Bolsonaro turbina
retrospectiva do 1º ano com dados maquiados
O governo preparou um embrulho vistoso para divulgar o
balanço de realizações do primeiro ano de Jair Bolsonaro no
poder. O conteúdo do pacote, como se vê ao desatar o laço, é bem mais mixuruca
que o marketing presidencial.
A retrospectiva com as “principais entregas do governo”,
anunciada na segunda (23), é um compêndio das confusões administrativas do
Planalto. Há números maquiados, propostas que jamais serão aprovadas e até
manifestações de órgãos públicos sem nenhum efeito prático.
Uma análise feita pela Folha mostrou que
o governo
lista como um de seus feitos um resultado positivo de R$ 30,2 bilhões
nas contas públicas em janeiro. Bolsonaro tentou pegar carona numa herança
contábil da gestão de Michel Temer e escondeu o fato de que os cofres ficaram
no vermelho nos meses seguintes.O presidente nem precisava recorrer a essa
tapeação. Bastava mencionar que o rombo no Orçamento vem caindo em comparação
com anos anteriores. Mas a decisão de pinçar um dado revela a compulsão do
governo em distorcer o que for possível.
Bolsonaro incluiu na propaganda oficial uma medida
provisória que foi rejeitada pelo Congresso e perdeu a validade. O balanço
também foi inflado pela proposta de isentar de punição os militares e agentes
de segurança que cometerem crimes durante operações de garantia da lei e da ordem.
O projeto é considerado abusivo por deputados e senadores, que tendem a
engavetá-lo.
O Planalto lista como vitória o apoio
dos EUA à entrada do Brasil na OCDE, apesar de os americanos evitarem
movimentos efetivos nesse sentido. Estão lá, ainda, a prisão de Cesare Battisti (que
ocorreu na Bolívia) e a tal abertura da caixa-preta do BNDES (embora o
presidente do banco tenha admitido que não
existe mais nada para ser esclarecido).
O método adotado pelo presidente reflete seu interesse em
usar o megafone presidencial para fazer afagos a suas bases políticas, sem se
importar muito com realizações concretas. O ano de 2019 foi assim.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre
em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
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