A Polícia Militar foi a Paraisópolis para impedir a
realização de um baile funk. Um dos agentes ficou escondido atrás de uma parede
e, entre uma risada e outra, agredia com um pedaço de madeira os
frequentadores, que saíam do pancadão com as mãos para cima.
Um vídeo com essas imagens apareceu depois que nove jovens
morreram durante uma operação na favela paulista, no domingo (1º). A PM correu
para divulgar a informação de que a cena nada tinha a ver com a tragédia do fim
de semana. A gravação havia sido feita no dia 19 de outubro, na mesma região.
A ideia era rebater parte das críticas à atuação dos
policiais que encurralaram milhares de pessoas no episódio mais recente,
fazendo com que vítimas fossem pisoteadas nas vielas. Mas a resposta foi
esclarecedora por outro motivo. Comprovou que a truculência policial é um
método mais do que recorrente por ali.
Depois da morte dos nove jovens, o governador João Doria
convocou uma entrevista, lamentou o caso e afirmou que o estado “tem o melhor
sistema de segurança preventiva”.
O que se viu no domingo, porém, não tinha nada de
preventivo. Policiais disseram que perseguiam dois suspeitos. Atiraram bombas
de efeito moral numa área onde estavam mais de 5.000 pessoas. Cercaram os
frequentadores e bateram com cassetetes em quem já estava no chão.
Doria declarou que o baile funk nem deveria ter ocorrido e
que as mortes não foram provocadas pela polícia. Acrescentou que “a política de
segurança pública do estado de São Paulo não vai mudar”.
Um desavisado poderia imaginar que o tucano se vangloriava
de uma estratégia sofisticada de inteligência, com planos requintados para
desarticular grupos criminosos. Estava apenas atrás dos dividendos de um
discurso cada vez mais perigoso.
O paulista não é o único. O papo do “tiro na cabecinha” vem
acoplado a uma indiferença corriqueira em relação a vítimas inocentes. É essa
apatia dos governantes que patrocina a brutalidade vista em Paraisópolis.
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