E aí, veta ou não veta? As areias da ampulheta começam a
cair mais depressa, e dia 5 deste mês se encerra o prazo para que Jair
Bolsonaro sancione, vete ou sancione com vetos a famosa Lei de Abuso de
Autoridade, que poucos leram, mas todos odeiam.
Talvez não todos, mas principalmente os bolsonaristas. Esses
odeiam com força. A ponto de não entender exatamente as nuances do momento
atual, em que seu Mito se vê entre a cruz e a caldeirinha, ou seja: entre o
apelo da sua tropa pelo veto integral e as circunstâncias novas da política que
o levariam a desejar ser bem mais parcimonioso na tinta da caneta, seja ela
Bic, Compactor ou de que marca for.
A incompreensão dessa mudança do vento levou a turma do
verde e amarelo às ruas no domingo passado. Em número bem menor que em outras
oportunidades e ainda não cientes da divisão paulatina entre bolsonarismo e
lavajatismo, os manifestantes exalavam uma confiança completa no #VetaTudoBolsonaro.
Mesmo parlamentares do PSL estavam lá engrossando o coro,
como o senador Major Olimpio e a deputada Carla Zambelli.
Do outro lado da rua, os defensores da lei, em grande parte
deputados e senadores investigados na Lava Jato e em operações afins, bem como
ministros do STF, nunca foram tão vocais em defender abertamente a manutenção
da lei, admitindo quando muito um veto cosmético aqui, outro ali.
O relator Ricardo Barros (PP-PR) fala claramente na
existência de um acordo pelo qual Bolsonaro só vai vetar a proibição do uso de
algemas. Mais que isso seria encarado no Congresso como descumprimento da
palavra, passível de retaliação.
E é aí que reside o dilema presidencial – e a irritação
demonstrada por ele diante das pressões, no desabafo que fez na live semanal em
suas redes sociais ao dizer que quem quiser que vote na esquerda, e que não
aceitará ameaças.
E o Congresso tem bala para retaliar o presidente? Tem, e já
demonstrou. Na semana passada mesmo, houve um “esquenta” bem significativo para
o embate da Lei de Abuso de Autoridade: com votos de 323 deputados e 48
senadores, foi derrubado um veto de Bolsonaro a um dispositivo da lei que
atualiza o Código Eleitoral e pune denunciação caluniosa com objetivo
eleitoral.
Mais: comprar briga com o Congresso agora pode atrapalhar a
tramitação da indicação do filho 03 do presidente à embaixada do Brasil em
Washington. Os senadores já não se sentem confortáveis com a nomeação, tanto
que ela nem formalizada foi ainda. O road show do deputado por Washington antes
mesmo de ter seu nome submetido à Casa já agravou este mal-estar.
Um confronto direto ao vetar uma lei que nasceu no Senado
não é algo que vá ajudar. E Bolsonaro sabe, porque dar o filé aos filhos é algo
de que ele também entende bem.
Por fim, não escapa ao escrutínio de ninguém que queira ver,
e não passar pano, o fato de que o filho 01, Flávio, é senador e não assinou o
manifesto da bancada pelo veto total à lei. Por que será?
O grande diferencial deste caso e de dilemas anteriores
enfrentados por Bolsonaro – entre personalismo e republicanismo, governar para
os seus ou para todos, ter sua pauta implementada por decreto ou submetê-la ao
escrutínio do Congresso – é que este ele compreende bem. Trata-se de uma
escolha simples para seu léxico político bem limitado: agradar à sua massa ou
começar a perder apoio junto a ela justamente quando ele já se reduz
drasticamente no resto da sociedade, como mostram as pesquisas. Daí o nervoso.
*
Há exatos três anos estreei esta coluna no Estado, no dia seguinte à confirmação, pelo Senado, do impeachment de Dilma Rousseff. É uma honra renovada a cada quarta-feira e domingo ter este encontro com você neste espaço. Vamos juntos.
Há exatos três anos estreei esta coluna no Estado, no dia seguinte à confirmação, pelo Senado, do impeachment de Dilma Rousseff. É uma honra renovada a cada quarta-feira e domingo ter este encontro com você neste espaço. Vamos juntos.
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