Ok, vamos partir para as novas fixações, outros planos
prioritários, de nosso capitão-reformado eleito Jair Messias Bolsonaro, também
atendendo pela alcunha de “Mito” entre grupos de idólatras que cultuam a sua
infinita genialidade, digamos assim. Esqueçamos por um momento que ele tenta
premiar os maus hábitos de motoristas infratores, estendendo a pontuação das
penalidades, busca lançar crianças ao risco de acidentes automobilísticos com o
fim da exigência das cadeirinhas, eliminar o horário de verão, rever o sistema
da tomada de três pinos, armar a população para uma ameaça de golpe, comprar
drones que custam R$ 150 milhões/cada para vigiar o espaço aéreo e outras
quinquilharias ideológicas de quem parece estar sempre maquinando a próxima
traquinagem como deleite aos seguidores.
O que vai mudar de vez o País agora, pauta para um Brasil
melhor, na sua concepção, é a transferência do Prêmio de Fórmula Um para o Rio
de Janeiro. Interesse estratégico nacional, prega o Messias. Com um detalhe: a
Cidade Maravilhosa terá de construir um autódromo inteiramente novo, do zero,
após ter destruído por completo o último (em Jacarepaguá), por falta de uso.
Até já escolheu endereço — muito adequado, diga-se de passagem. Será em
Deodoro, na periferia da capital. Para quem não está familiarizado com a
localidade, o terreno fica plantado no meio do mato, cercado por favelas, sem
saneamento básico, sem vias de acesso, sem energia.
A exigir, portanto, das autoridades simpatizantes da
proposta um investimento brutal em infraestrutura e no sistema de suporte ao
pretendido evento. O Rio de Janeiro que já é célebre por erguer elefantes
brancos poderá ter mais um com o beneplácito, apoio e incentivo de Messias.
Será mesmo um novo monumento ao desperdício. Não foram suficientes os exemplos
das estruturas caindo aos pedaços e apartamentos encalhados da Vila Olímpica,
muito menos o símbolo da corrupção trazido pela bilionária reforma do Maracanã
ou o estado de ruínas das arenas e parque aquático, construídos para os jogos.
É preciso mais, muito mais investimentos em cacarecos para saciar os sonhos
birutas de governantes.
Por que investir em hospitais e escolas se o Rio já está
irremediavelmente falido nessas áreas? São necessários cartões-postais, as
chamadas obras faraônicas, enquanto o povo pena por emprego e qualidade de
vida. Na prática, o presidente Bolsonaro confunde vontades pessoais com planos
estratégicos. Transforma convicções em políticas de Estado. Arrasta
multidões de fanáticos ao cadafalso da disruptura social. É de um primitivismo
bárbaro andar produzindo agendas secundárias e fora de contexto. Nessa usina de
desvarios parece se pretender um regresso equivocado aos tempos de campanha,
quando promessas, mesmo irrealizáveis, entravam em evidência à cata do voto dos
incautos.
Em plena gestão de governo, atos e propostas continuam
midiáticos. Bolsonaro, mesmo desajeitado, “paga dez” flexões, arrisca dueto de
cantoria em italiano com a mãe, anda de jet-ski (antecessores fizeram o mesmo
em busca de cliques), visita freiras e fala em reeleição como se estivesse nos
derradeiros dias de mandato, prestes a necessitar do apoio popular em novo
escrutínio. Tática prematura, sem dúvida, para quem mal entrou em campo na
batalha de reconstrução do País. Ele sequer resolveu — e nessa toada vai demorar
a resolver — problemas estruturais graves como o desemprego e a queda do PIB
econômico.
Messias barbariza o espetáculo quando arma a sua tenda de
decretos para governar, tal qual um soberano, e depois é obrigado a voltar
atrás por ter atravessado a sinfonia de leis da Constituição. Fica então a se
queixar que estão querendo transformá-lo em “rainha da Inglaterra”, repetindo o
papel figurativo e simbólico da monarca inglesa. O mandatário escolhe, ele
mesmo, esse caminho e se isola. Parece pregar no deserto de ideias pelo simples
impulso de mandar, maior que o de governar. Deveria se movimentar na qualidade
de presidente de todos os brasileiros, ouvindo e atendendo aos mais de 200
milhões de habitantes dessa terra de dimensões continentais, e não restringindo
a pauta aos anseios da patota das redes, minoria que lhe diz amém.
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