Mudança na Educação
É com um travo na alma que o presidente Jair Bolsonaro
deverá demitir, hoje, o ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodrigues. Não
porque goste particularmente dele. Gosta de suas ideias. Reprova seu
desempenho. O ministério está uma zorra e não pode continuar assim.
O travo tem a ver com a cobrança feita pela mídia para que o
ministro seja dispensado. Bolsonaro detesta a mídia. Ou melhor: grande parte
dela. E não gostaria de lhe dar esse gostinho. Se ele pudesse – ou se puder –
adiaria a demissão outra vez.
Será o segundo ministro a cair em menos de 100 dias de
governo – ou de desgoverno, como preferirem. Gustavo Bebiano, da
Secretária-geral da Presidência da República, foi demitido primeiro pelo
vereador Carlos Bolsonaro, e só depois pelo pai dele.
Veléz Rodrigues foi indicado pelo autoproclamado filósofo
Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro e de milhares de devotos do
presidente. Mas desde a semana passada que Olavo largou de mão o ministro. Só
não quer que seus discípulos percam os empregos.
Em troca de alguma recompensa, do tipo uma vaga em outro
lugar qualquer do governo com um salário bastante razoável, o ministro irá
embora sem se queixar. Ele nunca imaginara ser ministro. Foi surpreendido com o
convite. Vida que segue.
Por enquanto, a vida do ministro do Turismo, Marcelo
Antônio, também irá adiante. Ele está enrolado até o talo no escândalo das
candidaturas falsas do PSL de Bolsonaro em Minas Gerais. Dinheiro público foi
desviado, e isso é crime. Mas Bolsonaro o protege.
Afinal, o ministro foi escolha dele e de mais ninguém.
Estava ao seu lado em Juiz de Fora quando Bolsonaro acabou esfaqueado. Ajudou a
transportar seu corpo para o hospital. Dali só saiu quando soube que o então
candidato a presidente havia sobrevivido.
Não se abandona um amigo no meio do caminho. Para Bolsonaro,
ex-paraquedista, confiança é essencial. Quem está atrás confia em quem está na
frente na hora de saltar. E quem está na frente confia em que está mais à
frente. O primeiro da fila confia nele mesmo.
Sobre isso Bolsonaro dissertou em Israel para uma atenta e
perplexa plateia de empresários, todos interessados em saber o que ele queria
dizer com tudo aquilo. Foram embora sem entender direito, mas tudo bem. Culpa
da tradutora que tampouco entendeu.
O show de Mourão em Harvard
Aplaudido de pé
Foi o contraponto da visita recente do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. Enquanto Bolsonaro fez questão de se apresentar aos americanos como um líder belicoso e de extrema direita, o vice-presidente Hamilton Mourão fez o inverso.
Foi o contraponto da visita recente do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. Enquanto Bolsonaro fez questão de se apresentar aos americanos como um líder belicoso e de extrema direita, o vice-presidente Hamilton Mourão fez o inverso.
Talvez tenha sido por isso que acabou sendo aplaudido de pé
pela plateia da Brazil Conference, evento organizado pelos estudantes
brasileiros das universidades Harvard e do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT).
Quando fala dos problemas da segurança pública, Bolsonaro dá
ênfase às medidas duras contra o crime e à necessidade de armar a população
para que se defenda. Mourão não foi por aí quando perguntado como encara a
questão.
Defendeu que o governo faça um trabalho “persistente” na
área social para resolver a criminalidade. “Com as pessoas vivendo amontoadas
em favela, sem acesso a água e luz” e a mercê dos traficantes, ele disse, “nós
não vamos resolver o problema”.
Fez questão de separar as Forças Armadas do governo. Disse
que elas continuarão cumprindo seu papel tal como definido pela Constituição.
Alegou que os militares empregados no governo deixaram a farda. E que Bolsonaro
é político há mais de 30 anos.
Mas admitiu, sim, que a imagem das Forças Armadas será
afetada caso o governo fracasse. “Se o nosso governo errar, errar muito, não
entregar o que prometeu, a conta acabará sendo paga pelas Forças Armadas”,
afirmou sem tergiversar.
Um professor de Harvard manifestou sua preocupação com a
excessiva vinculação dos militares ao governo. E lembrou que o ex-presidente
Ernesto Geisel concluíra no final do seu governo que os militares deveriam
devolver o poder aos civis.
Resposta de Mourão: “Geisel não foi eleito. Eu fui”. De
certa forma, Mourão contrariou a história oficial contada pelas Forças Armadas
de que os generais presidentes do ciclo de 64 foram eleitos pelo Congresso, o
que garantiria a legitimidade dos seus mandatos.
Mourão reconheceu que não deu certa a ideia inicial de
Bolsonaro de desprezar os partidos e negociar o apoio das bancadas temáticas dentro
do Congresso. E que ele agora tentará montar “maiorias transitórias” para
aprovar cada projeto do governo.
Mas para que a “nova estratégia” possa ser bem sucedida
haverá que se ter “muita paciência e diálogo”. Mourão espera que Bolsonaro,
hoje, resolva o que fazer com o ministro da Educação. “Não vou negar: estamos
com um problema na Educação”, disse.
Só houve um momento durante o debate com professores e
estudantes de Harvard em que Mourão pareceu embaraçado. Foi quando lhe
perguntaram o que teria feito de diferente nesses primeiros 100 dias de governo
se fosse ele o presidente.
– Escolheria, talvez, outras pessoas para governar comigo –
respondeu.
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