quinta-feira, 22 de agosto de 2019

UM PROCURADOR QUE NÃO ACHE

Ivan Marsiglia, Folha de S.Paulo
A semana que promete ser decisiva para os rumos institucionais do país começou em clima de ansiedade no Twitter. A inédita intervenção presidencial na Polícia Federal na sexta-feira (16) gerou rumores crescentes de que a lista tríplice apresentada pelo Ministério Público Federal desde 2001 será desrespeitada. Culminando com a informação, publicada pela coluna Radar, da Veja, de que o escolhido seria um obscuro procurador amigo do filho Zero Um, Flávio Bolsonaro.
O advogado @lucaspaulino registrou, ainda no domingo (18): “Veja acaba de dar o furo que o PGR indicado por Bolsonaro será Antônio Carlos Martins Soares, que não estava na lista do MPF, por ser o preferido do filho Flávio. Esse aparelhamento de uma instituição de Estado se fosse feito pela esquerda seria chamado de bolivarianismo.”
Ontem (19), a procuradora da República @hayssakmedeiros manifestou preocupação em sua conta pessoal: “Um PGR escolhido fora da lista não garantirá a independência e autonomia do MP. PGR não é órgão de governo. Desaparecendo a independência do MP com um PGR submisso ao governo, perdemos todos e principalmente a sociedade. #PGRListaTríplice”
Logo, informações sobre o currículo do escolhido começaram a surgir na plataforma. O advogado @jnascim postou reportagem do blog da jornalista Bela Megale, de O Globo: “Nome apoiado por Flávio Bolsonaro para PGR, Antônio Carlos Simões Martins Soares recebeu R$ 74 mil irregularmente, por @BelaMegale
O blogueiro Ricardo Noblat, da Veja, também publicou: “Favorito à PGR foi condenado pelo TCU por aposentadoria irregular. Tribunal determinou, em 2013, que subprocurador Antônio Carlos Simões Soares retornasse ao trabalho.”
O delegado da Polícia Civil e vice-líder do partido Cidadania no Senado viu método nos últimos atos do presidente: @Sen_Alessandro “Não adianta tentar tapar o sol com a peneira: as intervenções que o governo Bolsonaro está fazendo no COAF, Receita, PF e PGR têm as piores motivações. É um processo claro de desmonte das estruturas de combate à corrupção. Mas vemos resistir! #unidoscontraacorrupçao #acordabrasil”
O colunista da Agência Estado e consultor do Instituto Brasileiro de Economia da FGV ligou outra peça ao quebra-cabeça: @FDantasEstado “Uma questão de extrema importância é saber POR QUE ‘pessoas do entorno’ de Bolsonaro querem a exoneração do atual delegado da Receita no Porto de Itaguaí, área de atuação de milícias e tráfico. As reportagens que li não esclarecem este xis essencial do problema.”
QUEM ABUSA AMIGO É 
Na bolha governista, nem sinal de reprovação ao aparelhamento da PGR —salvo um ou outro desencantado com a queda na bolsa de apostas do nome do procurador Deltan Dellagnol, como o senador @alvarodias, do Podemos. Em compensação, a revolta foi grande contra o projeto do Congresso que atualiza a Lei do Abuso de Autoridade, que pode ser vetado por Bolsonaro também nesta semana.
No domingo (18), o deputado pelo PSL-SP e príncipe de Orléans e Bragança expôs sua real indignação: @lpbragancabr “Pior do que ter que avaliar o texto inaceitável da Lei de Abuso de Autoridade de última hora foi testemunhar a condução imprópria da votação ao som dos gritos desesperados dos deputados da oposição e do centrão. #Dia25EuVou”
Seu colega do PSL-RJ e vice-líder do governo na Câmara prestou reverência: @carlosjordy “Não iremos aguardar o veto presidencial. Eu e mais 10 deputados do PSL impetramos hoje mandado de segurança para anular a votação do abuso de autoridade. O direito não socorre os que dormem.”
O senador pelo PSL-SP, @majorolimpio, esbravejou: “O povo pedindo justiça e segurança e o congresso resolve a situação: cadeia para juiz, promotor e policial... imagina o palavrão que eu pensei...”
O relator da proposta, o ex-senador pelo MDB-PR @requiaopmdb, alvo de um virulento ataque nas redes, respondeu: “Alguns imbecis reclamam do projeto de ‘abuso de autoridade’ porque querem indulgência plenária para seus crimes, outros porque desejam acabar com o MP e o Judiciário. Fizemos o melhor que pudemos para melhorar a justiça. Simples assim!”
GOTA D’ÁGUA 
Naquela que vem sendo considerada nos meios jurídicos a mais grave revelação contra a Lava Jato até agora, os diálogos indicando que integrantes da força-tarefa buscaram informações da Receita sem autorização da Justiça também movimentaram o Twitter.
A emissora alemã Deutsche Welle repercutiu o caso, destacando o envolvimento de um membro do atual governo: “Conversas obtidas pelo Intercept mostram que Lava Jato buscou informações sigilosas da Receita sem requisição formal, inclusive em ações contra Lula. Contato no órgão seria Roberto Leonel, atual chefe do Coaf indicado por Moro.”
O advogado criminalista e conselheiro do Human Rights Watch pediu: @augustodeAB “Gravíssimas as conversas divulgadas hoje pela @folha e pelo @TheInterceptBr. Sem meias palavras: mostram alguns procuradores cometendo CRIMES. Para proteção do próprio @MPF_PGR o afastamento de todos deve ser imediato.”
O colunista do jornal O Globo e comentarista da BandNews FM avaliou: @andreazzaeditor “Será difícil passar pano para isto aqui.”
CAIM E ABEL? 
O tuíte do deputado do PSOL-RJ era para o ministro da Justiça, mas foi o Zero Dois quem respondeu com uma provocação: @MarceloFreixo E aí, @SF_Moro, você vai continuar nesse silêncio constrangedor enquanto o seu chefe @jairbolsonaro desmoraliza a Polícia Federal pra blindar o Queiroz e proteger a família? Prefere ficar calado pra não melindrar o clã, ministro?”
Em resposta a @MarceloFreixo @SF_Moro e @jairbolsonaro “Aí maluc(x) o que tem pra falar sobre estes casos dos amigos do PSOL? Ou vai continuar fingindo que nada existe e que Copacabana Palace é Venezuela ou Cuba?” O post, que trazia atachada uma lista de movimentação suspeita de funcionários da Alerj incluindo dois parlamentares do PSOL, exibia também o nome do Zero Um, Flávio Bolsonaro.
Para alguns, foi só outro lapso de Carluxo. Para outros, indício da relação conflituosa que teriam os irmãos.
SALVEM AS BALEIAS —​E OS FATOS
O diretor do programa Que Mundo É Esse, da GloboNews, foi dos primeiros a registrar: @andrefran “O presidente acaba de compartilhar um vídeo falso. As imagens de matança são nas Ilhas Faroe, onde já estive registrando esse polêmico ritual. As ilhas são parte do Reino da Dinamarca, nada a ver com a Noruega. As imagens são da ONG internacional Sea Shepherd, que atua na região.”
No retuíte, a fake news – voluntária ou involuntária – do presidente: @jairbolsonaro “Em torno de 40% do Fundo Amazônico vai para as... ONGs, refúgio de muitos ambientalistas. Veja a matança das baleias patrocinada pela Noruega.”
CURTIÇÃO 
Do roteirista e blogueiro Vinícius Perez sobre o imbróglio envolvendo OrkutBüyükkökten, criador da finada rede social anterior ao Facebook, que teve sua conta no Tinder bloqueada durante uma viagem ao Brasil e se queixou pelo Twitter. @chinisalada “Trocamos esse homem de nome exótico e joie de vivre contagiante por um reptiliano pálido que nos faz trabalhar de graça para ele.”
Ivan Marsiglia
Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.
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