Hoje tem manifestações em defesa da Educação, convocadas por
entidades estudantis, associações de professores e partidos de esquerda. O
protesto nos dará o tamanho da capacidade de mobilização da oposição ao governo
Bolsonaro, com destaque para o PT, com suas bandeiras vermelhas e as palavras
de ordem que mais mobilizam o partido: “Lula livre!”. Nem de longe se parecem
com as manifestações do dia 15 de maio, que foram uma reação espontânea aos
cortes de verbas nas universidades e demais estabelecimentos de ensino federais
pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub.
As águas rolaram sob a ponte desde aquelas manifestações,
que superaram as de apoio a Bolsonaro. O ministro da Educação sentiu o calor do
caldeirão e afrouxou o garrote. O presidente da República aceitou o resultado
das eleições na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e nomeou reitora
a candidata mais votada, Denise Pires de Carvalho. Houve uma certa
descompressão, apesar de o problema do corte de verbas persistir. Embora os
protestos tenham conteúdo e mobilizem a comunidade universitária, sinalizarão
apenas que a resistência à nova política para a Educação continua, mas não
haverá uma escalada de radicalização da sociedade.
No decorrer da semana, as conversas entre o presidente Jair
Bolsonaro e os presidentes dos demais poderes serviram para desanuviar o
ambiente, mesmo com arroubos do tipo minha caneta é mais poderosa que a sua,
para não falar outra coisa. Três vertentes do processo determinam a correlação
de forças no Congresso: o mercado, as corporações e a sociedade. O governo
também é obrigado a levar em conta o comportamento desses três atores. Quando
dois deles se agrupam, o terceiro é que sai perdendo.
Nesse aspecto, as ações do governo vêm sendo pautada pelos
interesses do mercado, como sua agenda ambiental, e algumas bandeiras que
sensibilizam a sociedade, como a do programa anticrime, de Bolsonaro. A relação
com as corporações é tensa por causa da Previdência, mas a tramitação da
reforma está apenas começando. Os grandes embates se darão por ocasião das
decisões em relação ao regime especial de algumas corporações, como policiais,
professores, procuradores, magistrados etc. Aí é que o pau vai quebrar.
Agenda liberal
O falecido professor Milton Santos, notável geógrafo, era um observador da vida banal nas periferias do mundo, ou seja, o dia a dia dos cidadãos afetados pela globalização, com suas desigualdades e grande exclusão. Dizia que a captura das políticas públicas pelos grandes interesses privados acaba por deixar ao relento o cotidiano da população de baixa renda, que se vê obrigada a buscar alternativas de sobrevivência numa espécie de beco sem saída social, porque esses interesses estavam mais voltados para o lucro do que para os objetivos das políticas públicas.
O falecido professor Milton Santos, notável geógrafo, era um observador da vida banal nas periferias do mundo, ou seja, o dia a dia dos cidadãos afetados pela globalização, com suas desigualdades e grande exclusão. Dizia que a captura das políticas públicas pelos grandes interesses privados acaba por deixar ao relento o cotidiano da população de baixa renda, que se vê obrigada a buscar alternativas de sobrevivência numa espécie de beco sem saída social, porque esses interesses estavam mais voltados para o lucro do que para os objetivos das políticas públicas.
Um dos focos do governo Bolsonaro é a vida banal, mas com
desconstrução de políticas públicas. Talvez o melhor exemplo seja a nova
política de armas, que promove uma ruptura com a ideia de que o emprego da
violência deve ser um monopólio do Estado. Ninguém tem dúvida de que a
violência é um dos principais problemas da nossa vida urbana e do campo, a
venda de armas como alternativa de autodefesa para a população é uma resposta
individualista ao problema, tem foco na vida banal, mas à margem da política
pública, porque somente uma minoria tem acesso às armas, com destaque para os
mais violentos.
Vários projetos do governo em discussão no Congresso têm
repercussão em outros aspectos da vida banal, mas à margem das políticas
públicas, alguns com objetivo de desarticular movimentos sociais ou reverter a
mudança nos costumes. É uma agenda meio liberal, meio conservadora. Em alguns
casos, retira o Estado da mediação dos conflitos, sem pôr nada no lugar para
proteger os mais fracos dos abusos e da violência dos mais fortes. Os sinais
estão em toda parte, inclusive nas perguntas do Censo de 2020, que serão
reduzidas em 32% pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
para economizar gastos. A maioria das perguntas versa sobre a vida banal da
população, serviam para fundamentar políticas públicas, que estão sendo
relativizadas ou mesmo abandonadas.
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