Os deuses enlouqueciam quem eles queriam matar. Assim nasceu
a “hybris” (destempero, em grego), que atingiu protagonistas da tragédia grega,
como o rei Agamêmnon, de “A Ilíada”. No caso do capitão Jair Bolsonaro, ao
nascer os deuses parecem ter imprimido em sua testa o sinal da “hybris”, dando
a ele o poder de alucinar até a morte uma nação de 220 milhões de habitantes.
Com mais precisão, o jurista Miguel Reale Junior definiu Bolsonaro como um
fera: “O habitat dele é este, o habitat horrendo do mundo das trevas, do mundo
da morte, da tortura, da perseguição”.
Em vista do caráter arcaico de suas falas e atitudes, não
convém comparar Jair a Adolf ou Benito, como muitos o fazem. O nazista e o
fascista eram – com o perdão da heresia – estadistas. Tanto um como outro
alimentava projetos de nação: Hitler planejava impulsionar a economia alemã, ao
passo que Mussolini ansiava em restaurar o Império Romano. Hitler ordenou a
submissão e o genocídio das raças não arianas, algo que não se aplica ao guia
nazifasci entreguista brasílico.
Para melhor comparação, Bolsonaro corporificaria o sonho de
Benito. Sim, um novo imperador romano! Mas não se trata de um monarca justo,
como Augusto ou Marco Aurélio. Jair é análogo aos césares mais notáveis.
Calígula, que reinou entre 37 e 41, nomeou cônsul o seu cavalo, Incitatus, e
forçou o Senado a homenageá-lo. Entre os anos de 54 a 68, Nero construiu um
estádio privado para assistir às torturas de cristãos: denominou-o de Coliseu
(Colosseum) para celebrar-se. Após seu suicídio, os três imperadores seguintes
mataram-se uns aos outros no intervalo de um ano e meio. Mais tarde, Cômodo,
que governou entre 180 e 192, professava a crença no “panis et circenses”, o
pão e circo que visava a alienar os cidadãos. Exibia-se em estádios, nos quais
combatia lutadores que invariavelmente matava. Quando faltou pão em Roma,
decretou cinco dias de jogos gratuitos no já estatizado Coliseu para apaziguar
os ânimos. O povo provou que podia viver só com circo. No auge da megalomania,
rebatizou Roma de Commodiana. Indiferente ao governo, manteve uma relação de
atrito com o Senado.
Abandonado pelos aliados, foi estrangulado por um parceiro
de luta, Narciso, enquanto se banhava.
Imperator Bolsonarus, o césar tropical, merece melhor sorte,
claro. Mas de uma coisa podemos ter certeza: Calígula, Nero, Hitler e outros
tantos ensinaram que todo o governo autocrático costuma terminar mal, mais
tarde ou, melhor ainda, mais cedo.
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