A política sob Jair Bolsonaro inovou em alguns aspectos. Ele
é o primeiro governante desde a redemocratização a abrir mão de costurar
maiorias estáveis no Congresso. Seu algoritmo corrosivo destruiu até mesmo
a legenda
de aluguel pela qual foi eleito.
Algumas coisas, entretanto, não se alteraram. Apesar de
haver flancos para explorar, não se nota oposição ativa nem vocal.
O cercadinho da besta autoritária que habita o Executivo
está sendo mantido por lideranças silenciosas da Câmara e do Senado, agentes de
controle dentro da máquina estatal e organizações da sociedade.
Submergiram todas as forças partidárias derrotadas na
eleição passada e também as que cogitam se alevantar na próxima. Lula na cadeia
parecia galvanizar mais o público do que solto. Doria
descobre que a vida de governador de São Paulo também pode ser
dura. Huck
continua dissolvido no caldeirão. Ciro onde estará?
Já o destampatório
diário de Bolsonaro perpassa
tudo, mesmo sendo ele um dos presidentes com menos poder, de fato e de direito,
em 31 anos de vigência desta Constituição. Menos, no entanto, não quer dizer
pouco.
No Brasil destas últimas três décadas, a fala, a
prerrogativa de definir a agenda política, tem sido monopólio de quem dirige o
Palácio do Planalto. Seus opositores vivem a pão e água e semimudos, à espera
de uma janela eleitoral ou de uma erupção nas ruas.
Essa é uma das razões a tornar tão custoso perder uma
eleição por aqui.
Algo a observar, a esse respeito, são as especulações de
congressistas para retirar o veto à reeleição
dos presidentes do Senado e da Câmara. Sem a amarra, eles poderiam
comandar as suas Casas ao longo de todo o mandato do presidente da República.
Nessa hipótese poderiam também disputar em melhores
condições o megafone da política nacional e desobstruir, ao menos em certas
ocasiões, os canais que condenam a oposição ao silêncio.
Vinicius Mota
Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É
mestre em sociologia pela USP.
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