Debate sobre transferência de Lula resume uma política
contaminada
As decisões dos juízes de São Paulo e do Paraná animaram a
militância bolsonarista. “O presidiário pode ficar em cela coletiva!”,
comemorou a deputada Carla Zambelli (PSL). Lula está preso há quase 500 dias,
mas alguns de seus opositores ainda estão em busca de revanche.
A discussão sobre uma possível transferência do petista de
uma sala da Polícia Federal para uma penitenciária comum resume a contaminação
do debate público no Brasil. O episódio conseguiu desgastar ainda mais as
relações políticas e institucionais dos dois lados do fosso.
O ex-presidente estava na superintendência da PF em Curitiba
por determinação da Justiça. Quando mandou prendê-lo, Sergio Moro afirmou que,
em razão do cargo que havia ocupado, Lula deveria começar a cumprir sua pena
“separado dos demais presos, sem qualquer risco para a integridade moral ou
física”.
Um subordinado de Moro achou que isso deveria mudar. O
superintendente Luciano Flores disse que a presença do ex-presidente mudou a
rotina do prédio e que apoiadores do petista passaram a se aglomerar na região,
demandando a presença constante de policiais. Isso acontece há 16 meses, mas só
agora o órgão pediu a transferência do preso.
Ao saber que o ex-presidente poderia ser levado para o
sistema prisional de seu estado, João Doria (PSDB) tentou passar a mão no
troféu. “Ele será tratado como todos os outros presidiários”, escreveu. “Se
desejar, terá a oportunidade de fazer algo que jamais fez na vida: trabalhar!”
O tom de vingança provocou reação de deputados de vários
partidos. Na Câmara, um tucano foi ao microfone e disse que a decisão era
absurda. Parlamentares pediram ao Supremo que julgasse o assunto no plenário.
Os ministros suspenderam a transferência por 10 votos a 1.
O STF pôs de pé uma resposta institucional. A imagem de Moro
se deteriorou um pouco mais, tanto no tribunal quanto no Congresso. De outro
lado, os apoiadores do ex-juiz e de Bolsonaro tomam fôlego para atacar essa
aliança. O fosso aumenta.
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