Causam espanto os movimentos do ministro da Justiça, Sergio
Moro, em meio às investigações dos ataques de hackers ao seu telefone celular e
aos de outras autoridades.
Na quarta (24), um dia após a prisão de quatro suspeitos de
serem os responsáveis pelos crimes, o ministro veio a público para vinculá-los
ao vazamento das mensagens de procuradores da Operação Lava Jato que o
site The Intercept Brasil começou a publicar em junho.
Como as investigações ainda estão em andamento e são
conduzidas oficialmente sob sigilo pela Polícia Federal, as evidências que
poderiam sustentar a insinuação de Moro eram desconhecidas.
Em seu primeiro depoimento aos policiais, o principal
suspeito, Walter Delgatti Neto, admitiu a invasão das contas do ex-juiz e de
outras autoridades no aplicativo Telegram e declarou
ter sido a fonte do material obtido pelo site.
Mas a PF ainda está verificando a consistência do depoimento
e examinando provas, e por isso a precipitação de Moro soou como tentativa de
intimidar o Intercept e outros veículos que têm publicado as mensagens, como
esta Folha.
O Intercept afirma ter obtido o material de fonte anônima
—cujo sigilo é protegido pela Constituição brasileira— e nega ter participado
dos crimes cometidos pelos que copiaram os arquivos fornecidos a seus
jornalistas.
Ao examinar as mensagens, este jornal não encontrou sinais
de adulteração. Mesmo que a fonte as tenha conseguido de forma ilícita, o
evidente interesse público justifica a publicação do seu conteúdo.
Na quinta (25), Moro tomou a iniciativa de avisar o
presidente Jair Bolsonaro (PSL) e outras autoridades que seus aparelhos
celulares também haviam sido alvo de ataques. A uma das vítimas o ministro
assegurou que as informações
seriam destruídas.
Coube à própria PF lembrá-lo do óbvio, em nota oficial. O
material obtido pelos hackers, bem como outras provas que vierem a ser
colhidas, não pode ser descartado sem que o Ministério Público seja ouvido e
sem autorização do juiz que supervisiona o inquérito.
As ações de Moro podem parecer compreensíveis para muitos,
considerando os danos causados pela divulgação das mensagens à sua reputação e
os indícios de que o ataque teve de fato grande alcance. Entretanto elas
representam intromissão injustificável no andamento das investigações.
Embora seja subordinada ao Ministério da Justiça, a PF tem
autonomia para conduzir seus inquéritos, segue protocolos rigorosos e está
sujeita a mecanismos de controle externo previstos em lei.
Ao buscar informações sobre uma investigação sigilosa e
usá-las para difundir conclusões prematuras e confundir o público, o ministro
da Justiça desrespeita essa autonomia, prejudica o trabalho policial e
compromete aquele que deveria ser seu único objetivo —o esclarecimento dos
fatos.
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