O que fazer quando o presidente e o chanceler de seu país
dizem, em Israel, que o nazismo foi um movimento de esquerda? O ideal é dar de
ombros e seguir na vida cotidiana. Essas afirmações bombásticas são feitas para
provocar debate. Não tenho tempo para ele.
Sinto muito pelos professores de História no Brasil. Terão
de explicar como um movimento de esquerda invadiu a União Soviética, uma
espécie de meca da esquerda mundial naquele período. E como milhões de pessoas
morreram a partir desse fogo amigo.
Os professores de História terão de se consolar com os de
Geografia, que ainda acham que a Terra tem uma forma arredondada. São colegas
com uma tarefa mais dura: explicar que a Terra não é plana, como querem os
novos ideólogos.
Estamos passando por uma revisão completa. Seus autores se
acham geniais. O chanceler Ernesto Araújo disse que o nazismo é de esquerda,
dentro do Museu do Holocausto, em Israel. Ali, o nazismo é considerado um
movimento de extrema direita.
Mas o chanceler disse que há teorias mais profundas. Os
judeus, que sofreram com o nazismo e ergueram um museu para lembrar suas
vítimas, são superficiais: ainda não descobriram a verdade das obscuras teorias
conspiratórias que embalam o governo brasileiro.
A direita embarca na canoa usada pela esquerda no passado
recente. Não há mais respeito às evidências ou provas científicas. O que
importa é a versão. Não houve desvio de dinheiro público, apenas procuradores e
juízes perseguindo honestos políticos.
Eles convergem na tentativa de conformar os fatos às suas
convicções ideológicas. O que foi aquela gritaria na Câmara? Nada mais que uma
aversão compartilhada à palavra tchutchuca.
Suspeito que direita e esquerda são machistas da mesma
maneira que suspeito que a Terra seja arredondada, e o nazismo tenha sido um
movimento de extrema direita. Tenho pavor dessas gritarias noturnas na Câmara.
Na minha época descobri: servem apenas para prejudicar o sono. Saem todos
tensos e irados e têm dificuldade em dormir. Só isso.
Uma reforma da Previdência é coisa séria. É possível alterar
a proposta do governo. Mas é muito difícil negar a importância de alguma
reforma, antes que a Previdência quebre como na Grécia.
Há mais de um século a esquerda desenvolve suas técnicas de
provocação. Guedes precisa mais que o curso de alguns dias para enfrentá-la com
êxito.
Minha experiência mostra que nessas constantes trocas de
insultos, sempre alguém vai insinuar que o outro é gay. Com o tempo, certas
pessoas se acostumam. É o meu caso. Tive a sorte, como na música de Cazuza, de
ser chamado de viado e maconheiro. O único problema era ser chamado de apenas
um desses dois nomes. Ficava esperando o outro como se estivesse faltando algo.
É como a piada de um homem que vivia no andar de baixo, e
todas as noites o vizinho de cima chegava meio bêbado e tirava as botas
ruidosamente. O homem reclamou. O bêbado voltou do botequim, jogou a bota
esquerda com força, mas se lembrou do vizinho. Tirou a bota direita com muito
cuidado, silenciosamente. O vizinho de baixo não dormiu esperando que ele
jogasse a outra.
Todas aquelas pessoas xingando as outras na Câmara: não há
nada de pessoal naquilo. Apenas histeria política.
É preciso superar logo essa fase de sensibilidade à flor da
pele. Entender que é o país que está em jogo. E não depende apenas da reforma
da Previdência.
A política externa toma um rumo radical, sem que o tema seja
discutido adequadamente no Congresso. Nesse sentido, é uma política tão
autoritária como a que nos ligou ao bolivarianismo. Não expressa a visão
nacional.
O Ministério da Educação não funciona. Todos as semanas
demitem e contratam. A ida do ministro Vélez à Câmara mostrou que não tem
projeto. Exceto o de reescrever sua parte da história do golpe militar. Ele é
modesto diante do chanceler que quer reescrever a história da Segunda Guerra
Mundial e levar sua mensagem cristã a todos os recantos do mundo.
O velho cardeal Richelieu já dizia no século XVII: o homem é
imortal, sua salvação está no outro mundo. O Estado não dispõe de imortalidade:
sua salvação se dá aqui ou nunca.
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