Foi um fuzilamento. Mais de 80 tiros contra o carro onde
estava uma família em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro. Militares
confundiram-se. Achavam que se tratava do veículo de criminosos. Acabaram
mirando e matando o músico Evaldo Rosa, pai, marido, inocente. Um
cidadão de bem — como o presidente Jair
Bolsonaro gosta de exaltar.
Mas esse cidadão de bem, assassinado por 9 integrantes do
Comando Militar do Leste, não mereceu um tuíte presidencial. Nenhuma palavra de
lamento, de solidariedade aos familiares pela perda, de melhoras ao sogro de
Evaldo, Sérgio Gonçalves de Araújo, que também foi ferido pelos fuzis,
pelos militares.
Nenhuma manifestação de pesar pública nem privada. Ao menos
segundo o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros. Bolsonaro pediu
pressa nas investigações, mas o “incidente” não gerou pesar dele pelo
assassinato.
Esse silêncio do presidente sobre o “equívoco de integrantes das Forças Armadas” contrasta
com sua habitual chuva de tuítes no dia a dia. Nesta quinta-feira (11), por
exemplo, quem recebeu atenção do presidente em sua plataforma de comunicação
favorita foi o apresentador Danilo
Gentili, do SBT.
Um dia após Gentili ser condenado à prisão por
injúria, o presidente da República fez questão de se solidarizar com o
humorista. A sentença se deve a um vídeo publicado por Gentili em 2017,
zombando da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), com quem Bolsonaro tem
desavença histórica.
Este artigo não busca discutir o mérito da punição ao
comediante — se é censura, cerceamento ao humor.
O que sobressai é o tratamento diferenciado a Evaldo e
Danilo. Isso seguramente mostra o que é prioridade na agenda do presidente do
Brasil.
A picuinha é que importa. Um erro crasso e fatal de
militares não valeu um tuíte de repúdio ou de lamento. A morte de um inocente
não mereceu pesar.
Evaldo foi esquecido por Bolsonaro.
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