É bom saber que, num país com 52 milhões de habitantes
abaixo da linha da pobreza, as pessoas poderão morrer de tédio, mas não de
fome. A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, declarou outro dia que o
sustento do brasileiro está garantido porque nossas cidades abundam de pés
de manga —dessas
que provavelmente dão o ano inteiro, estão ao alcance de qualquer braço e podem
ser chupadas ao pé da árvore, usando-se o chafariz mais próximo para lavar a
deliciosa lambança que produzem.
E depois nos perguntamos por que o presidente Bolsonaro vive
atravessando a rua para escorregar em cascas de banana. Uma pessoa que escolhe
esse tipo de auxiliares não tem alternativa. Vide outra ministra, Damares
Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que disse ter visto
Jesus Cristo empoleirado numa goiabeira. Imagine, 2.000 anos de cristianismo
ignoravam que Ele comia goiabas. Infelizmente, essa revelação parece equivaler
às jabuticabas conceituais do presidente, como a de que o nazismo era de
esquerda —um conceito, assim como a jabuticaba, só existente no Brasil.
Bolsonaro, que imaginou a Presidência como uma Festa da Uva,
com degustação de vinhos, corso alegórico e eleição de rainha, já deve estar
convencido de que a cana é doce, mas não é mole, não. Aprendeu isto ao ter de
descascar um abacaxi que ele próprio plantou ao brigar
com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. E agora terá de se explicar sobre
outro ministro, Marcelo
Álvaro Antônio, do Turismo, cujo cultivo de laranjas pode
ser apenas a cereja do bolo em suas supostas marmeladas.
Em vez de sentar e administrar o país, Bolsonaro passa o dia
vendo melancias por toda parte, verdes por fora e vermelhas por dentro. Nessa
batida, não demora a que seus eleitores, desapontados, sintam no ar um aroma de
morangos mofados.
Tudo isso está carambolando em seu governo. Deu a louca no
pomar.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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