Irrelevância ou ridículo — eis a questão. O Brasil de Jair
Bolsonaro oscila entre esses polos, como fruto de políticas externa e ambiental
que, aos olhos do mundo, nos rebaixam à condição de república bananeira.
Dias atrás, Nicolás Maduro anunciou que mantém negociações
diretas com os EUA. Donald Trump confirmou a informação: “Estamos conversando
em nível muito alto”. Ernesto Araújo, nosso chanceler de fachada, e Eduardo
Bolsonaro, chanceler de fato, nada disseram — e, piedosamente, nada lhes foi
perguntado. Vão longe os tempos em que a dupla dinâmica definiu como prioridade
nacional externa a remoção do ditador chavista por meio de uma ação militar
americana deflagrada a partir de território brasileiro.
Onde está o Ernesto? O figurante sumiu, transferindo a
condução de nossas relações com a Argentina ao Bolsonaro pai. E o 00 inovou
radicalmente, rompendo as relações diplomáticas com um governo que ainda nem
existe. No ato inicial, proclamou que o provável triunfo eleitoral de Alberto
Fernández e Cristina Kirchner converterá o Rio Grande do Sul em “uma nova
Roraima”. No seguinte, qualificou os líderes da favorita chapa de oposição como
“bandidos comunistas”. Qual é a diferença substancial entre as retóricas de
Bolsonaro e de Maduro?
Os bárbaros que nos governam são governados por suas
próprias redes (anti) sociais. Adianta dizer-lhes que, ao contrário da
Venezuela, existem eleições livres na Argentina? Que a vontade popular merece
algum respeito? Ou, ainda, que Fernández, o candidato presidencial, um peronista
moderado, é antigo desafeto de Kirchner, a candidata a vice? Ou, finalmente,
que a Argentina é nossa circunstância geográfica e geopolítica, o vizinho
incontornável na estação de trânsito da bacia platina, como constatamos já nos
idos do Império?
A arrogância beija a testa nua do ridículo. Paulo Guedes
ofereceu-nos uma aula de lógica cartesiana ao explicar que o Brasil crescerá
mesmo sob uma hipotética recessão mundial porque, nos últimos anos, retrocedeu
em pleno ciclo de expansão global. Na sequência, em genuflexão imotivada,
lustrou as botas presidenciais antecipando que, “caso a Argentina feche”,
sairemos do Mercosul. Adianta dizer-lhe que o Mercosul não é a União Europeia e
o Brasil não é o Reino Unido? Que o Mercosul é o nome da parceria entre Brasil
e Argentina? E que, portanto, atingido pelos desaforos do 00, estará
virtualmente morto na hora da eventual vitória de Fernández e Kirchner?
Amazônia em chamas — a notícia, oriunda das imagens do Inpe,
fez seu caminho até as manchetes dos veículos de imprensa do mundo, junto com a
negativa original de Bolsonaro, que a classificou como fake news, demitiu o
mensageiro e deflagrou uma onda de agressões gratuitas contra as nações
contribuintes do Fundo Amazônia. Agora, depois das invectivas sobre as
florestas alemãs e as baleias norueguesas, o 00 reconheceu a amplitude do
incêndio, mas apontou um irresponsável dedo acusador às ONGs.
Pária ambiental. O percurso até essa condição exigiu meros
sete meses, pontilhados por exposições de ignorância de Ricardo Salles, o
ministro do Desmatamento, sobre as mudanças climáticas, e pela explicitação de
suas “soluções capitalistas” de abertura das terras indígenas e unidades de
conservação à sanha de garimpeiros, mineradores e madeireiros. “Se plantamos em
área desmatada, eles não compram”, explicou didaticamente Blairo Maggi, um
capitalista que conhece o tema e não milita em nenhuma ONG, concluindo com um
alerta sobre a soberba: “Não tem essa de que o mundo precisa do Brasil. Somos
apenas um player – e, pior, substituível.”
Logo mais, o Senado sabatinará o 03. Nesse dia, os senadores
deveriam ignorar os atalhos de Randolfe Rodrigues e cia., sempre propensos a
substituir o debate político por alguma muleta jurídica. Cumpram seu dever,
senadores: esqueçam a ladainha ilusória do nepotismo. Perguntem ao chanceler de
fato o que ganha o Brasil com o isolamento esplêndido ao qual nos condena a
doutrina ideológica emanada de seu mestre místico, o Bruxo da Virgínia.
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