Uma das maiores redes de hotéis do mundo vai deixar de
oferecer os pequenos frascos de xampu e condicionador, aqueles que usamos e
levamos para casa. Serão substituídos por recipientes reutilizáveis de cerâmica
até o fim de 2021. InterContinental, Holiday Inn e Crowne Plaza abrem mão de
200 milhões de potinhos/ano, um milhão de quilos de plástico. Correm atrás do
Marriott, que já cortou o mimo em 1.500 de seus estabelecimentos.
Em editorial de capa, The Economist diz que o “Brasil tem o
poder de salvar ou destruir o mundo”. Escreve que as políticas do governo
Jair Bolsonaro aceleram
o desmatamento da
Amazônia e que o processo pode alcançar ponto irreversível.
A revista lembra ainda que o “mundo deveria deixar claro
a Mr.
Bolsonaro que não tolerará seu vandalismo” e que consumidores precisam
pressionar as empresas de alimentos a recusar carne e soja produzidas em áreas
desmatadas, como já fizeram nos anos 2000.
Rascunho de relatório em discussão no IPCC (painel do clima
da ONU), ao qual o Guardian teve acesso, afirma que a crise climática não é
mais possível de ser resolvida apenas cortando emissões de veículos, fábricas e
usinas. Humanos, que exploram 72% da superfície não congelada do planeta, precisam
alterar o modo como produzem comida.
Para tanto, diz o texto, o manejo da terra precisa ser
sustentável, com a recuperação de florestas e áreas alagadas; as sociedades
precisam caminhar em direção a dietas mais vegetarianas e veganas —teria o
presidente lido o documento?
Tudo isso aconteceu na semana passada. Se o leitor não vê
relação entre a extinção dos potinhos e a da floresta, ou entre o tom
de Bolsonaro e
o da Economist, sem problema. Se concorda com o pânico em relação ao clima ou
acha exagero,
conspiração, globalismo, tanto faz.
Não importa o que achemos. O mundo desenvolvido há tempos
acordou para o risco ambiental. E já acordou para o risco Bolsonaro.
Vamos pagar caro.
José Henrique Mariante
Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação
da Folha, onde trabalha desde 1992
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