O presidente Jair Bolsonaro confirma, dia sim, outro também,
sua visão peculiar e sectária do que sejam direitos. Diz a Constituição que
“todos são iguais perante a lei”. Dizem as democracias que os direitos e
deveres são iguais para todos. Para Bolsonaro, não. No seu governo, como na sua
fala, uns têm mais direitos do que outros: os ricos, donos do capital.
Num país campeão de desigualdade social, com milhões de
pessoas sem direito a emprego, educação, saúde, moradia, transporte, igualdades
de condições e respeito, o presidente jamais usa a palavra “social” e está
preocupado é com os direitos dos empresários, que chama de “heróis”: “É
horrível ser patrão no Brasil”, prega. Bem pior, presidente, é ser pobre.
Assim, Bolsonaro defende trabalho infantil, produz frases
dúbias sobre trabalho escravo e estuda devolver terras desapropriadas. E corta,
ops!, contingencia verbas do Ministério do Desenvolvimento Social e da
Educação.
Entre a proteção da Amazônia e a ganância de madeireiros
ilegais, adivinhem quem ele defende? Em desacordo com a lei, impediu a
destruição de caminhões que derrubavam árvores, criminosamente, na floresta.
Entre o direito ancestral dos índios e o desejo de “tarados”
americanos de explorar minérios em terras indígenas, adivinhem o que ele
prefere? E a ideia de liberar Angra dos Reis para empresários criarem “uma
Cancún”?
Entre o Coaf, que identifica movimentações financeiras
atípicas, e o interesse do filho Flávio Bolsonaro, cujo gabinete no Rio foi um
dos flagrados, adivinhem o que ele faz? O chefe do Coaf cai, o filho Flávio
fica feliz da vida. Aliás, cadê o Queiroz?
Sempre crítico à política, Bolsonaro se deu o direito de
estar nela há 29 anos e garantir mandatos não só para Flávio, mas também para o
“02”, Carlos, e o “03”, Eduardo. Por que será? Essa pergunta, que nunca quis
calar, pode estar sendo respondida pelo jornal O Globo, que identificou 286
assessores do clã nessas três décadas, 102 da família Bolsonaro ou de famílias
amigas. Alguns receberam a média de R$ 7,3 mil, ou R$ 10,7 mil, durante 14, 15
anos, sem dar as caras no trabalho. Uma era oficialmente “do lar”, outra
declarou-se “babá” na Justiça e vai por aí afora. Será que os salários não eram
para elas? E qual o direito dos Bolsonaro de fazer isso?
Há também os cartões corporativos: a sociedade tem o direito
de saber como são gastas as verbas oficiais, mas Bolsonaro mantém o “direito”
de gastar sem dizer onde, para quê, com quem. E não é pouco dinheiro, não.
Quem, por ofício, checa diariamente a agenda do presidente
sabe os que têm acesso a Bolsonaro e para quem ele está efetivamente
governando. Ele vai a toda e qualquer solenidade militar, frequenta cultos e
despacha com pastores evangélicos, leva ministros a estádios de futebol e abre
as portas do gabinete a multinacionais, grandes empresários, ruralistas, políticos
aliados, a “bancada da bala”. Aos aliados e ao capital, enfim.
Onde ficam as outras religiões, os ambientalistas, as
comunidades LGBT, os professores, os defensores de direitos humanos, os
cientistas, os cineastas, os escritores, os artistas, os intelectuais, os
índios, os quilombolas, os especialistas em trânsito e em desarmamento? E os
representantes de trabalhadores?
No mundo de Bolsonaro, o capital tem todos os direitos, o
trabalho e as minorias só têm deveres. A uns, a defesa. Aos outros, a cobrança.
Mais ou menos como no caso dos Estados: aos governadores aliados, tudo; aos
nordestinos, as migalhas.
Entra aí o “direito” do jovem deputado Eduardo de ser
embaixador na mais importante embaixada do planeta, a dos EUA. “Indicado tem de
ser filho de alguém. Por que não meu?”, indagou papai Bolsonaro. O que
responder, minha gente?!
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