A chapa está esquentando. Jair
Bolsonaro, o presidente mais boquirroto da história da República, tem se
superado ultimamente em sua especialidade de atacar adversários, ofender
aliados, ignorar protocolos, diminuir instituições, promover crises, agredir
minorias, comprar brigas gratuitas, humilhar seus próprios amigos, mentir com
grande convicção, desdizer-se na maior cara dura e, de modo geral, escoicear a
liturgia do cargo.
Formalmente, é um presidente. Tem ao seu redor pessoas para
protegê-lo, transportá-lo, abrir-lhe portas, fazer seus ternos, cortar-lhe o
cabelo, corrigir sua postura, preparar sua agenda, escrever seus discursos e,
principalmente, orientá-lo sobre as grandes questões, a atitude a tomar sobre
este ou aquele problema, a oportunidade de manifestar-se ou manter-se neutro
diante de certos assuntos. Bolsonaro deve ter todos esses profissionais para
servi-lo. Mas, ou são uns incompetentes ou é ele quem os desqualifica, passando
por cima de seus conselhos e metendo os pés pelas mãos por conta própria.
Durante a campanha, quando batia boca com os adversários,
dava-se um desconto. Campanha é assim mesmo, pode-se falar qualquer coisa, só
os bobos acreditam. Mas, a partir do momento em que se enverga a faixa —e há
uma foto do dia da posse, em que Bolsonaro, deslumbrado, aponta para a dita cuja—,
impõe-se uma compostura. O cargo implica e exige respeito.
Apenas nos últimos dias, Bolsonaro chamou os nordestinos
de “paraíbas”, rotulou um general
como “melancia” —verde por fora, vermelho por dentro— e tachou um
importante órgão de pesquisa, que nem deve saber para o que serve, de
divulgar dados
“mentirosos”. Mas, nesta, levou um troco: foi acusado de falar como se
estivesse “em uma conversa de botequim”.
Como não se dá ao respeito como presidente, Bolsonaro logo
não poderá exigir que seus presididos o tenham por ele.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
Nenhum comentário:
Postar um comentário