Governo pode negociar mil cargos de 2º escalão por apoio à
Previdência
O governo do presidente Jair
Bolsonaro discute com parlamentares a possibilidade de nomear mais
de mil cargos de segundo escalão nos Estados como forma de ajudar o Executivo a
garantir votos para aprovar a reforma da Previdência, afirmou à Reuters o secretário
Especial para a Câmara dos Deputados, Carlos Manato.
As nomeações para o segundo escalão, disse Manato, estão
suspensas por ordem do presidente até o retorno dele, que está hospitalizado
desde o fim de janeiro recuperando-se da terceira cirurgia em razão do atentado
à faca ainda na campanha eleitoral. Nesta terça-feira, o ministro da Economia,
Paulo Guedes, recebeu o texto final da reforma e que deverá ser apresentado ao
presidente.
Por outro lado, um relatório com a lista das sugestões dos
parlamentares para os cargos será apresentada em breve ao presidente para que
ele e os ministros das respectivas áreas decidam sobre as nomeações.
Segundo Manato, o presidente e os ministros vão avaliar
primeiro se os cargos são estratégicos e, por isso, não passíveis de entrarem
na negociação com deputados e senadores.
Se na “peneira” o cargo for considerado apto para a
indicação de parlamentares, completou o secretário, os nomes terão de passar
pelos seguintes critérios: ter perfil técnico, ser ficha limpa e possuir
experiência para o cargo. Na lista dos pleitos, constam cargos do Dnit, Funasa,
Ibama, Incra, Correios, Receita Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária
Federal, superintendências da Agricultura, Conab e Geap.
Manato, que foi deputado por quatro mandatos, afirmou que a
grande maioria das indicações é de funcionários de carreira, não de livre
nomeação. Ele destacou que as nomeações, ao lado da discussão das emendas
parlamentares, em parte atribuição também da Casa Civil, contribui para a
criação de um ambiente favorável para tentar se aprovar a reforma da
Previdência.
“Os deputados gostam de mostrar poder se esse pacote todo
ajuda (o governo)”, disse Manato, cuja secretaria faz parte da Casa Civil. Ele
avaliou que quer os deputados focados na discussão do mérito da reforma sem
poder alegar outras razões para não analisar a Previdência. “Por que (o
parlamentar) vai reclamar do governo?”, questionou.
Manato disse não considerar essa forma como o tradicional
“toma lá, dá cá”, forma de se fazer política rechaçada por Bolsonaro desde a
campanha. “Não tem isso de toma lá, dá cá. São pessoas técnicas”, defendeu ele,
que atualmente é filiado ao PSL, partido de Bolsonaro.
Após o veto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
de liberar uma sala para o governo despachar, o secretário tenta garantir que o
seu partido garanta uma sala para atender diretamente as demandas dos deputados
dentro do Congresso.
Dificuldades
“Estamos ainda montando o segundo escalão. Não está sendo
fácil”, disse à Reuters o assessor especial da Casa Civil Abelardo Lupion,
ex-deputado federal que teve seis mandatos e também envolvido nas negociações
dos cargos. Segundo ele, tem sido difícil convencer pessoas a topar assumir os
cargos e deixar sua vida profissional.
Ainda assim, Lupion disse que toda a equipe da Casa Civil
que trata de relações com o Congresso –com cerca de 10 pessoas, boa parte de
ex-parlamentares– está “muito otimista” com a estratégia para garantir a
aprovação da reforma. Ele não quis precisar quantos votos o governo teria –é
preciso o apoio de pelo menos 308 dos 513 deputados para passar a Previdência
no plenário da Câmara em dois turnos de votação.
O assessor especial afirmou que o trabalho que está sendo
feito é para não se “destruir” a relação com os deputados após a votação da
reforma diante do delicado tema. Ele destacou que ainda haverá conversas com
governadores e até com dirigentes de partidos em busca de apoio para a
Previdência.
“Está sendo feita uma coisa para não errar, não errar a
mão”, disse, ao considerar ser possível votar a reforma na Câmara e no Senado
até julho.
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