De acordo com pesquisa realizada pela Universidade de East
Anglia, no Reino Unido, na lista de efeitos nocivos do aquecimento global
figura também uma ameaça à fertilidade masculina.
Por enquanto isso foi observado em insetos, mas os
cientistas acreditam que o problema se repita em todas as espécies animais,
segundo trabalho publicado na semana passada no periódico Nature Communications
.
"Os besouros são fundamentais para a biodiversidade,
então esses resultados por si só já são importantes para entender como as
espécies reagem às mudanças climáticas", afirma o biólogo Kris Sales, da
Universidade de East Anglia.
"Mas nossa pesquisa também indica que ondas de calor
podem prejudicar a reprodução masculina em animais de sangue quente, levando a
questão inclusive aos mamíferos."
Segundo o estudo, ondas de calor danificam espermatozoides,
o que causa um impacto negativo para a fertilidade ao longo de gerações.
Os pesquisadores
ainda estudam se as mudanças climáticas podem causar diminuições de
representantes de uma espécie e até mesmo as extinções delas.
"Sabemos que a biodiversidade sofre com as mudanças
climáticas, mas as causas específicas e as sensibilidades são de difícil definição",
diz o zoólogo Matt Gage, professor da Universidade de East Anglia.
"Nosso trabalho mostra que a função espermática é uma
característica especialmente sensível quando o ambiente se aquece."
Gage prossegue lembrando que, como os espermatozoides têm
papel essencial na reprodução e, consequentemente, na continuidade das
populações, as descobertas podem lançar mais uma explicação sobre os motivos de
a biodiversidade do planeta estar sofrendo com as alterações no clima.
Estudo foi feito com besouro Para chegar a tais conclusões,
os pesquisadores analisaram um inseto chamado Tribolium castaneum, popularmente
conhecido como besouro-de-farinha-vermelho ou besouro-castanho.
Alguns desses bichos
foram expostos, durante cinco dias, a ondas de calor de 5 a 7 graus acima do
ambiente normal.
Em seguida, uma série de experimentos avaliou os danos aos
órgãos reprodutivos, funções espermáticas e qualidade da prole. Resultado: o
aquecimento ambiental matou o esperma dos besouros.
As ondas de calor reduziram pela metade a quantidade de
descendentes que os machos podiam produzir e, quando os besouros eram
submetidos a uma segunda onda de calor, terminavam praticamente estéreis.
No caso das fêmeas,
elas não tiveram seu sistema reprodutivo diretamente afetado pelo calor. Quando
tinham esperma já inseminado em seus tratos reprodutivos, esse material acabava
sendo afetado dentro do organismo delas, comprometendo a geração de
descendentes.
Mesmo após o fim das
ondas de calor artificialmente produzidas pelos cientistas, os animais não
voltaram ao normal, o que indica que um dano provocado pelo aquecimento global
no sistema reprodutivo não deve ser totalmente reversível.
Com a temperatura já
normalizada, os machos seguiram produzindo menos espermatozoides --uma redução
de 75%.
Mesmo depois da
cópula, esses espermatozoides se revelaram mais frágeis e raramente conseguiram
percorrer todo o trato feminino até a fertilização.
"Nossa pesquisa demonstrou que ondas de calor reduzem à
metade a capacidade reprodutiva masculina. A consistência desse efeito foi
surpreendente", resume Sales.
Os pesquisadores notaram também uma mudança comportamental.
As ondas de calor reduziram o interesse sexual dos machos, que acabaram se
relacionando com menos frequência e com um menor número de parceiras.
Impacto em gerações seguintes
Os cientistas reportaram um efeito de "bola de
neve": as dificuldades reprodutivas causadas pela onda de calor acabam
sendo herdada pela geração seguinte.
"O impacto de
sucessivas ondas de calor nos machos e o impacto das ondas de calor em futuras
gerações são os resultados que mais nos preocuparam", afirma Sales.
A pesquisa mostrou
que besouros gerados com espermatozoides de pais submetidos a ondas de calor
tiveram vidas mais curtas. Eles também apresentaram menor capacidade de
fertilização, produzindo menos descendentes.
"Esses dados são
muito importantes para compreendermos como as espécies reagem às mudanças
climáticas", conclui Sales. Os pesquisadores acreditam que resultados
semelhantes seriam obtidos em mamíferos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário