Donald Trump promove conflito tecnológico, comercial e
diplomático com a China, a outra grande potência mundial; cria atritos com os
seus maiores aliados militares e diplomáticos, os europeus; espezinha os
vizinhos e grandes parceiros comerciais Canadá e México.
Nesse universo de desarranjos e hostilidades, a importância
da política e da economia do Brasil é periférica. A recente
ameaça americana de cobrar mais tarifas sobre o aço e o alumínio aqui
produzidos parece, pois, mais um dano colateral das ofensivas de
Trump.
O presidente americano não deve ter se dado ao trabalho de
considerar que sua atitude protecionista pudesse ofender ou desmoralizar um
congênere —Jair Bolsonaro— que tão sofregamente suplica um posto de aliado
preferencial.
Mais importante, o republicano não teve escrúpulo de causar
problemas para a economia brasileira. O caso torna explícito outro gargalo —a
conduta do atual Itamaraty.
Se Brasil é ninharia no jogo político de Trump, a política
de sacrifícios ou doações voluntárias em nome da conquista de uma suposta boa
vontade americana torna-se ainda mais contraproducente, além de tristemente
ridícula.
O país tem se isolado no cenário internacional, migrando
para a ilha de democracias iliberais. Perde antigos aliados e posições formais
e informais de prestígio e liderança ao se colocar em posição subordinada
pueril e inconsequente em relação aos EUA e ao programa de uma internacional
reacionária.
Não
parecem evidentes os objetivos pragmáticos de tais atitudes
canhestras. Pelo contrário, acumulamos constrangimentos como a frustração
da expectativa
criada em torno de um apoio americano ao ingresso na OCDE.
Aço e alumínio representam cerca de 14% das exportações
brasileiras para os EUA. Trata-se de menos de 2% das vendas do país. De imediato,
não se vê grande dano, embora as empresas envolvidas e seus trabalhadores não
possam dizer o mesmo. Mas se tornou razoável imaginar uma eventual ampliação
dos ataques americanos.
Apesar de afirmações genéricas sobre abertura comercial, o
governo não apresentou um plano palpável nesse sentido, o que causa incerteza
em uma economia travada também pelo futuro nebuloso.
Pior, o líder que é modelo para Bolsonaro faz pouco do
Brasil e descrê das vantagens do livre-comércio. Em tal cenário, não nos resta
chance de uma reação altiva.
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