terça-feira, 6 de agosto de 2019

É A ECOLOGIA, ESTÚPIDO !

José Henrique Mariante, Folha de S.Paulo
Uma das maiores redes de hotéis do mundo vai deixar de oferecer os pequenos frascos de xampu e condicionador, aqueles que usamos e levamos para casa. Serão substituídos por recipientes reutilizáveis de cerâmica até o fim de 2021. InterContinental, Holiday Inn e Crowne Plaza abrem mão de 200 milhões de potinhos/ano, um milhão de quilos de plástico. Correm atrás do Marriott, que já cortou o mimo em 1.500 de seus estabelecimentos.
Em editorial de capa, The Economist diz que o “Brasil tem o poder de salvar ou destruir o mundo”. Escreve que as políticas do governo Jair Bolsonaro aceleram o desmatamento da Amazônia e que o processo pode alcançar ponto irreversível.
A revista lembra ainda que o “mundo deveria deixar claro a Mr. Bolsonaro que não tolerará seu vandalismo” e que consumidores precisam pressionar as empresas de alimentos a recusar carne e soja produzidas em áreas desmatadas, como já fizeram nos anos 2000.
Rascunho de relatório em discussão no IPCC (painel do clima da ONU), ao qual o Guardian teve acesso, afirma que a crise climática não é mais possível de ser resolvida apenas cortando emissões de veículos, fábricas e usinas. Humanos, que exploram 72% da superfície não congelada do planeta, precisam alterar o modo como produzem comida.
Para tanto, diz o texto, o manejo da terra precisa ser sustentável, com a recuperação de florestas e áreas alagadas; as sociedades precisam caminhar em direção a dietas mais vegetarianas e veganas —teria o presidente lido o documento?
Tudo isso aconteceu na semana passada. Se o leitor não vê relação entre a extinção dos potinhos e a da floresta, ou entre o tom de Bolsonaro e o da Economist, sem problema. Se concorda com o pânico em relação ao clima ou acha exagero, conspiração, globalismo, tanto faz. 
Não importa o que achemos. O mundo desenvolvido há tempos acordou para o risco ambiental. E já acordou para o risco Bolsonaro.
Vamos pagar caro.
José Henrique Mariante
Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992
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