Alguns políticos se apaixonam pela própria voz, sem se
importar com o que dizem. Jair Bolsonaro foi além: no mimetismo caricato de
Donald Trump encontrou a moldura para a retórica e as atitudes de confronto, como
se estivesse numa batalha eleitoral permanente.
Como o presidente insiste em manter o inconsciente muito
perto dos lábios, cria riscos desnecessários para o país. Isso porque em
política palavras e atos têm consequências — geralmente, no bolso dos governados.
Desde a semana passada, empresários vislumbram uma novidade
no agronegócio: o custo Bolsonaro. É o preço previsível, para muitos
inevitável, do incêndio político amazônico lavrado pelo Capitão Motosserra, com
o auxílio dos ministros do Meio Ambiente e das Relações Exteriores.
A retórica eleitoral inflamada ecoando uma política arcaica,
obscurantista, hipnotizou o governo e o deixou exposto no centro de uma inédita
crise ambiental. Sob pressão europeia, Bolsonaro ficou ainda mais dependente da
Casa Branca.
Para o setor privado, onde o acesso ao mercado global é jogo
de poder e dinheiro, Bolsonaro agora é sinônimo de um custo extraordinário e
considerado praticamente inevitável.
Responsáveis por US$ 101 bilhões em exportações, empresas do
agronegócio agora convivem com o espectro de boicotes e taxações.
Por ironia, esse setor foi o esteio eleitoral de Bolsonaro,
indica o mapas da urnas nas cinco regiões de maior PIB agropecuário: obteve
65,6% dos votos em Uberaba (MG); 69,5% em Cascavel (PR); 67% em Rio Verde (GO);
68% em Dourados (GO) e 75,5% em Sorriso (MT).
Foi, também, o predileto de madeireiros e pecuaristas das
áreas onde hoje mais se incendeia a Floresta Amazônica. Alcançou 78% dos votos
em Novo Progresso (PA); 69% em Porto Velho (RO) e 63% em Altamira (PA).
O custo Bolsonaro fragiliza o agronegócio, no meio de uma
guerra comercial global de consequências imprevisíveis para economias como a
brasileira.
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