Em sete meses de mandato, Jair Bolsonaro (PSL)
mostrou que, no exercício do mandato de presidente, sua prática divergiu do que
defendeu como deputado federal, quando era crítico contumaz daqueles que o
antecederam no Palácio do Planalto.
No cargo de chefe do Poder Executivo, ele passou pelo que
auxiliares presidenciais chamam de uma “metamorfose”, abandonando algumas
posições de caráter ideológico e adotando um comportamento mais pragmático,
sobretudo no campo econômico e na articulação política.
O presidente recorreu a posturas que o parlamentar
condenava, entre elas a adoção de uma idade
mínima de 65 anos no regime de aposentadoria, o favorecimento a familiares,
o apoio a privatizações
de empresas estatais e a utilização de um política de toma lá dá cá
para aprovar iniciativas do governo.
Em quase 30 anos de mandato na Câmara dos Deputados, por
exemplo, Bolsonaro subiu em mais de uma oportunidade à tribuna para pedir que
os filhos do ex-presidente Lula (PT) fossem investigados por terem ascendido
durante a gestão do pai.
Em julho deste ano, no entanto, anunciou que indicaria um de
seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o prestigioso
cargo de embaixador do Brasil nos EUA e afirmou, nas redes sociais, que pretende
beneficiar, sim, um filho seu.
Ele cogitou indicar ainda outro filho para um cargo no
governo antes mesmo de assumir o mandato, na formulação de sua equipe
presidencial. Avaliou nomear o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) para a Secom (Secretaria
de Comunicação Social) da Presidência, mas recuou após uma série de críticas.
Em outro episódio envolvendo familiares, Jair Bolsonaro
permitiu, alegando questões de segurança, que parentes pegassem
carona em helicóptero da Presidência da República para o casamento de
Eduardo Bolsonaro com a psicóloga Heloísa Wolf, em maio, no Rio de
Janeiro.
Na articulação política, a prática também não coincidiu com
o discurso. Sob o lema da “nova política”, o presidente criticou durante a
campanha eleitoral o chamado toma lá dá cá, expediente adotado junto ao
Congresso Nacional para a aprovação de projetos de interesse do governo.
No primeiro turno da reforma da Previdência, no entanto, o
Executivo liberou
mais de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares e, nesta terça (6),
enviou projeto que abre espaço orçamentário para disponibilizar mais R$ 3
bilhões.
A chamada “nova política” também foi deixada de lado na
intolerância em relação a acusações de irregularidades. O programa de governo,
apresentado pelo então candidato à Justiça Eleitoral, ressaltava a garantia de
uma “tolerância zero com o crime, com a corrupção e com os privilégios”.
Até o momento, contudo, Bolsonaro não afastou o ministro do
Turismo, Marcelo
Álvaro Antônio, que, como revelou a Folha, é suspeito de
patrocinar esquema de candidaturas de fachada do PSL em Minas Gerais na
campanha eleitoral do ano passado.
Na área econômica, o presidente chegou a defender, no
passado, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fosse fuzilado
por ter implementado uma política de concessões de empresas públicas à
iniciativa privada.
“Barbaridade é privatizar, por exemplo, a Vale do Rio Doce
como ele fez. É privatizar as telecomunicações. É entregar as nossas reservas
petrolíferas para o capital externo”, disse em 2005.
Desde que assumiu o mandato, porém, Bolsonaro já autorizou a
venda da Eletrobras e tem afirmado que vai repassar os Correios para
a iniciativa privada. Ele chegou a demitir um presidente da companhia estatal
depois que este se mostrou contrário à venda da empresa.
Além disso, em vídeo nas redes sociais, criticou a adoção de
uma idade mínima de 65 anos para homens na reforma previdenciária proposta pelo
ex-presidente Michel Temer (MDB), chamando o projeto de “porcaria”. A
iniciativa dele, porém, que foi aprovada em primeiro turno neste ano,
estabeleceu a mesma idade.
Eleito com um discurso antipetista, costumava acusar o PT,
sobretudo na campanha eleitoral, de dividir o país. Como presidente, indica em
seus discursos a prioridade de governar para os que o apoiam.
Em declaração
feita em Sobradinho (BA) na segunda-feira (5), condicionou o diálogo
com governadores e a liberação de recursos federais a um apoio público deles a
sua gestão e disse que são os mandatários nordestinos que agem para dividir o
Brasil.
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