A queda na popularidade de Jair Bolsonaro após os primeiros
três meses de governo era esperada. O fenômeno é universal, atingindo
democraticamente todas as gestões. O que talvez tenha surpreendido é a
intensidade com que a avaliação do presidente se desmilinguiu.
O índice de ruim e péssimo de Bolsonaro atingiu a marca de
30%, a maior de todos os dirigentes eleitos em seu primeiro mandato, desde a
redemocratização. Num distante segundo lugar vem Fernando Collor com 19% —e
Collor, vale lembrar, confiscara a poupança.
Há dois fatores que, creio, ajudam a entender o
derretimento. O primeiro é que o governo é mesmo um caos. Despreparo e foco nas
coisas erradas resumem bem esses três meses iniciais. O segundo é que há um
descasamento entre as ideias defendidas pelo presidente e as preferências do
eleitorado. Isso já ficara claro na pesquisa Datafolha de janeiro, que mostrou
que a maioria das bandeiras do dirigente —coisas como Escola sem Partido,
política ambiental, indígena, facilitação do porte de armas— era rejeitada
pelos eleitores, por margens às vezes graúdas.
Basicamente, as pessoas votaram em Bolsonaro não pela pauta
que ele propôs, mas por ele ter sido o candidato que melhor encarnou o papel de
antípoda do PT e do próprio sistema político, percebido como corrupto pela
população.
Bolsonaro não vai mudar. É da natureza do neopopulista
insistir na retórica inflamada, apostando em criar inimigos, mesmo que
imaginários, para agregar aliados. O problema é que essa tática antissistema se
torna meio autofágica quando se é governo, isto é, quando se está no centro
mesmo do sistema.
Acho até que Bolsonaro conseguirá, aos trancos e barrancos,
atravessar os quatro anos de mandato, se não houver uma piora notável da
economia. Mas, se vier uma deterioração, em especial se a inflação de alimentos
voltar a subir, o jogo muda, e a impopularidade pode tornar-se letal.
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