A semana que promete ser decisiva para os rumos
institucionais do país começou em clima de ansiedade no Twitter. A
inédita intervenção
presidencial na Polícia Federal na sexta-feira (16) gerou rumores
crescentes de que a lista
tríplice apresentada pelo Ministério Público Federal desde 2001 será
desrespeitada. Culminando com a informação, publicada pela coluna Radar,
da Veja, de que o escolhido seria um obscuro procurador amigo do filho
Zero Um, Flávio Bolsonaro.
O advogado @lucaspaulino registrou, ainda
no domingo (18): “Veja acaba de dar o furo que o PGR indicado por
Bolsonaro será Antônio Carlos Martins Soares, que não estava na lista do MPF,
por ser o preferido do filho Flávio. Esse aparelhamento de uma instituição de
Estado se fosse feito pela esquerda seria chamado de bolivarianismo.”
Ontem (19), a procuradora da República @hayssakmedeiros manifestou
preocupação em sua conta pessoal: “Um PGR escolhido fora da lista não garantirá
a independência e autonomia do MP. PGR não é órgão de governo. Desaparecendo a
independência do MP com um PGR submisso ao governo, perdemos todos e principalmente
a sociedade. #PGRListaTríplice”
Logo, informações sobre o currículo do escolhido começaram a
surgir na plataforma. O advogado @jnascim postou reportagem do
blog da jornalista Bela Megale, de O Globo: “Nome apoiado por Flávio
Bolsonaro para PGR, Antônio Carlos Simões Martins Soares recebeu R$ 74 mil
irregularmente, por @BelaMegale”
O blogueiro Ricardo Noblat, da Veja, também publicou:
“Favorito à PGR foi condenado pelo TCU por aposentadoria irregular. Tribunal
determinou, em 2013, que subprocurador Antônio Carlos Simões Soares retornasse
ao trabalho.”
O delegado da Polícia Civil e vice-líder do partido
Cidadania no Senado viu método nos últimos atos do presidente: @Sen_Alessandro “Não
adianta tentar tapar o sol com a peneira: as intervenções que o governo
Bolsonaro está fazendo no COAF, Receita, PF e PGR têm as piores motivações. É
um processo claro de desmonte das estruturas de combate à corrupção. Mas vemos
resistir! #unidoscontraacorrupçao #acordabrasil”
O colunista da Agência Estado e consultor do
Instituto Brasileiro de Economia da FGV ligou outra peça ao
quebra-cabeça: @FDantasEstado “Uma questão de extrema
importância é saber POR QUE ‘pessoas do entorno’ de Bolsonaro querem a
exoneração do atual delegado da Receita no Porto de Itaguaí, área de atuação de
milícias e tráfico. As reportagens que li não esclarecem este xis essencial do
problema.”
QUEM ABUSA AMIGO É
Na bolha governista, nem sinal de reprovação ao
aparelhamento da PGR —salvo um ou outro desencantado com a queda na bolsa de
apostas do nome do procurador Deltan Dellagnol, como o senador @alvarodias,
do Podemos. Em compensação, a revolta foi grande contra o projeto do Congresso
que atualiza a Lei
do Abuso de Autoridade, que pode ser vetado por Bolsonaro também nesta
semana.
No domingo (18), o deputado pelo PSL-SP e príncipe de
Orléans e Bragança expôs sua real indignação: @lpbragancabr “Pior
do que ter que avaliar o texto inaceitável da Lei de Abuso de Autoridade de
última hora foi testemunhar a condução imprópria da votação ao som dos gritos
desesperados dos deputados da oposição e do centrão. #Dia25EuVou”
Seu colega do PSL-RJ e vice-líder do governo na Câmara
prestou reverência: @carlosjordy “Não iremos aguardar o veto
presidencial. Eu e mais 10 deputados do PSL impetramos hoje mandado de
segurança para anular a votação do abuso de autoridade. O direito não socorre
os que dormem.”
O senador pelo PSL-SP, @majorolimpio,
esbravejou: “O povo pedindo justiça e segurança e o congresso resolve a
situação: cadeia para juiz, promotor e policial... imagina o palavrão que eu
pensei...”
O relator da proposta, o ex-senador pelo MDB-PR @requiaopmdb,
alvo de um virulento ataque nas redes, respondeu: “Alguns imbecis reclamam do
projeto de ‘abuso de autoridade’ porque querem indulgência plenária para seus
crimes, outros porque desejam acabar com o MP e o Judiciário. Fizemos o melhor
que pudemos para melhorar a justiça. Simples assim!”
GOTA D’ÁGUA
Naquela que vem sendo considerada nos meios jurídicos a mais
grave revelação contra a Lava Jato até agora, os diálogos indicando que
integrantes da força-tarefa buscaram
informações da Receita sem autorização da Justiça também movimentaram
o Twitter.
A emissora alemã Deutsche Welle repercutiu o caso,
destacando o envolvimento de um membro do atual governo: “Conversas obtidas
pelo Intercept mostram que Lava Jato buscou informações sigilosas da Receita
sem requisição formal, inclusive em ações contra Lula. Contato no órgão seria
Roberto Leonel, atual chefe do Coaf indicado por Moro.”
O advogado criminalista e conselheiro do Human Rights Watch pediu: @augustodeAB “Gravíssimas
as conversas divulgadas hoje pela @folha e pelo @TheInterceptBr. Sem meias
palavras: mostram alguns procuradores cometendo CRIMES. Para proteção do
próprio @MPF_PGR o afastamento de todos deve ser imediato.”
O colunista do jornal O Globo e comentarista
da BandNews FM avaliou: @andreazzaeditor “Será
difícil passar pano para isto aqui.”
CAIM E ABEL?
O tuíte do deputado do PSOL-RJ era para o ministro da
Justiça, mas foi o Zero Dois quem respondeu com uma provocação: @MarceloFreixo E
aí, @SF_Moro, você vai continuar nesse silêncio constrangedor
enquanto o seu chefe @jairbolsonaro desmoraliza a Polícia
Federal pra blindar o Queiroz e proteger a família? Prefere ficar calado pra
não melindrar o clã, ministro?”
Em resposta a @MarceloFreixo @SF_Moro e @jairbolsonaro “Aí
maluc(x) o que tem pra falar sobre estes casos dos amigos do PSOL? Ou vai
continuar fingindo que nada existe e que Copacabana Palace é Venezuela ou
Cuba?” O post, que trazia atachada uma lista de movimentação suspeita de
funcionários da Alerj incluindo dois parlamentares do PSOL, exibia também o
nome do Zero Um, Flávio Bolsonaro.
Para alguns, foi só outro lapso de Carluxo. Para outros,
indício da relação conflituosa que teriam os irmãos.
SALVEM AS BALEIAS —E OS FATOS
O diretor do programa Que Mundo É Esse, da GloboNews,
foi dos primeiros a registrar: @andrefran “O presidente acaba
de compartilhar um vídeo falso. As imagens de matança são nas Ilhas Faroe, onde
já estive registrando esse polêmico ritual. As ilhas são parte do Reino da
Dinamarca, nada a ver com a Noruega. As imagens são da ONG internacional Sea
Shepherd, que atua na região.”
No retuíte, a fake news – voluntária ou involuntária – do
presidente: @jairbolsonaro “Em torno de 40% do Fundo Amazônico
vai para as... ONGs, refúgio de muitos ambientalistas. Veja a matança das
baleias patrocinada pela Noruega.”
CURTIÇÃO
Do roteirista e blogueiro Vinícius Perez sobre o
imbróglio envolvendo OrkutBüyükkökten,
criador da finada rede social anterior ao Facebook, que teve sua conta no
Tinder bloqueada durante uma viagem ao Brasil e se queixou pelo Twitter.
@chinisalada “Trocamos esse homem de nome exótico e joie de vivre contagiante
por um reptiliano pálido que nos faz trabalhar de graça para ele.”
Ivan Marsiglia
Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é
autor de “A Poeira dos Outros”.
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