Da PIAUÍ
Suplente do PSL confirma reunião no Paraguai, mas diz que
não citou Bolsonaro
O empresário
Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olimpio (PSL-SP), confirmou ter
participado, no Paraguai, de reunião para tratar da venda de excedentes de
energia de Itaipu no Brasil. Negou, porém, ter se apresentado como senador, e
tampouco ter falado em nome do governo brasileiro ou da família do presidente
Jair Bolsonaro. Nesta quinta-feira, o governo do Paraguai cancelou o acordo que
havia pactuado com o Brasil sobre a venda de energia de Itaipu depois que a
oposição usou o caso para pedir o impeachment do presidente e do
vice-presidente paraguaios.
Em
entrevista à jornalista Mabel Rehnfeldt, do jornal paraguaio ABC
Color, o advogado José Rodríguez González relatou ter participado em
maio de uma reunião, em Ciudad del Este, com dirigentes da Ande (estatal de
energia daquele país) representando o vice-presidente do
Paraguai, Hugo Velázquez. Do encontro, segundo Rodríguez afirmou ao
jornal, participaram
também Giordano e um enviado da empresa brasileira de energia Grupo
Léros, potencial interessada em comprar energia paraguaia de Itaipu. Ainda
segundo Rodríguez, ambos se apresentaram como representantes do governo
brasileiro. “Não somente a mim, mas a todos que estavam na reunião”, afirmou.
Brasil e Paraguai
são sócios na hidrelétrica de Itaipu. Um tratado determina que a energia gerada
pela usina deve ser dividida entre os dois países, mas os paraguaios utilizam
uma parcela pequena de sua parte e vendem ao Brasil o excedente. Um adendo ao
tratado foi assinado pelos presidentes Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benítez. Ele
previa a renúncia de benefícios pelo Paraguai, o que aumentaria em 200 milhões
de dólares os custos para a Ande. A revelação dos termos do novo acordo
provocou crise no Paraguai e a renúncia do chanceler paraguaio. A oposição
abriu um processo de impeachment contra Abdo, que se viu obrigado a anular o
acordo.
O advogado Rodríguez
é apontado como um dos responsáveis por ter retirado do acordo um item que
permitia que o Paraguai vendesse seu excedente de energia a qualquer empresa no
mercado brasileiro. O texto que fora aprovado (agora sem efeito) beneficiaria
apenas empresas com endosso dos governos.
Ouvido
pela piauí nesta quinta-feira, Giordano disse que foi à
reunião como empresário. Questionado se havia contado ao Major Olimpio que
participou do encontro no Paraguai, o suplente afirmou: “Lógico que não, o
Major Olimpio não é meu patrão, não é meu sócio, não é nada. Não tenho de dar
satisfação para ele de onde eu vou. Não estou fazendo nada que tenha a ver com
o gabinete dele. Posso dar satisfação se for num evento público falar sobre
política, mas isso aí é uma relação minha, empresarial, particular, não vou
ficar dando satisfação para ele nem para ninguém.”
Giordano, também do
PSL, afirmou que a reunião no Paraguai “durou quinze minutos”. Ele disse não
lembrar da data, “em fevereiro ou em maio” e que não voltou mais ao país.
No dia anterior, porém, a reportagem tentou localizá-lo por telefone em seu escritório
em São Paulo. A secretária disse que o chefe não estava e que acabara de voltar
naquele dia de uma viagem ao Paraguai.
Giordano disse
à piauí que possui três empresas, uma de montagem de
estruturas metálicas, uma de extração de areia e uma “que mexe com madeira”.
Embora não atue diretamente com compra e venda de energia, disse que seu grupo
tem capacidade de atuar na área. Apresentou versões conflitantes sobre sua
participação na reunião no Paraguai. “Perguntaram se minha empresa tinha
interesse na infraestrutura de torres metálicas, caso o governo paraguaio fosse
vender [energia a empresas brasileiras].” Mais adiante na entrevista, a
versão mudou um pouco: “Na verdade eles nem perguntaram de qual empresa eu era,
ninguém me perguntou nada. Fui como empresário escutar. Imagina você vai numa
palestra, o cara está falando e você está ouvindo.”
O suplente de
Olimpio afirmou que não conhece “ninguém do Paraguai” nem da família Bolsonaro.
“Não tenho amizade com o Bolsonaro, nunca nem dei a mão para o Bolsonaro, não
tenho amizade com os filhos dele, não frequento a casa deles, não frequentam
minha casa, tenho relação zero com eles. A única coisa é que, em nome do
crescimento do país, resolvi apoiar o governo. E acredito muito no senador
Major Olimpio, estou no projeto dele, que para mim é um grande líder. Mas eu
sou um reserva sentado no banco, tenho que tocar minha vida, minhas
empresas.”
Indagado por que
então o advogado paraguaio teria citado seu nome como representante de
Bolsonaro, Giordano declarou: “Na reunião perguntaram qual é meu nome. O
cara pode ter dado um Google no meu nome e visto que sou suplente do Olimpio. O
cara pode ter fantasiado esse mundo de Alice aí. Tem muita gente que vive na
terra de Nárnia. Alguém quis levar vantagem em vaidade de alguma coisa, sei
lá.”
“Agora ninguém me vê
mais como um empresário de sucesso, me vê como um político. Tudo que eu fizer
agora eu estou fazendo lobby? É até desmerecimento a alguém como eu, que
começou vendendo hot dog aos 12 anos com a mãe na [rua] 25 de Março. É
brochante”, queixou-se o empresário de 46 anos.
Giordano também
negou qualquer envolvimento com a Léros em relação ao Paraguai. “Já trabalhamos
juntos antes, mas fui representando a minha empresa, a Léros estava lá
como outra empresa.”
O sócio-fundador e
diretor-executivo da Léros, Kleber Ferreira, disse que a empresa enviou um
representante à reunião atendendo a um chamamento público da estatal de energia
paraguaia, já que atua há muitos anos no setor, mas negou que ele ou Giordano
(a quem disse conhecer) tenham se apresentado em nome do governo brasileiro.
“Cada um foi ver possibilidade de negócios.”
O senador Major
Olimpio disse que seu suplente “nem conhece a família Bolsonaro, não tem
contato nenhum” com o presidente e cobrou “esclarecimentos sobre os pontos
dessa reunião, o que ele disse e o que não disse”. Se Giordano quis “parecer
ter uma influência que não tem”, afirmou o senador, “seria uma coisa absurda
demais, uma tremenda mentira”.
Olimpio relatou ter
questionado Giordano sobre o episódio e disse que o suplente negou que tenha
mencionado relações com a família presidencial.
“Eu nem sabia que
ele teria participado de reunião dessa natureza. Ele é meu amigo de muitos anos
da Zona Norte [da capital paulista] e ajudou na organização do partido
em São Paulo, mas não me meto nas atividades empresariais dele”, afirmou o
senador. “É lógico que ele não me deve satisfação das suas atividades empresariais,
da mesma forma que ele não tem vínculo com o exercício do meu mandato. Só
assume se eu renunciar ou morrer.”
Giordano cedeu uma
sala em seu escritório ao diretório do PSL na capital paulista e trouxe novos
membros à agremiação, alguns dos quais chegaram a se candidatar nas eleições de
2018. No Tribunal Superior Eleitoral, não consta doação do suplente à
candidatura do titular.
O diretor-geral
brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, disse que desconhece
Giordano, a Léros ou qualquer negociação envolvendo o governo brasileiro.
“Nunca ouvi falar. Não acredito que alguém tenha falado pelo governo”, declarou
Silva e Luna, ex-ministro da Defesa no governo Temer. Segundo ele, seus
auxiliares consultaram o Palácio do Planalto. “Também desconhecem
completamente. Se houve qualquer coisa dessas, a primeira pessoa a ser
informada seria eu”, afirmou o general.
Procurado, o
porta-voz de Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, não respondeu até a publicação
deste texto.
Repórter da piauí.
Na Folha de S.Paulo, onde trabalhou por vinte anos, foi repórter
especial e correspondente em Londres
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