Com suas piscinas nas sacadas, uma para cada andar, o
Condomínio Penthouse ficou famoso por fazer fronteira com a comunidade de Paraisópolis.
Além de ser ícone do pior da arquitetura paulistana —e a concorrência é alta—,
o prédio se tornou um dos maiores símbolos do abismo social em São Paulo.
Com a péssima fama, é provável que alguns milionários tenham
abandonado o imóvel, o que justifica a quantidade de piscinas esverdeadas na
foto aérea. Mas, mesmo se demolissem o edifício, o que não seria uma má ideia,
São Paulo continuaria com seus inúmeros Penthouses imaginários.
Se de um lado temos a São Paulo capital cultural e
gastronômica, do outro vemos jovens de regiões pobres com poucas opções de
lazer, usando o tempo livre para dançar em bailes funk.
Bairros nobres, como Pinheiros e Vila Madalena, lideram o
número de reclamações por conta do barulho.
Mas o governo cria operações como Pancadão e Noite Tranquila
para reprimir festas na periferia. Como aconteceu em Paraisópolis,
responsável por apenas 0,64% das ocorrências.
Jovens
da classe média alta fazem uso livre de maconha e drogas sintéticas, como
MDMA, que até ganhou música e carinhoso apelido de Michael Douglas. Mas, para
as autoridades, lugar de traficante e drogado é na favela. E invade eventos da
periferia atirando bombas de gás, balas de borracha e dando golpes de cassetete
em inocentes.
O filho do governador João Doria organiza festa de
aniversário com fonte de jardim de Catuaba e show de funkeiro cantando “sou da
favela, ela é do asfalto”. Já seu pai define os pancadões como um “cancro que
destrói a sociedade”.
Esse mesmo governador se gaba dizendo que a polícia de São
Paulo é a mais preparada, equipada e bem informada. Mas releva quando nove
jovens de Paraisópolis são assassinados pela polícia enquanto se divertiam
dançando.
Diariamente, moradores da periferia são acuados, espancados
e mortos pela polícia. Do outro lado, vemos uma classe média e alta que acha
normal a vida do negro e pobre da favela ser assim. E que, em troca de uma
falsa sensação de segurança, do alto das sacadas de seus condomínios Penthouses
imaginários, autoriza a barbárie.
Flávia Boggio
Roteirista e autora do núcleo de humor da Globo
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