As empresas brasileiras que têm negócios na Argentina
acompanham com expectativa as informações sobre a política econômica do novo
governo. Por enquanto, os investimentos estão congelados, disse uma dessas
companhias, porque o governo Alberto Fernández ainda é uma incógnita. Fala-se
que o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna poderia voltar ao governo para um
posto influente na área. Quem tem falado com o mercado é Guillermo Nielsen,
visto como pragmático.
O setor privado brasileiro acompanha preocupado a incerteza
na Argentina e o estranhamento entre o governo Bolsonaro e o que tomará posse
na Casa Rosada em 10 de dezembro. Ontem, no entanto, houve sinalizações dos
dois lados de haverá pragmatismo nas relações. Faltando dez dias para a posse,
o presidente eleito ainda não decidiu a sua equipe econômica. Disse que
anunciará tudo entre os dias cinco ou seis de dezembro. —Tem notícia para todos
os lados. Tem notícia de que voltará a ter política voltada para estimular
exportação, para assim atrair dólares, mas há também rumores de que haverá um
fechamento da economia.
Circulam informações de que pode dar um choque heterodoxo,
ou que ele é mais moderado em questões econômicas e busca um modelo como o de
Lula do primeiro mandato — afirma um executivo de uma empresa lá instalada e
que acaba de voltar de uma semana na Argentina tentando saber o que vai
acontecer.
O que dizem os que acompanham os acontecimentos no país
vizinho é que além do ministro da Economia será importante saber o que
acontecerá na área da energia, porque o grande ativo que o país pode explorar é
a área petrolífera e de gás de Vaca Muerta. Eles precisariam de um novo marco
regulatório na área de energia.
O governo Cristina Kirchner impôs tributos pesados sobre a
exportação. O governo Macri assumiu dizendo que iria acabar com a taxação sobre
o setor exportador, mas como em outras áreas, cumpriu o prometido pela metade.
Chegou a tirar todos os impostos sobre a exportação de carne. A soja tinha um
tributo em torno de 35%, ele reduziu um pouco, mas agora já voltou a subir. Na
carne, Macri também voltou a taxar. A Argentina reduziu muito a sua importância
no mercado global de carne bovina. O maior exportador é o Brasil.
Neste momento, está havendo uma forte alta do preço
internacional por causa do aumento da demanda chinesa. No Brasil isso tem
provocado até perturbação no abastecimento e uma alta de 35% só em novembro. A
gripe suína dizimou o rebanho suíno chinês e reduziu a produção em 12 milhões
de toneladas. Esse consumo está agora sendo direcionado para outros tipos de
proteína animal e o país tem buscado carne onde dá.
A Argentina pode aproveitar o momento e aumentar sua
exportação do produto. Com a alta do preço, o imposto não tirará a
competitividade. O cálculo é que os impostos sobre produção agrícola podem
arrecadar entre 1,5% e 2% do PIB. Na Argentina, o cargo de vice-presidente é
exercido conjuntamente com o de presidente do Senado. Isso significa que
Cristina Kirchner terá muita influência.
Seu grupo tem peso político, seu filho Máximo Kirchner será
líder do bloco peronista da Câmara, e seu ex-ministro Alex Kicillof será
governador de Buenos Aires. Sergio Massa, cuja conciliação com o grupo
kirchnerista aumentou a unidade do peronismo, vai ser presidente da Câmara.
Massa foi chefe da Casa Civil de Cristina. É pule de dez que
haverá muitos episódios de disputa de poder entre Fernández e Cristina no
governo. Mas haverá uma oposição forte, puxada pelo presidente Macri que
conseguiu, apesar da crise econômica, ter 40% dos votos.
Com todos os erros cometidos pelo governo Macri, há em
alguns pontos uma herança positiva. Ele reduziu o passivo energético, aumentou
a transparência dos índices de inflação, diminuiu o desequilíbrio na
conta-corrente. Também ampliou os mercados com os quais a Argentina negocia,
inclusive abrindo mercados para o setor de carne.
O novo governo terá que enfrentar uma inflação de 55%,
recessão e um pesado calendário de vencimento de dívidas. Para 2020, o país tem
US$ 37 bilhões de dívidas vencendo. O presidente eleito já disse que o valor é
impagável. Pelo menos nos termos negociados atualmente. Nessa dúvida sobre o
que virá, estão as empresas brasileiras que exportam para lá ou estão na
Argentina.
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