A economia cresceu um pouco mais do que se imaginava no
terceiro trimestre. O desempenho dos estudantes brasileiros é ligeiramente
melhor do que o da última avaliação em 2015. O PIB ainda está 3,6% abaixo do
ponto onde estava antes de entrar na recessão. Os dados dos alunos em ciências,
leitura e matemática ficaram estagnados na década, por erros dos governos anteriores.
Projeta-se para o PIB um crescimento de pouco mais de 1%. Na educação, os
temores são de que 2019 tenha sido um ano perdido.
Os indicadores da economia no terceiro trimestre foram
divulgados no mesmo dia em que saiu o resultado da avaliação feita no ano
passado com os estudantes de 15 anos pela OCDE em 79 países. É impossível não
olhar ao mesmo tempo para os dois conjuntos de dados. PIB e Pisa trazem alertas
diferentes, em tempos distintos, aos quais devemos estar atentos. Qualquer país
que pense em crescimento sustentado olha os números da educação com a mesma
atenção que dedica aos de produção, investimento e consumo.
O resultado do PIB foi bom. Esperava-se 0,4% e a alta foi de
0,6% no terceiro trimestre. O investimento subiu pelo segundo trimestre
consecutivo. A construção civil também está positiva. A indústria extrativa deu
um salto por causa do petróleo. Há também alguns dados decepcionantes, mas o
resumo de tudo é que os economistas começam a rever a previsão de 2020 para um
pouco mais de 2%. O ritmo é lento, mas o país está melhorando. O PIB ainda não
voltou ao nível pré-crise, do primeiro trimestre de 2014. Contudo, está 4,9%
acima do ponto a que chegou no quarto trimestre de 2016, depois de dois anos de
recessão forte.
O PIB perdido pode ser recuperado. Até uma década perdida na
economia pode dar lugar a um período de forte retomada. Uma geração perdida na
educação não se recupera. Os erros na economia produzem dores sociais, mas há
sempre a chance da recuperação, e a equipe econômica tem tentado acertar. Os
erros da educação fizeram o país perder o ano de 2019.
Os dados divulgados ontem pelo Pisa se referem a governos
anteriores. Houve melhora mínima em 2018 comparado com 2015 nas três áreas. A
avaliação do desempenho dos estudantes se faz a cada três anos e a próxima será
2021. Já perdemos um terço desse tempo, numa administração caótica no
Ministério da Educação, sem foco, sem conhecimento da natureza da agenda para
acelerar o país.
O governo Bolsonaro errou em várias áreas e continua errando.
É como se essa administração não se satisfizesse apenas com o fundo do poço. Ao
chegar lá, continua cavando. As últimas nomeações na área cultural mostram a
opção pela insanidade. Na educação, não há chance de acertar se for mantido o
ministro Abraham Weintraub. O que já vimos é mais do que suficiente. Ele não
entende de educação, não ouve quem entende, despreza os alertas e se ocupa
sistematicamente com falsas questões. Se o governo Bolsonaro quiser perder os
próximos anos deve manter esse ministro. Se almeja melhorar, ele deve ser
trocado por outro que entenda a missão desse cargo estratégico.
A desigualdade aumentou nos indicadores educacionais. Os
alunos de maior nível socioeconômico têm desempenho muito acima dos estudantes
de menor nível. Em leitura, a diferença é de 97 pontos. Como 35 pontos
equivalem a um ano letivo, é como se fossem dois anos e meio de diferença.
Apenas a metade dos alunos brasileiros atingiu o nível mínimo de proficiência
em leitura.
Quem pensa a economia de forma atualizada sabe que a
desigualdade brasileira é disfuncional e incompatível com um projeto
consistente de crescimento. A educação à deriva vai aprofundar a desigualdade.
Hoje, há várias entidades do terceiro setor que desenvolveram soluções para os
problemas da educação. Há consenso de que é preciso valorizar o professor, ter
uma boa política de alfabetização, aprender com os vários casos de sucesso no
próprio Brasil, estimular no jovem a visão de um projeto de vida para que ele
permaneça na escola.
Na economia, há consenso de que é preciso aumentar a
produtividade e a qualificação de trabalhadores para um mundo de mudança
acelerada na forma de produção. O Brasil pode limitar sua preocupação ao PIB do
próximo trimestre ou do próximo ano. Mas o que ele deveria fazer é olhar
seriamente para a educação se quiser ter um futuro econômico.
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