças evangélicas. Cotado para as Relações
Exteriores (MRE), o ministério mais longevo de todos, criado em 1736 por D.
João V, encontrou resistências internas no Itamaraty, onde a preferência é por
um diplomata de carreira. Mas o diplomata Ernesto Fraga Araújo também é
considerado em razão de suas posições favoráveis ao presidente dos EUA, Donald
Trump, o que agrada Bolsonaro. A alternativa para Malta seria o novíssimo
Ministério da Família, que pode ser criado e reuniria fragmentos das pastas do
Desenvolvimento Social, dos Direitos Humanos e da Cultura. A cereja do bolo é o
controle do Bolsa Família, com um orçamento estimado em R$ 30 bilhões para
2019.
Postos estratégicos
Para a Ciência e Tecnologia, uma pasta da lavra do governo
José Sarney, Bolsonaro anunciou o nome do astronauta Marcos Pontes, mais um
nome técnico, contrastando com o desfile de figurinhas carimbadas da velha
política que sempre compuseram os ministérios dos seus antecessores.
Considerada estratégica, a Agricultura é alvo de negociações. Os ruralistas
batiam o pé contra a intenção de colocar o Meio Ambiente sob a tutela da pasta,
mas a fusão está consumada, segundo anúncio de Onyx Lorenzoni na terça-feira
30. Os postulantes para o cargo são Nabhan Garcia, agropecuarista que preside a
União Democrática Ruralista (UDR), o senador eleito Luiz Carlos Heinze (PP-RS)
e Valdir Colatto (MDB-SC), que não se reelegeu. A articulação é acompanhada
pela deputada Tereza Cristina (DEM-MS), presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA), que também tem chances de ser escolhida.
Para a Educação são quatro os candidatos: Aléssio Ribeiro,
Stravos Xanthopoylos, Mendonça Filho e Eduardo Mufarej. Ribeiro é general da
reserva e foi assessor de campanha para o tema e é contra o que chama de
“ideologia de esquerda e de gênero”. Xanthopoylos é especialista em ensino à
distância, uma das bandeiras da campanha. Derrotado para o Senado, o
ex-ministro da Educação de Temer Mendonça Filho (DEM) está no páreo. Eduardo
Mufarej, da ONG RenovaBR, conta com o apoio do futuro ministro da Fazenda Paulo
Guedes. Para a Saúde, os cotados não são políticos, como Nelson Teich,
oncologista do Rio. Bolsonaro prometeu formar um governo longe do toma-lá-dá-cá
dos partidos tradicionais. Até aqui, a equação logrou êxito.
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