Muito antes da chuva de
segunda-feira, o prefeito Marcelo
Crivella já estava devastando o Rio com seus ventos de zero quilômetro
por hora. O carioca sabe do que estou falando. A cada rua esburacada, calçada
imunda, lixo por recolher, equipamento urbano destruído, sinal de trânsito
quebrado, carros do VLT e do BRT parados e vigilância zero nas ruas, a cidade
se desfaz aos seus olhos. E estes são apenas alguns itens a confirmar um
diagnóstico cometido há dias pelo próprio Crivella: “O
Rio é uma esculhambação”. O mesmo Rio do qual ele é prefeito há três anos.
Se fosse uma autocrítica, haveria uma remota possibilidade
de tolerância. Mas Crivella não
se vê como parte do problema e muito menos como razão do problema. Ele não quer
saber se os bueiros, rios e galerias estão entupidos e que consequências isso
trará. Os órgãos públicos que lhe são subordinados estão paralisados por sua
inércia —uma árvore caída leva semanas para ser retirada. Diante desse quadro,
pode-se imaginar como não estarão a educação e a saúde. E, para desespero do
comércio que lhe paga impostos e sustenta a sua inoperância, os camelôs e os
ambulantes se tornaram donos da cidade —sim, mas tente vender Bíblias na porta
de suas igrejas.
Crivella não gosta do Rio e nem de ser prefeito. Seu ódio às
tradições da cidade, como o Carnaval, e seu descaso pelo nosso patrimônio
histórico têm reflexos até econômicos ao afastar turistas e negócios, mas ele
não está nem aí. E sua aversão ao cargo para o qual foi eleito se manifesta a
cada chuva que desgraça a cidade.
Ele já não disfarça o cinismo. Suas explicações para a
tragédia desta semana são as mesmas que deu sobre a chuva do mês passado e a do
Carnaval de 2018. Só que, a cada chuva, a tragédia aumenta —principalmente a de
tê-lo como prefeito.
O Rio está pagando por isto —foram dez
mortos desta vez. Quando chegará a vez de Crivella pagar?
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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