quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CONDOMÍNIO PENTHOUSE

Flávia Boggio, Folha de S.Paulo
Com suas piscinas nas sacadas, uma para cada andar, o Condomínio Penthouse ficou famoso por fazer fronteira com a comunidade de Paraisópolis. Além de ser ícone do pior da arquitetura paulistana —e a concorrência é alta—, o prédio se tornou um dos maiores símbolos do abismo social em São Paulo. 
Com a péssima fama, é provável que alguns milionários tenham abandonado o imóvel, o que justifica a quantidade de piscinas esverdeadas na foto aérea. Mas, mesmo se demolissem o edifício, o que não seria uma má ideia, São Paulo continuaria com seus inúmeros Penthouses imaginários.
Se de um lado temos a São Paulo capital cultural e gastronômica, do outro vemos jovens de regiões pobres com poucas opções de lazer, usando o tempo livre para dançar em bailes funk.
Bairros nobres, como Pinheiros e Vila Madalena, lideram o número de reclamações por conta do barulho.
Mas o governo cria operações como Pancadão e Noite Tranquila para reprimir festas na periferia. Como aconteceu em Paraisópolis, responsável por apenas 0,64% das ocorrências.
Jovens da classe média alta fazem uso livre de maconha e drogas sintéticas, como MDMA, que até ganhou música e carinhoso apelido de Michael Douglas. Mas, para as autoridades, lugar de traficante e drogado é na favela. E invade eventos da periferia atirando bombas de gás, balas de borracha e dando golpes de cassetete em inocentes.
O filho do governador João Doria organiza festa de aniversário com fonte de jardim de Catuaba e show de funkeiro cantando “sou da favela, ela é do asfalto”. Já seu pai define os pancadões como um “cancro que destrói a sociedade”.
Esse mesmo governador se gaba dizendo que a polícia de São Paulo é a mais preparada, equipada e bem informada. Mas releva quando nove jovens de Paraisópolis são assassinados pela polícia enquanto se divertiam dançando.
Diariamente, moradores da periferia são acuados, espancados e mortos pela polícia. Do outro lado, vemos uma classe média e alta que acha normal a vida do negro e pobre da favela ser assim. E que, em troca de uma falsa sensação de segurança, do alto das sacadas de seus condomínios Penthouses imaginários, autoriza a barbárie.
Flávia Boggio
Roteirista e autora do núcleo de humor da Globo
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