Fica cada vez mais claro, como tem sido praxe no atual
governo, que a busca por conciliação com os outros Poderes é fake.
Constatar isso é simples: toda vez que há um atrito com Legislativo e
Judiciário —o que se tornou regra, não exceção—, os “patriotas” e
“conservadores” convocam uma manifestação.
A próxima está marcada
para daqui a três domingos e atende a apelo do ministro do GSI, general
Augusto Heleno, o “radical ideológico”, como o apelidou o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Para Heleno, o que o Congresso
faz com o governo é chantagem, e não exercício da democracia e aplicação da
Constituição.
Nada mais providencial para o governo do que atiçar sua base
contra o Legislativo,
uma das pedras no sapato de Bolsonaro —a
segunda, o STF, também deve ganhar menção honrosa no ato. A tentativa do
Executivo de estender pontes aos dois Poderes costuma durar pouco.
Bolsonaro até fingiu se importar com a falta de articulação
política no Congresso e mudou algumas peças. Saiu o fiel escudeiro Onyx Lorenzoni (ex-Casa
Civil, atual Cidadania) e entrou um amigo, general
Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Na liderança do governo,
a deputada
Joice Hasselmann (PSL-SP)
perdeu o posto para o senador
Eduardo Gomes (MDB-TO).
Não funcionou, como dá para notar pela quantidade de
projetos do governo que são alterados ou travados pelo Legislativo. Fica a
reflexão: até que ponto Bolsonaro se importa em ter articulação fluida com os
congressistas? Muito pouco, parece.
Nesse contexto, as manifestações do dia 15, se não forem um
novo fiasco, podem reforçar a decisão do presidente de rejeitar o diálogo com
aqueles que não concordam com suas principais bandeiras fora do universo
econômico —as pessoas com bom senso, resumindo.
Vale lembrar que um dos panfletos do ato traz a sugestiva
frase “os generais aguardam as ordens do povo”. Falta pouco para o anacrônico
bloco do AI-5 ser colocado de novo nas ruas.
Danielle Brant
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