O governo do presidente Jair Bolsonaro decidiu
se manter em silêncio sobre as acusações feitas pela deputada Alê
Silva (PSL-MG) contra o ministro do Turismo, Marcelo
Álvaro Antônio.
Em entrevista à Folha,
ela relatou a existência de esquema de candidaturas de laranjas comandado
por Marcelo Álvaro Antônio em Minas Gerais e disse ter recebido a informação de
que o ministro a ameaçou de morte em
uma reunião com correligionários, no fim de março, em Minas.
A deputada federal prestou depoimento espontâneo à Polícia
Federal em Brasília, na quarta (10), ocasião em que solicitou proteção
policial.
Procurada, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto
afirmou que não comentaria o caso. Indagado sobre o tema, o vice-presidente,
general Hamilton
Mourão, disse que, antes de eventual providência, “tem que confirmar [as
acusações da deputada]”.
Nos bastidores do governo, o caso é tratado com cuidado.
Embora a permanência de Álvaro Antônio já fosse vista como
incerta mesmo antes das acusações da deputada, devido às suspeitas de
envolvimento em candidaturas de laranjas, Bolsonaro emitiu a aliados a mensagem
de que é preciso aguardar os desdobramentos para saber se a acusação feita por
Alê à Polícia Federal será comprovada.
Neste domingo (14), ao retornar ao Palácio do Alvorada
depois de visitar Mourão,
o presidente parou para fazer fotos com apoiadores, mas não respondeu às
perguntas dos jornalistas sobre o tema. A cautela sobre comentar as acusações
agora se deve ao fato de que o governo não quer se antecipar sobre o assunto
sem que novos desdobramentos aconteçam.
Numa tentativa de desqualificar ou colocar em xeque a
denúncia da parlamentar, integrantes do governo fazem circular pelo Whatsapp um
vídeo em que Alê chora ao dizer que não votaria em Rodrigo Maia (DEM) para
presidente da Câmara e que seu voto seria do deputado Marcel Van Hattem
(Novo-RS), que acabou desistindo da disputa.
O fato de a deputada aparecer chorando é usado por
auxiliares do presidente para dizer que ela é “instável” e que as acusações
podem não se confirmar. Se no Planalto a ordem é silêncio, o mesmo não
aconteceu na bancada do PSL.
A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP),
afirmou à Folha que “todas as providências cabíveis” devem ser
tomadas, se forem confirmadas as acusações da deputada Alê.
“Não conheço os detalhes da denúncia de ameaça nem se de
fato ela existe ou não. Porém, se o relato for real, todas as providências
cabíveis devem ser tomadas, tanto as políticas, quanto as jurídicas. Ameaça a
qualquer ser humano é crime, a um parlamentar, é crime contra democracia”, disse Joice.
No sábado (13), logo após a publicação da reportagem, a
deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP)
defendeu a deputada do PSL de Minas.
Pelo Twitter, disse ter telefonado para a colega de partido
e que pediu a Bolsonaro que demita Álvaro Antônio. “Como é que pode uma
situação dessas e o presidente não tomar providências? Não pode”, disse
Janaina.
À Folha o deputado Kim
Kataguiri (DEM-SP) defendeu a demissão do ministro. “Eu peço a
demissão dele há tempos. Um governo que discursa contra a corrupção não pode
ter um suspeito no seu primeiro escalão. Ele deve ser exonerado e só voltar
quando se provar inocente”, disse.
A acusação também gerou reações da oposição do governo no
Congresso.
Líder da minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PC do
B-RJ) convocou uma reunião para esta segunda (15) com o propósito de tomar
decisões sobre o caso. “Procurei as deputadas federais que chefiam a Secretaria
da Mulher e Procuradoria da Mulher da Câmara sobre as ameaças à deputada.”
Álvaro Antônio nega ter feito ameaças e diz que a deputada
faz campanha difamatória contra ele em busca de espaço no partido no estado.
Noticiado pela Folha no início de fevereiro,
o caso das laranjas do
PSL, partido do presidente Bolsonaro, é alvo de investigações da Polícia Federal
e do Ministério Público em Minas e em Pernambuco.
Levou à queda do ex-ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gustavo Bebianno, que comandou o partido nacionalmente em 2018.
Uma série de reportagens desde então mostrou que Álvaro
Antônio patrocinou em Minas um esquema de candidaturas de mulheres que
receberam expressivos recursos públicos do partido, sem sinal de que tenham
feito campanha efetiva.
Parte desse dinheiro público foi parar em empresas ligadas a
assessores de seu gabinete na Câmara. Ele exercia o mandato de deputado federal
até 2018.
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